Cinema e Televisão

Família Instantânea: uma comédia, um drama e uma história que dá que pensar

Este é um filme que retrata uma questão pouco abordada no cinema: a adoção. Mas em vez de a transformar num conto de fadas, Sean Anders mostra a dura realidade que é adotar uma criança. Esta história pode divertir-nos, mas também nos pode despertar para um problema.

“Família instantânea” é uma comédia dramática. Mas é também um filme sobre uma história verídica. Sean Anders era já um realizador de renome quando tomou a precipitada decisão de adotar uma criança. Ter filhos era um desejo já antigo do realizador e da sua mulher, mas a instabilidade financeira não os permitiu concretizar esse sonho a tempo. Quando a tão desejada estabilidade veio, a idade já tinha passado. Não que já não fosse possível terem filhos biológicos. O problema estava no facto de Anders não querer ser um “daqueles pais velhos”. Sean Anders é um realizador habituado a fazer comédias, e talvez por isso a solução para o seu problema veio no decorrer de uma “piada”. “E se adotássemos uma criança de 5 anos?”. Não era para levar a sério, mas a sua mulher levou. Algum tempo depois recebem três crianças em casa e de quem ainda hoje cuidam.

O mesmo acontece ao casal Pete e Allie, as personagens principais do filme. A vida era estável para esta família, mas havia um vazio por preencher. A aventura começou para Pete da mesma maneira que começou para Anders: com uma piada. Depois de tomada a decisão, o casal iniciou todo o processo de adoção. Primeiro com uma formação, depois com uma feira onde as crianças são apresentadas e por fim com a ida das três crianças, Lizzie, Lita e Juan, para a casa do casal. Um processo que, apesar de parecer linear, não tem nada de fácil. Por várias vezes, Pete e Allie confrontam-se com o medo de não estarem à altura do desafio e de terem tomado uma decisão precipitadamente. Sean Anders conta, numa entrevista ao jornal Observador, o porquê de este ser um processo tão difícil de gerir: “De repente, há três pessoas desconhecidas em casa… É uma situação incrivelmente estranha e difícil. São pessoas que ainda não amas e eles também não te amam, além disso, não te conhecem. E precisas de agir no dia-a-dia como se fosse uma família a funcionar. É uma situação estranha e desconfortável para todas as partes envolvidas.” Ao longo do filme, as personagens mostram como se lida com esta estranheza até que todos se sintam uma família.

Uma imagem com mesa, pessoa, interior, alimentação

Descrição gerada automaticamente
Fonte: C7nema, retirado de: http://c7nema.net/critica/item/50001-instant-family-familia-instant%C3%A2nea-por-jorge-pereira.html
Créditos: Paramount Pictures

“Família Instantânea” é, no fundo, uma forma leve de retratar um tema mais sério e que merece a nossa atenção. Ainda assim, não deixa de ser cativante, muito graças ao desempenho dos atores, tanto daqueles que já têm bastantes anos de experiência como é o caso de Mark Wahlberg (Pete) e Rose Byrne (Ellie), como também das crianças que ainda agora entraram para este mundo: Isabela Moner (Lizzie), Gustavo Quiroz (Juan) e Julianna Gamiz (Lita). Ainda assim, existem alturas onde a comédia aparece demasiado forçada para suavizar o momento. Mas a história está construída de uma forma credível, ainda que em certas alturas seja previsível, ela nunca deixa de ser interessante. A adoção é um tema que precisa de se livrar dos tabus de que é alvo e este filme é um grande passo em direção a esse objetivo. Além disso, todo o processo é explicado de uma forma simples, o que pode ajudar alguns casais que tenham a adoção em mente a tomar uma decisão mais consciente e com a noção das dificuldades que terão de enfrentar.

Sean Anders conseguiu transformar a sua história de vida num exemplo para todos e produzir um filme que, ao mesmo tempo que diverte, também transmite uma mensagem importante de reter. O próprio realizador descreve o filme de uma forma descontraída na entrevista ao Observador: “Eu e a minha mulher rimo-nos muito durante todo este percurso. Adotar as três crianças foi a melhor coisa que nos aconteceu. E queria transmitir esse positivismo [no filme]”. “Família Instantânea” não é uma comédia para rir às gargalhadas nem um drama de levar as lágrimas aos olhos, mas tem a dose certa de emoção para ser uma excelente escolha para uma tarde de cinema em família.

Foto thumbnail:

Fonte: Cinemas NOS, retirado de: https://cinemas.nos.pt/Filmes/Pages/familia-instantanea.aspx

Créditos: Paramount Pictures

Artigo revisto por Catarina Santos