Indo eu, indo eu, a caminho do museu (virtual)
A pandemia da Covid-19 entrou, de rompante, na vida de todos nós, sem bater à porta ou tocar à campainha. Nunca as plataformas digitais foram tão utilizadas como durante este período, quer seja para reuniões de trabalhos, quer seja para aulas ou até lazer.
A possibilidade de visitar um museu de forma virtual (e gratuita) não é uma coisa nova, mas voltou em força durante a pandemia. Poderá ser um incentivo a uma visita posterior, in loco. Lembra-te: embora esta seja uma alternativa à visita presencial, não procura, de modo algum, ser a sua substituta – os equipamentos culturais encontram-se abertos e a cumprir as regras de segurança sanitárias.
Seja para alimentar a tua curiosidade ou para matar saudades, apresentamos-te algumas sugestões de museus da capital que podes visitar a partir do sofá, numa época em que nos recomendam ficar em casa para diminuir os riscos de contágio. A grande maioria encontra-se disponível através da milagrosa app Google Arts & Culture, que nos permite aceder a milhares de imagens de alta resolução (até em realidade virtual!) de obras de arte expostas em centenas de museus, não só em Portugal, mas também no resto do mundo!
Esperamos que desfrutes das nossas sugestões e que tenhas, acima de tudo, uma boa conexão com a Internet. Dá preferência ao Wi-Fi, para que não fiques sem dados móveis, e a um dispositivo móvel (como um smartphone), que te permita usufruir da experiência em pleno. Clica no nome dos museus, por cima das imagens, para acederes ao conteúdo sobre cada um dos museus, incluindo a respetiva visita guiada virtual.
Museu Calouste Gulbenkian – Coleção do Fundador e Coleção Moderna
Calouste Gulbenkian era um apaixonado por arte. Esta visita virtual dá-te a conhecer as duas coleções do museu homónimo, a Coleção do Fundador e a Coleção Moderna. Aqui, reina o ecletismo e há obras de arte para todos os gostos.
A Coleção do Fundador, tal como o nome indica, é o resultado do acervo de Gulbenkian de peças adquiridas em vida e que incluem, entre outros, itens do Antigo Egito e do Oriente Islâmico; e ainda obras de artistas como Turner, Monet e René Lalique. A Coleção Moderna leva-nos numa viagem desde o final do século XIX até à atualidade – terás a oportunidade de conhecer obras de Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros e Paula Rego.
Museu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Embora os dois museus se localizem em edifícios diferentes na zona de Belém – o Museu Nacional de Etnologia “protege-se” atrás do Estádio do Restelo e o Museu de Arte Popular está encostado ao Rio Tejo –, encontram-se ligados e, por essa razão, a visita virtual é realizada a ambos.
O primeiro é uma jóia da antropologia portuguesa e expõe peças representativas de povos de oitenta países, de entre os cinco continentes. O segundo é constituído por instrumentos musicais, trajes e bordados, alfaias agrícolas, objetos de cerâmica e ourivesaria popular. Estes museus, que contêm uma história que se encontra ligada ao período do Estado Novo, destacam-se pelo fantástico património etnográfico que albergam. Fazem, sem dúvida, parte da identidade popular portuguesa.
Museu Nacional dos Coches (Novo Edifício & Antigo Picadeiro Real)
A história do Museu dos Coches inicia-se no Antigo Picadeiro Real, que funcionou como o primeiro edifício museológico, desde 1905, por iniciativa da rainha D. Amélia, esposa de D. Carlos I. No entanto, devido à falta de espaço para expor toda a coleção, que foi crescendo exponencialmente ao longo dos anos, e à necessidade de melhores condições para se preservarem as viaturas, a maior parte da coleção foi transferida para um novo edifício, mais moderno e amplo, localizado a poucos metros daquele que foi o museu.
O Museu Nacional dos Coches alberga cerca de 140 veículos, datados dos séculos XVI ao XIX, num desfile temporal de ostentação e de beleza. Entre eles destacam-se os três monumentais coches que integraram a embaixada que Portugal enviou a Roma, ao Papa Clemente XI, banhados em talha dourada e com iconografia alusiva aos Descobrimentos. Outro dos highlights da coleção é o Landau do Regicídio, que ganhou este nome porque era nele que seguia a família real quando, a 1 de fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram assassinados, em pleno Terreiro do Paço. As marcas das balas disparadas ainda são visíveis na viatura.
Não, os azulejos não são overrated. E não, nunca ficarão fora de moda. Além do facto de serem soberbamente bonitos e de, por vezes, nos contarem histórias – quadrado a quadrado –, continuam a fazer parte da identidade nacional e a ser um carimbo português, identificável em qualquer canto do mundo.
O impressionante Museu Nacional do Azulejo encontra-se alojado no antigo Mosteiro da Madre de Deus, do início do século XVI. Um dos ex-líbris é a igreja que podes ver na imagem, que é revestida de azulejos barrocos, azuis e brancos, e decorada com talha dourada. Este museu é a casa de cerca de trezentos mil azulejos, sendo que os mais antigos datam da segunda metade do século XV. De que é que estás à espera para o conhecer?
