Hitchcock: Três Sugestões do Mestre do Suspense
Alfred Hitchcock nasceu a 13 de agosto de 1899 e faleceu a 29 de abril de 1980, com 80 anos. Embora fosse natural do Reino Unido, ao mudar-se para os EUA obteve dupla nacionalidade. Realizou mais de 50 filmes entre 1922 e 1976, pelos quais ficou conhecido com o “Mestre do Suspense”.
Este título não lhe fora atribuído por acaso: Hitchcock foi pioneiro na utilização de técnicas que despertam no espectador fortes sensações de ansiedade e inquietação. Exemplos dessas técnicas são: a manipulação da banda sonora, quer seja na sua intensificação ou na sua dispensa por completo, como é possível observar na longa Os Pássaros (1973); os ângulos escolhidos para filmar e as edições estratégicas para dar um toque de naturalidade às obras. Tudo isto contribui para criar a atmosfera intensa que tanto lhe é caraterística.
De entre as mais de 50 obras deste realizador, selecionei três das que considerei mais importante destacar. O critério não foi o facto de serem os meus filmes preferidos, os mais desconhecidos ou os que melhor venderam quando estrearam. A minha escolha foi baseada nas peças que mais revolucionaram o panorama cinematográfico e que são de visualização obrigatória para todos os amantes da 7ª Arte. Para quem já conhece o trabalho deste senhor, pode aproveitar para rever alguma destas recomendações.
Janela Indiscreta (Rear Window), 1954
O filme retrata a vida do fotojornalista L.B. Jefferies após ter partido uma perna num acidente de trabalho – sentado numa cadeira de rodas o dia inteiro. A única atividade que lhe oferece algum tipo de distração é observar a vizinhança através da lente da sua máquina fotográfica.
Uma noite, Jeff observa um dos seus vizinhos a ter comportamentos suspeitos, ficando, assim, com a desconfiança de que houve um homicídio no prédio da frente. Para resolver este mistério, o protagonista pede auxílio à namorada, Lisa Carol Fremont, e à sua enfermeira, Stella, que toma conta dele enquanto inválido. Juntas vão até à cena do alegado crime para desvendar o que realmente aconteceu.
Na verdade, a resolução deste mistério nem é realmente o mais importante neste filme. É mais utilizado como fio condutor do que outra coisa. A relação entre Lisa e Jeff e o papel passivo deste em relação ao que o rodeia são os verdadeiros pontos principais de toda a ação.
Lisa, interpretada por Grace Kelly, é a rapariga considerada “perfeita” dentro dos padrões da época e Jeff é um homem com medo de se comprometer. O desenrolar do filme mostra a posição de espetador de Jeff em relação ao que o rodeia. Apenas habituado a observar, este é incapaz de interagir com o que se passa à sua volta. Há quem diga que Hitchcock queria com isto propor uma metáfora para os tempos da televisão, onde as pessoas se sentem impotentes e apenas destinadas à observação.
O filme tem um desenvolvimento lento, com posicionamentos de câmara que fazem parecer que o espetador faz parte da ação e está enclausurado em casa a ver o mesmo que o protagonista.
Janela Indiscreta tem uma duração de 112 minutos e é a cores. Conta com as performances de James Stewart (Jefferies), Grace Kelly (Lisa) e Thelma Ritter (Stella) nos papéis principais.
A Corda (The Rope), 1948
Esta é uma das obras menos creditadas do realizador. É também o mais antigo dos três filmes que aqui vos sugiro. De 1948, este é o primeiro filme a cores de Hitchcock e tem a duração de apenas 80 minutos.
A narrativa é relativamente simples: dois antigos estudantes de Columbia, Brandon e Philip, assassinam um dos seus colegas, simplesmente para provarem que são seres intelectualmente superiores e que conseguem cometer o crime perfeito. Depois de o estrangularem com uma corda, escondem o corpo numa arca que se encontra no apartamento da dupla.
Brandon, para celebrar o grande feito, tem a ideia de dar uma festa no seu apartamento e de convidar todas as personalidades próximas ao recentemente falecido Daniel. Esta ideia começa a correr mal quando Philip cede à pressão e o ex-professor de ambos, Rupert Caddel, desconfia de que os seus estudantes possam ter levado longe demais os seus ensinamentos.
