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Halt and Catch Fire: A tecnologia também tem um coração

“Deixem-me começar fazendo uma pergunta.”

É desta forma que começa Halt and Catch Fire , uma das séries mais underrated de sempre, que chegou ao fim após quatro temporadas que deslumbraram os críticos e os fãs . Apesar de a série ter terminado no dia 14 de outubro nos EUA, só no dia 29 é que os fãs portugueses que a acompanhavam na AMC Portugal se puderam despedir.

Halt and Catch Fire, inicialmente, começa nos anos 80, com Joe MacMillan (Lee Pace), um carismático e misterioso ex-executivo de vendas da IBM, a juntar-se a Gordon Clark (Scoot MacNairy), um engenheiro falhado, e a Cameron Howe (Mackenzie Davis), programadora cheia de ideias, para criar uma revolução no mundo tecnológico dos computadores. É este o trio de protagonistas que rapidamente se torna num quinteto, com a cada vez maior presença na narrativa por parte de Donna Clark (Kerry Bishé), mulher de Gordon e frustrada com a vida que ambos têm, e de John Bosworth (Toby Huss), um homem de negócios que supervisiona a construção do computador.

Apesar de, no início, ser como quase todas as outras séries, isto é, não é a melhor, mas também não é a pior, a meio da sua primeira temporada ganha um fôlego enorme, melhorando de tal forma que acabamos a temporada a pedir por mais.

Com  a segunda temporada, dá-se uma mudança de 180 graus na narrativa da história. O foco passa a ser mais a relação entre Donna e Cameron, que criam uma parceria, do que a relação entre Joe e Gordon. E é a partir daqui que a série passa a ser uma das melhores. Este foco permite à série libertar-se de tentar replicar o sucesso de Mad Men, à qual fora comparada inicialmente devido ao seu enigmático protagonista, ao mesmo tempo que introduz uma mecânica refrescante à narrativa.

Temporada após temporada, cada uma consegue superar a outra, até chegarmos à quarta e última: um verdadeiro apogeu e um marco na série. Simplesmente perfeita.  Em 4 anos, tornou-se numa das melhores de sempre.

Ao longo destas temporadas todas, apesar do grande foco na tecnologia, havia algo sempre subjacente ao desenvolvimento tecnológico. Quer na 1ª (mas não tanto), quer na 2ª, 3ª e 4ª, pudemos vislumbrar que quaisquer progressos tinham sempre o mesmo intuito: aproximar as pessoas. O denominador comum eram as pessoas. Foi através desta missão que os laços entre as personagens se foram desenvolvendo, chegando-se a um ponto em que cada um perdia um pouco de si…um pouco da força que os motivava quando havia desavenças.

Poderíamos ser tentados a culpar certa pessoa pela quebra da relação, mas, face ao irrepreensível desenvolvimento das personagens, não nos é possível culpabilizar uma só parte por esta rutura.

Mesmo assim, a tecnologia serve como um veículo para a conexão entre pessoas, criando, desta forma, comunidades quer online, quer offline. Além disso, existe uma procura insaciável por aquilo que te completa. A tecnologia passa a fazer uma grande ponte entre a forma como as personagens se sentem e aquilo que elas desejam sentir.

Por muito esquisito que possa parecer, apesar de a série ser sobre tecnologia, a sua alma residia nas relações interpessoais e na procura daquilo que todos procuramos.  Foi este foco que a distinguiu de todas as outras séries no panorama televisivo, além de ter conseguido que, em apenas 4 temporadas (cada uma só com 10 episódios), contactassemos de uma forma única e completa com as personagens. A atuação dos atores e a química entre eles também o possibilitou, mas, se não fosse a mestria do argumento, por mais que os atores se esforçassem, parte da empatia provocada nos espectadores ter-se-ia perdido.

Concluindo, devido às pessoas por detrás dela, a tecnologia também tem um coração.