Opinião

Excisão Feminina – Um Golpe de Submissão

Todos os dias saem notícias sobre uma panóplia de assuntos, desde a política até ao futebol, passando pelos crimes passionais e pelo sensacionalismo, que faz correr “tinta” em tantos jornais, revistas e telejornais. A verdade é que a banalidade em que vivemos hoje em dia faz cair em esquecimento o facto de que todos os dias há atendados contra a vida humana, principalmente da mulher.

Um desses atendados à integridade, física e mental, da mulher, e que em muitos países ainda não é considerado crime nem lá perto é da excisão feminina ou, por outras palavras, a mutilação genital feminina, o qual consiste na remoção do clitóris, geralmente a meninas entre os 11 e os 12 anos. O pior de tudo é que estas meninas de seguida são costuradas e só podem descoser-se aquando do ato sexual e, no fim do mesmo, terão de ser novamente costuradas.

Esta é uma prática comum nos países africanos, indonésios e asiáticos, e a principal “razão” para tal atrocidade acontecer é a de que, para satisfazer os homens, as mulheres têm que ser 100% “puras” e, por isso mesmo, se tiverem o clitóris não estão aptas para casamento e são consideradas impuras. Mais do que palavras, os seguintes números dirão tudo:

 

  • 200 milhões de raparigas e mulheres, ainda vivas, já sofreram a Mutilação Genital Feminina;
  • Destes 200 milhões, pelo menos 44 milhões dizem respeito a raparigas até aos 14 anos;
  • Na Indonésia, cerca de 50% das raparigas, até aos 11 anos, sofreram de MGF e, na Somália e na Guiné, o mesmo ocorre em cerca de 97-98% das mulheres, entre os 15 e os 49 anos;

Observamos os números e pensamos que, por mais horrenda e nociva que seja esta prática, ocorre apenas em países ancestrais que acreditam que a pureza da mulher se encontra no seu corpo e não nos seus atos/comportamentos. No entanto, e por mais infeliz que seja esta realidade, em Portugal houve pelo menos 80 casos de mutilação feminina em 2016 e mais de 6.000 mulheres que vivem em território nacional já sofreram do mesmo.

A verdade é que, por natureza do ser humano, muitos são aqueles que pensam que apenas acontece noutros países e nós, enquanto uma nação, não temos poder para alterar o rumo destas tradições, lá está, porque tradições e hábitos são complexos e difíceis de modificar… No entanto, 15.000 comunidades de 20 países onde ocorre a excisão feminina já declararam que estão a abandonar essa prática e pelo menos 5 países já aprovaram legislação para criminalizar a prática!

A UNICEF tem o objetivo de erradicar a Mutilação Genital Feminina até 2030 e é óbvio que, por cada linha e agulha que estas mulheres sofreram ao longo dos anos, não podemos simplesmente virar costas ou fechar os olhos só porque não acontece, a nosso entender e por ignorarmos o facto, aqui em Portugal ou noutro país.

E, de facto, se houver união por parte dos vários povos, a UNICEF e o mundo irão conseguir atingir o seu objetivo em 2030!

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