Este filme vale a pena ser visto, pois, além de ser de curta duração, desenvolve um diálogo brilhante sobre a vontade que os seres humanos têm de fingir que são Deus e as consequências que isso pode ter. Hitchcock inova não só na narrativa, pois revela os assassinos logo nos primeiros segundos da longa, como também na realização: o filme é inteiramente gravado no mesmo espaço e tem a duração correspondente ao tempo real, ou seja, o tempo que se passa na história é o mesmo que o filme demora.
Tem também aparência de ter sido gravado apenas num take, quando, na verdade, foi gravado em dez, pois as câmaras da altura não conseguiam gravar mais de 10 minutos seguidos de vídeo. Todas as cenas são simétricas e os cortes escondidos aproveitam lugares estratégicos, para dar a impressão de ser apenas um longo take. É visível aqui o perfecionismo de Hitchcock.
Conta com John Dall e Farley Granger nos papéis de Brandon e Philip, respetivamente, e mais uma vez com James Stewart, desta vez no papel de Rupert Cadell. Este é o único filme desta lista que não tem uma musa de Hitchcock. O realizador era conhecido por colocar mulheres, principalmente loiras, em lugares de destaque nos seus filmes. Neste isso não aconteceu.
A Mulher Que Viveu Duas Vezes (Vertigo), 1958
Encerro esta lista com o filme de maior duração dos três. Com 128 minutos, estrela Kim Novak como Madeleine Elster/Judy Barton e James Stewart como John Ferguson.
John Ferguson é um polícia reformado com vertigens, devido a um trauma numa missão. Um dia, um homem rico pede-lhe que investigue a sua mulher, pois receia que esta o possa andar a trair devido aos seus estranhos comportamentos. Com a investigação, Ferguson descobre coisas que achava impossíveis até à data. Não posso desvendar mais do enredo deste filme, pois é nele que reside grande parte do mistério.
Escolhi também esta longa como sugestão, pois é o meu filme preferido do realizador. Tem, discutivelmente, um dos melhores e mais surpreendentes plot twists de sempre e explora também cenários obscuros da mente e das relações humanas.
A edição e a luz são fatores que contribuíram para o facto de cada frame do filme ter a beleza que tem; recomendo-o nem que seja apenas pela questão estética.
Notas Finais
Hitchcock é o homem que deixa toda a gente ansiosa ou até aterrorizada com pouco ou nenhum tipo de carnificina. Fazer isso não é propriamente fácil, requer um grande trabalho psicológico. E é mesmo isso que torna os filmes deste realizador nas obras-primas que são. A juntar a esse fator estão o trabalho de câmara, a edição e o argumento à frente do seu tempo.
Recorria também à utilização de um elenco muito cerrado, pois era perfecionista e queria saber ao certo o resultado que iria obter de cada ator. A sua escolha preferida era James Stewart, como foi possível verificar nos exemplos acima, pois, segundo uma entrevista à filha do realizador, Stewart representava o homem comum, fácil de relacionar pelos espetadores que na altura tinham acesso aos cinemas.
Apesar de estes filmes ainda serem uma criação do homem branco dos anos cinquenta, não deixam de ter uma grande carga psicológica e filosófica que permanece intemporal até aos dias de hoje. Posto isto, convido-te a assistir a estas obras e, se gostares, procura outras de entre o grande espólio de Hitchcock. Caso nunca tenhas visto e gostes de um bom thriller, vê Psycho (1960), pois é obrigatório para todos os amantes de cinema. Não o incluí na lista, pois é o mais conhecido de todos os filmes deste autor e quis destacar outros dos seus trabalhos.
Diverte-te a conhecer o mundo de Alfred Hitchcock!
PS: Aproveita para encontrar as cameos!
Artigo redigido por Marta Engenheiro
Artigo revisto por Adriana Alves
Fonte da imagem de capa: Silver Screen Collection
AUTORIA
A Marta Engenheiro frequenta atualmente a licenciatura em Jornalismo e tem como objetivos ser locutora de rádio, dobradora de desenhos animados e apresentadora do Festival da Canção. Adora a sua gata, mas como não pode escrever só artigos sobre ela diverte-se também a falar de arte.