Duel (1971): suspense sobre rodas
Um vendedor é misteriosamente perseguido por um impetuoso camião, cuja identidade desconhece. É esta a premissa de Duel, um telefilme inicialmente reservado a uma única exibição no horário nobre de um canal americano. Porém, após o êxito da transmissão televisiva, Duel saltou para os grandes ecrãs de todo o mundo. Surgia assim o primeiro trabalho de relevo de Steven Spielberg, que, com apenas 25 anos, se começava a afirmar no circuito cinematográfico.
A trama foi inspirada num conto escrito por Richard Matheson: um relato de uma situação real de perseguição vivida pelo autor. O conto foi originalmente publicado na revista Playboy, mas só chegou a Spielberg através do seu secretário, um assíduo leitor da revista.
Mas existem mais caraterísticas que relevam Duel a outro patamar. No plano da representação, destaque para interpretação de Dennis Weaver, escolhido e imposto por Spielberg após o desempenho do ator em Touch of Evil, de Orson Welles. Na produção, o filme é recordista na rapidez em que foi concebido: doze dias e com um modesto orçamento de quatrocentos e cinquenta mil dólares, seguido à risca. Por fim, o enorme cuidado de Spielberg nos pormenores: de entre sete veículos diferentes escolheu um camião Peterbilt pelo simples facto de a sua dianteira se assemelhar a uma cara; durante a perseguição, o protagonista cruza-se com um carro de um serviço de exterminação de insetos chamado Grebleips (que é “Spielberg” ao contrário); a figura do vilão nunca é revelada ao público, assim como a voz, para dar um maior efeito de suspense ao espetador; o público “ouve” o pensamento do protagonista, aproximando-nos da personagem.
Tudo pequenas minúcias que nos provocam um crescente sentimento de paranóia e de terror, colocando-nos par a par com o protagonista e no meio de um traiçoeiro jogo de “rato e gato”.
Não há dúvida de que foi a partir deste filme que o culto a Spielberg começou, fenómeno que perdura até aos dias de hoje. Ainda assim, pela simplicidade e inteligência, Duel é memorável e destaca-se da restante cinematografia do realizador. Naïf, mas extremamente intenso, Duel é uma grande surpresa para quem o desconhece e um enorme prazer para quem o revê.