Opinião

Gracinha e a mochila McNamara

Com algumas aventuras da Gracinha espalhadas por aí, acho que já perceberam o quão desastrada esta moçoila consegue ser sem fazer o mínimo esforço para tal. Há sempre uma porta que a impede de atravessar de uma divisão para outra. Há sempre um objecto afiado que lhe gosta de dar festinhas. Há sempre uma pedra que se mete no caminho. No entanto, há poucas mochilas que gostam de desafiar as leis marítimas. E, como é óbvio, se há uma mochila por aí que é esgrouviada só poderia pertencer à Gracinha.

É verdade, desta vez não foi a Gracinha que se deixou, voluntária ou involuntariamente, envolver numa teia meticulosamente cozida por um mau timing e descoordenação. Foi só uma ligeira onda que envolveu a mochila da pequena moçoila num apertado abraço. No fundo, a água estava a sentir-se ligeiramente agitada e a mochila da Gracinha, tão prestável quanto a sua “dona”, decidiu que estava na hora de partir para a aventura e experimentar o mundo do surf. Sem prancha, diga-se, mas isso é um mero pormenor. Vá, vou rebobinar para poderem compreender o porquê do acto de pura rebeldia da mochila wannabe McNamara.

O Sol escondia-se entre as nuvens, mas dava para sentir o seu brilho. Embora o céu estivesse nublado, não chovia e estava uma temperatura relativamente agradável na rua. E havia uma Gracinha, de mochila às costas, a passear com uma amiga. Vamos chamar-lhe Caldónimo. Então, a Gracinha e a Caldónimo decidiram ir passear para o Terreiro do Paço e, posteriormente, para a Ribeira das Naus. Riram, andaram e, para poderem meter a conversa em dia mais calmamente, sentaram-se mesmo ao pé do rio. Quando se sentaram tiraram as respectivas mochilas das costas e decidiram metê-las no chão. O que, mais tarde, provou ser um erro. Um grande erro… Enfim, mas as moçoilas lá continuaram no parlapié.

E a água vinha e ia; e ameaçava-as com os seus movimentos mais agressivos, mas pensaram que esta estava só a fazer bluff. Ora bem, como devem calcular, a aguinha não estava só a fazer bluff. Estava à espera do momento certo para apanhar as suas presas: as mochilas. A água, ao se aproximar, deveria sentir o doce cheiro dos cadernos e dos telemóveis enquanto pensava no seu ataque. Após ondas e ondas de especulação, veio uma que, aos olhos da mochila da Gracinha, era mesmo perfeita para começar uma carreira de renome no mundo do surf improvisado. Ou então, a pequena moçoila é simplesmente tão descoordenada, mas tão descoordenada, que quando a Caldónimo a avisou de que iriam ser atacadas por uma onda assim mais para o cheia limitou-se a tirar os pés do chão, abandonando a sua mochila e deixando-a vulnerável às tentações surfistas.

Escusado será dizer que a viagem de regresso a casa foi bastante interessante. Isto porque, para além de ter que andar com uma mochila molhada às costas, a Gracinha quase que ia caindo (clássico, eu sei) no Terreiro do Paço enquanto dizia algo do género à Caldónimo: “está visto que não posso andar contigo na rua!”. E é isto, meus amigos. Por isso, se algum dia quiserem ir passear para a Ribeira das Naus deixem as vossas mochilas em casa, onde estarão protegidas dos perigos dos desportos aquáticos. Ou então, não deixem as mochilas perto da água. Isso é capaz de ser bem pensado.

CRÓNICA - Gracinha e a mochila McNamara (corpo do artigo)

AUTORIA

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Joana Ochôa, a pequena Lambreta, nasceu em 1996 e estuda Jornalismo. A escrita tornou-se um refúgio aos seus 14 anos e desde então que não dispensa pôr os seus pensamentos e sentimentos numa folha de papel. Ou mais. Em maio de 2014 decidiu, finalmente, criar um blog: "A Paragem da Lambreta". É uma rapariga distraída, que diz e escreve «cenas».