Artes Visuais e Performativas

Um caminho desenhado – Entrevista a Cátia Vide

Desde livros infantis até estampas de tapete: o que não falta ao nosso redor são exemplos de ilustrações. As artes plásticas são a paixão de muitos. E por que não transformar a paixão numa carreira? A ilustradora Cátia Vide revela, nesta entrevista à ESCS Magazine, que caminho percorreu até chegar à sua profissão atual, oferecendo ainda dicas para os aspirantes ao ofício. 

A entrevistada vive atualmente no Porto e trabalha como freelancer desde 2019. Participou em diversos projetos, de entre os quais se destacam as ilustrações de obras infantis. O livro Se os animais fossem aos jogos olímpicos (2020) recebeu uma menção honrosa pela 3×3 Magazine of Contemporary Illustration.

Na infância, desejava ter o tipo de trabalho que tem hoje em dia? Foi incentivada a percorrer um caminho artístico ou era “empurrada” para algo mais tradicional?

Sempre gostei do que faço, mas, na época, não sabia que se chamava ilustração e que era, de facto, uma profissão. Foi um percurso de descoberta árduo, mas constantemente gratificante.
No ensino secundário tive de escolher entre o que me fascinava, Artes, e o que todos diziam ser mais “seguro”. Hoje sei que o tal conceito de “seguro” não existe! 

Optei pelo que considerei, na altura, um meio termo: estudei na Escola Profissional do Infante, no curso de Comunicação, e lá deparei-me com a disciplina de Artes Gráficas. Adorei e, por isso, fez-me vir a frequentar o curso superior de Design Gráfico, no IPCA, onde conheci a Ilustração. E o que senti logo no primeiro dia foi… Eureka!

Teve alguma grande inspiração que a incentivou a seguir este caminho?

As professoras que tive na faculdade foram as minhas primeiras referências. Com elas aprendi imenso, até porque, além do ensino, nunca abandonaram a prática. O feedback que fui tendo deu-me coragem para praticar e melhorar.

O processo de uma nova criação é um trabalho árduo ou flui naturalmente?

Para mim, inicialmente, é sempre desafiante, mas depois flui naturalmente e com muito prazer.

O seu trabalho foi distinguido pela 3×3 Magazine of Contemporary Illustration, USA, e alguns dos seus livros infanto-juvenis receberam recomendações pelo Plano Nacional de Leitura LER+. De que trabalho mais se orgulha? Há algum que tenha sido mais desafiante? Porquê?

Não olho dessa forma para o meu trabalho. Penso em todos os meus projetos como um percurso; cada um deles fez-me crescer. Dediquei-me muito a todos, foram um desafio na altura em que os fiz e fico sempre empolgada pelo próximo para melhorar, arriscar e experimentar mais.

Trabalha desde 2019 como freelancer. Como foi o processo adjacente a essa mudança e por que aconteceu? Sempre foi o objetivo? Que dicas é que tem para quem também deseje ser freelancer na mesma área?

Sempre foi uma grande vontade, mas, com a incerteza de conseguir sobreviver unicamente da Ilustração, a solução que encontrei foi trabalhar como Designer Gráfica e, no tempo que me restava, continuar a prática da Ilustração. Entretanto, cansei-me da mecanização do trabalho a que me sujeitava na altura e procurei mais informação. Como na altura não me pude especializar na área, arrisquei aprender e praticar ao máximo, ainda que sozinha, mas procurando sempre o olhar crítico dos outros para crescer.

Do ponto de vista de alguém que trabalhou na área, não só em Portugal, mas também em Barcelona, como é o mundo da Ilustração em Portugal? Sente que o Ilustrador tem o reconhecimento merecido?

São muitos os Ilustradores portugueses que são merecidamente reconhecidos, tanto a nível nacional como internacional, e que nos representam muito bem lá fora. Contudo, é uma profissão desafiante e que exige muita resiliência. A título de exemplo, precisamos de uma Sociedade/Associação de Ilustradores para nos ajudar com burocracias, definir uma tabela de valores para os nossos serviços, etc. Noutros países já existe, o que é uma grande ajuda.

Por fim, tem alguma dica para os jovens que também queiram ser Ilustradores? Por exemplo, que características deve um Ilustrador ter?

Trabalhem muito para criarem um bom portfólio; conversem com Ilustradores; frequentem eventos de Ilustração; participem em concursos, exposições… E, acima de tudo, respeitem o trabalho dos colegas e ajudem-se uns aos outros. Há lugar para todos.

Via Instagram: @catiavide

Artigo revisto por Madalena Ribeiro

AUTORIA

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Uma vida sem arte e literatura seria impensável para Catarina. A aspirante a jornalista vê na ESCS Magazine a oportunidade perfeita para ouvir novas histórias e conhecer diferentes perspetivas. É sonhadora por natureza, mente aberta por convicção, e encontra-se atualmente a fazer de tudo para não acabar num trabalho de escritório.