Enter Shikari: The Mindsweep
Três anos depois de “A Flash Flood of Color”, os Enter Shikari lançam o mais recente álbum de estúdio, intitulado “The Mindsweep”. Qual é o avanço?
Descrever a sonoridade desta banda não é uma tarefa fácil. Não há propriamente um género específico no qual eles se enquadrem. Rock, post-hardcore, eletrónica e dance music são algumas das armas que os Enter Shikari têm no seu arsenal, em conjunto com uma enorme facilidade de misturar todos estes elementos.
Não é só pela enorme criatividade no que toca à fusão de géneros sonoros, mas também os temas que abordam nas letras. Relacionamentos falhados, carpe diem e todos os outros clichés tão típicos não fazem parte da escrita do vocalista da banda, Rou Reynolds.
O álbum abre com isso mesmo: uma brutalidade tremenda a nível vocal, com Rou a debitar letras de uma forma hostil, fazendo com que de imediato fiquemos atentos àquilo que nos está a ser transmitido. É quase como um resumo de tudo aquilo que o álbum vai abordar em cada música.
O sistema de saúde do Reino Unido sofre duras críticas na faixa “Anaesthetist”. E, mesmo que nenhum de nós resida nas terras de sua majestade, este e outros temas abordam assuntos com que facilmente as pessoas se identificam em todo o globo. As fortes letras com cariz político e sociológico são, sem dúvida, um dos maiores trunfos que a banda tem para nos oferecer neste álbum.
Mas um LP não é feito da lírica. Portanto, como é que este álbum se comporta em termos instrumentais? Há, sem dúvida, uma atitude muito mais agressiva: mais punk e crua. Mas existe uma falta de equilíbrio, que estava patente no álbum anterior. A banda varia múltiplas vezes entre o caos e a harmonia, sem ter um limite bem definido. Muitas faixas tentam “embalar-nos”, começando de uma forma mais serena, enquanto outras são valentes chapadas na cara.
É conquistada uma ambientação mais sinfónica e electrónica, que conta com um certo cataclismo e misticismo. Algo que a banda não tinha tentado até então, mas que resultou sem dúvida neste trabalho. O baixo e a guitarra continuam a complementar de uma forma sublime toda a electrónica que os acompanha, sendo que esta é, por vezes, demasiado intrusiva.
À parte de todos os singles que já haviam sido lançados pela banda, como “The Last Garrison” ou “Never Let Go Of The Microscope”, existe uma faixa que se destaca de todas as outras. A música “Torn Apart” é, pessoalmente, um dos temas mais surpreendente deste LP. Existe toda uma progressividade e construção cada vez mais viva, aliadas a um tremendo poder vocal que se vai desenvolvendo à medida que a faixa progride. É quase assustador o esforço que se sente na voz de Rou Reynolds neste tema, o que nos faz questionar como se vai sair em performances com uma voz que já se notava bastante esgotada recentemente. É, contudo, inegável o facto de este álbum ser um claro avanço em comparação com o CD anterior.