E o teu vizinho, também é judeu?
No passado dia 27 de novembro desloquei-me até a um dos meus sítios preferidos de sempre: o teatro. Se quiser ser mais específica devo dizer que fui mais precisamente ao auditório do Casino Estoril. E o que fui eu ver? – perguntam vocês. Tive então a oportunidade de assistir à peça “O meu vizinho é judeu”, encenada por Beatriz Batarda, a partir do texto de Jean-Claube Grumberg e com a interpretação de Bruno Nogueira e Miguel Guilherme.
Não seria estranho de esperar que uma peça onde estão em cena dois profissionais ligados ao humor e à comédia – sobretudo o Bruno Nogueira – despertasse risos do início ao fim. Foi isso mesmo que aconteceu. Aliás, eu estava bastante curiosa para ver como podia ser o Bruno Nogueira em palco, como ator e não como humorista, e a verdade é que não me desiludi.
A história remete-nos para dois vizinhos: Bruno Nogueira interpreta um homem dominado pelo poder invisível da sua mulher (que nunca aparece) e que, desesperadamente, procurando satisfazer a mesma, trazendo-lhe respostas curtas para perguntas demasiado grandes. Por outro lado temos o Miguel Guilherme que interpreta por sua vez um judeu de nascença (embora ateu) que é constantemente massacrado com as ideias pré-concebidas de todos aqueles que não conseguem abrir os seus horizontes àquilo que foge aos seus “padrões”.
Ao longo da peça assistimos a uma mudança de postura gradual do vizinho “não-judeu”: de uma certa repugna passamos a assistir a uma adoração e convertimento à religião judaica ao ponto de ele próprio se tornar mais obcecado com os costumes e rituais judaicos do que o próprio vizinho que é judeu por natureza.
Além disto, temos o cenário: toda a peça se passa na entrada do prédio onde ambos vivem. A cada encontro nos diversos dias há sempre uma pergunta a fazer e uma resposta a esclarecer. Assim se abre a discussão a questões sérias que ressuscitam a crise de ideais e de valores relativos ao conflito permanente do “nós e os outros”.
Num auditório com um ambiente acolhedor, o humor e as gargalhadas por parte do público eram contagiantes. Estamos a falar de um humor que não é forçado para conseguir pôr o público a chorar a rir, mas de um humor inteligente. Um humor que leva à reflexão sobre questões tão importantes como o racismo e os preconceitos em relação às diversas religiões. Torna-se importante a produção de conteúdos de entretenimento como estes para fazer o público português pensar um pouco mais a fundo sobre aquilo que está a acontecer atualmente, ou seja, e sendo mais precisa, a questão dos refugiados.
No passado dia 24 de novembro, terça-feira, realizou-se um ensaio solidário cuja receita total reverteu a favor da organização Famílias Como As Nossas, que é uma organização sem fins lucrativos e que tem como missão ajudar famílias em situações de crise humanitária urgente.
A peça vai estar em cena no auditório do Casino Estoril até ao dia 20 dezembro, de quinta a sábado às 21h30 e domingos às 17h. O preço do bilhete é único pelo valor de 16 euros.