Eu e… Luís de Camões
Não me lembro de não conhecer – de nome, claro – Luís Vaz de Camões. Isto é algo que qualquer português pode dizer, provavelmente; mas para mim o nome “Camões” sempre teve algo de especial. O meu avô, a pessoa que me passou a paixão pela escrita, amante da poesia e da Língua Portuguesa, sempre teve uma admiração enorme por este poeta do século XVI. Assim, desde pequenina ouvia os seus sonetos. Ainda me lembro a emoção que senti da primeira vez que estive ao lado da sua sepultura, no Mosteiro dos Jerónimos.
Como passamos bastante tempo do nosso ensino básico e secundário a falar de Camões, já todos conhecemos bem, ou pelo menos por alto, a história da sua vida. Sabemos que apesar de pertencer à nobreza vivia sempre com grandes dificuldades; que teve acesso a estudos, provavelmente em Coimbra; que se exilou em África, onde perdeu o olho; que escreveu “Os Lusíadas” e depois os apresentou a D. Sebastião, recebendo uma pensão por eles. Assim, vou antes tentar dar a conhecer alguns aspectos de Camões que não sejam tão familiares para a maioria das pessoas.
Para começar, todos conhecemos no mínimo razoavelmente “Os Lusíadas” e reconhecemos os poemas mais icónicos, como “As armas e os barões assinalados….” ou “Estavas, linda Inês, posta em sossego…”. Mas a sua poesia lírica já não é tão famosa. Este, “Cativa”, é dos mais conhecidos e era dos preferidos do meu avô. Aqui está a primeira estrofe:
Aquela cativa
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais fermosa.
Este também era dos seus preferidos, e muitas vezes o ouvi dizê-lo de cor:
Descalça vai para a fonte
Leonor, pela verdura;
vai formosa e não segura.
Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai formosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
cabelos de ouro o trançado,
fita de cor de encarnado…
tão linda que o mundo espanta!
chove nela graça tanta
que dá graça à formosura;
vai formosa, e não segura.
Também desconhecido por muitos, e dos mais fascinantes para mim, é o facto de Luís de Camões ser descendente de Vasco da Gama: a complicada árvore genealógica mostra-o.
Temos ainda a frase que Camões terá dito antes de morrer – pelo menos, assim se conta -, quando se vivia a crise da sucessão por D. Sebastião ter morrido: “Ó pátria amada, ao menos morro contigo”.
Não há muito de novo que se possa dizer sobre alguém cuja vida é narrada vezes e vezes sem conta nas escolas e que é um ícone do nosso país. Mesmo assim, espero ter conseguido filtrar aspectos que tenham escapado ao conhecimento das massas.
Luís de Camões é, para mim, um poeta único que não pode ser e nunca foi igualado. Qualquer poema seu que leia deixa-me maravilhada com a riqueza das palavras, da construção das frases, das rimas… É um tesouro que nos chega através de quatro séculos, o que é incrível. Camões é uma das poucas pessoas na História que conseguiu tornar-se imortal.
AUTORIA
A Inês Rebelo tem 19 anos e está no primeiro ano de Jornalismo.
Começou a ler com 4 anos e a escrever as suas criações com 9, sendo que foi sempre esta a sua grande paixão. Fez teatro durante oito anos, gosta de ler e, embora não interesse a ninguém, tem três tartarugas. Também gosta de cantar, mas para isso não tem muito jeito. Na ESCS MAGAZINE integra as equipas de Correcção Linguística e de Literatura, e escreve com o Antigo Acordo Ortográfico.