Florida Project (2017)
Depois de se ter dado a conhecer ao grande público por ter filmado um filme inteiro apenas com telemóveis (Tangerine, de 2015), o realizador Sean Baker volta a mostrar a sua capacidade de fazer muito com pouco no filme sobre o qual escrevo este mês, Florida Project.
Desta vez Sean Baker adotou uma abordagem mais tradicional a nível de cinematografia, optando por utilizar câmaras mais “condizentes” com o que é habitual em Hollywood. O que continua a ser visível é a marca de algum amadorismo e marginalidade em relação aos filmes de elevado orçamento que têm marcado panorama cinematográfico, e aí está algo que apenas se pode louvar, pois esse “amadorismo” só pode ser visto como uma lufada de ar fresco que ajuda a demarcar a obra de Sean Baker.
Florida Project passa-se inteiramente na Flórida, mais precisamente em Orlando, casa do famoso Disney World, que alimenta os sonhos de muitos míudos e até alguns graúdos; no entanto não é no mundo encantado criado pelo universo Disney que este filme se desenrola. É sim nos subúrbios desta cidade turística, numa zona marcada por inúmeros hotéis e complexos turísticos baratos, e é aí que encontramos as personagens deste filme.
As duas protagonistas são uma mãe, Halley (Bria Vinaite), e uma filha, Moonee (Brooklynn Prince). Ao longo do filme vamos vendo como as duas fazem frente aos inúmeros desafios que a vida lhes vai apresentando.
A protegê-las, de forma quase paternal, encontramos o gerente do motel ao qual elas chamam casa, Bobby (Willem Dafoe), que vai contornando as regras do próprio motel de forma a garantir que os vários moradores de longa duração que ali habitam não percam o único teto que conhecem e que conseguem pagar.
O que este filme melhor faz não é demonstrar as dificuldades que esta pequena família enfrenta ou como o faz, mas sim demonstrar como quer Moonee quer a sua mãe vão encontrando forma de se divertirem no meio de um conjunto de situações nada fáceis.
Assim, vamos acompanhando as brincadeiras e travessuras de Moonee e seus amigos no decorrer de um verão passado às portas de um destino de sonho, mas que para ela é inacessível.
Tremendamente humano, este é um filme que nos leva a criar uma ligação com as personagens à medida que as vamos conhecendo e é, acima de tudo, um bom exemplo de como com orçamentos bem mais reduzidos do que os dos famosos block-busters se consegue fazer filmes sobre o que realmente importa, as pessoas e as suas vivências.