George Martin, o Beatle Honorário
Poderá uma carreira ser mais bem definida por uma citação? “Pensei: ok, estamos todos a tirar fotografias do que acontece. Mas não temos de tirar uma fotografia, podemos pintar”, afirmou George Martin, perante a afirmação de que a qualidade de um produtor se media pela sua capacidade para reproduzir da forma mais fiel possível o som tocado pelos músicos.
Em 1962, decidiu, pela primeira vez, chamar a estúdio uma pequena banda de Liverpool, conhecida apenas a nível regional, depois de ouvir uma cassete enviada pela mesma.
Após ter começado as gravações, Martin rapidamente perdeu interesse enquanto a banda tocava Besame Mucho e foi para a cantina, deixando os engenheiros de som a tomar conta do recado. O clique deu-se quando começaram a tocar Love http://escsmagazine.escs.ipl.pt/wp-admin/users.phpMe Do e um dos produtores foi a correr chamá-lo. O que se passou a seguir já é história: uma amizade e crescimento simbiótico com os Beatles, a banda que definiu a sua carreira e foi, inquestionavelmente, definida por George Martin.
Mas o que levara Martin a assinar com uma banda cujo talento inato não reconheceu inicialmente? Por um lado, as vozes cantadas em harmonia, invulgares no início dos anos 60. Porém, foi o charme pouco polido, uma confiança desmedida e um sentido de humor, desrespeitoso na medida certa, que o convenceu.
Reza a lenda que no seu primeiro encontro, Martin, a ilustração perfeita de um gentleman inglês, sempre bem vestido e cuidadosamente penteado, terá perguntado à banda se estava tudo como pretendiam ou se era necessária alguma alteração. Ao que George Harrison terá respondido: “Bem, para começar há essa tua gravata!”.
Nascido no norte de Londres, na zona de Highbury, a 3 de Janeiro de 1926, George Martin começou por estudar em diversas escolas da mesma área, tornando-se membro da Royal Navy entre 1943 e 1947, embora sem nunca entrar em combate na II Guerra Mundial.
Seguiu-se a sua formação clássica em música: piano e oboé na Guildhall School of Music and Drama. Sendo que logo após terminar o curso começou a trabalhar no departamento de música clássica da BBC e na EMI antes de assumir a Parlophone em 1955.
George Martin, denominado muitas vezes como o quinto Beatle, foi determinante ao conseguir pôr ordem no caos criativo da banda, ao materializar as suas ideias e traduzi-las de maneira a que o público compreendesse. Martin colocou-se na música não só enquanto produtor, mas também enquanto músico, em canções como In My Life, que incluem um solo de piano seu.
Após o fim dos Beatles, Martin continuou a trabalhar como produtor, assinando os álbuns a solo de Paul McCartney e Ringo Starr, mas também de Pete Townshend, dos The Who, Jeff Beck, dos Cheap Trick, de Ella Fitzgerald, dos America, da Mahavishnu Orchestra, dos Ultravox e de bandas-sonoras como: Goldfinger para 007 – Live And Let Die, sendo também um talentoso maestro.
Enquanto, em 2006, supervisionava a banda sonora para uma adaptação dos Beatles ao Cirque du Soleil, Martin sentou-se com o Las Vegas Sun e afirmou “Eu acho que os Beatles são tão bons que vão estar connosco por gerações, até ao meio do próximo século. Eles não são apenas grandes músicos mas também grandes escritores, como Gershwin, Rodgers ou Hammerstein. Eles estão lá na história, e os Beatles estão lá na história, também. Eles estarão lá daqui a 100 anos. Mas eu não irei lá estar”. Após mais de 700 discos produzidos e um impacto intemporal na música, penso que seja seguro afirmar que George Martin não poderia estar mais enganado.