Torre de Belém & Mosteiro dos Jerónimos
A Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos, classificados como Património Mundial pela UNESCO, surgem, aqui, como símbolos indissociáveis de Lisboa, de Portugal e da época histórica dos Descobrimentos Portugueses. São vizinhos e teriam, inevitavelmente, de surgir nesta listagem de sugestões de “mãos dadas”.
Estes dois edifícios constituem o apogeu do minucioso estilo Manuelino. No Mosteiro dos Jerónimos destacam-se o claustro (na fotografia), os portais sul e ocidental e ainda a igreja – que consta dos cenotáfios de Luís de Camões e de Vasco da Gama; e dos túmulos dos reis D. Manuel I, o patrocinador desta obra, e de membros da sua família. Do outro lado, a acenar ao Mosteiro dos Jerónimos permanece a Torre de Belém, antiga guardiã militar da barra do Tejo e da cidade de Lisboa.
Ninguém diria que se trata de um projeto inacabado cuja obra inicial muitíssimo ambiciosa acabou por não ser terminada, porque a família real teve de fugir para o Brasil, em 1807, no seguimento das invasões francesas.
O sumptuoso Palácio Nacional da Ajuda é um espetáculo de cores vivas, de ornamentação majestosa e de luxo. Em Lisboa, é o único que ainda consegue conservar a disposição e a decoração das suas salas ao gosto do século XIX. Localizado no topo de uma rua íngreme, na colina da Ajuda – a subir, nenhum santo ajuda, certo? Dá-te por contente por, desta vez, nem teres de sair do teu sofá. Que sorte a tua!
O Panteão Nacional transmite uma sensação de grandeza e de paz. Quiçá tenha sido com base nesses dois aspetos que a Igreja de Santa Engrácia foi escolhida para ser a última morada de grandes personalidades da História portuguesa, acolhendo os túmulos de Manuel de Arriaga, Almeida Garrett, Humberto Delgado e de Amália Rodrigues, entre outros, procurando preservar a memória coletiva.
Além de nos possibilitar a oportunidade de visitar o interior da igreja e das salas tumulares, a plataforma Google Arts & Culture leva-nos até ao terraço do Panteão, onde somos presenteados com uma vista que, aliada ao rio Tejo e a Lisboa – “menina e moça” –, é de tirar o fôlego.
Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA)
O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) é um dos mais importantes museus nacionais. O acervo conta com cerca de quarenta mil itens, datados do século XII ao XIX, nas áreas da pintura, escultura, ourivesaria e artes decorativas da Europa, de África e do Oriente.
Embora a visita virtual não permita que te sentes nestes bancos em frente ao ex-líbris do MNAA, os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, podes ficar a conhecê-los, assim como a outras obras de referência através do teu sofá – por agora!
Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC)
O Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) fica no coração de Lisboa, integrando-se de forma harmoniosa e adequada no cosmopolitismo da capital. A energia contagiante do MNAC apresenta-te um capítulo da história da arte moderna e contemporânea portuguesa, desde a segunda metade do século XIX até à atualidade.
A Google Arts & Culture fará com que te percas pelos seus corredores e com que “tropeces” em obras de artistas emblemáticos como Columbano Bordalo Pinheiro, Abel Manta e Alfredo Keil.
Casa das Histórias Paula Rego | Cascais
Quer se ame ou se odeie, a verdade é que a irreverência de Paula Rego (patente, principalmente, nos seus quadros) dá que falar. Foi a própria que decidiu que o espaço que albergaria algumas das suas obras não teria a designação de “museu”, com receio de se tratar de um conceito enfadonho para muitos.
Surgiu, assim, a Casa das Histórias Paula Rego, em 2009, projetada pelo arquiteto português Eduardo Souto de Moura, vencedor de um prémio Pritzker. Esta visita virtual permitirá que conheças algumas das obras da artista, nesta que é a sua casa – e não é que parece mesmo uma casa? Até tem chaminés!
Museu Condes de Castro Guimarães | Cascais
O palacete dos Condes de Castro Guimarães, cujas origens remontam à viragem do século XIX para o século XX, parece que foi arrancado de um verdadeiro conto de fadas! Conjuga diferentes estilos arquitetónicos, culminando numa profusão interessante e que não passa despercebida.
Na visita destacamos o órgão secular da Sala da Música, assim como o respetivo teto, decorado com os brasões de armas dos antepassados do Conde Manuel de Castro Guimarães; a Biblioteca, onde se encontra a Crónica de D. Afonso Henriques, um manuscrito iluminado do século XVI, de Duarte Galvão, com uma das mais antigas representações da cidade de Lisboa (pela data, falamos do período anterior ao terremoto de 1755!); e ainda a vista espetacular sobre a enseada de Santa Marta, o Farol com o mesmo nome e o Oceano Atlântico.
Quem é que não se lembra de ouvir falar deste complexo no Memorial do Convento, de José Saramago? Localizado no distrito de Lisboa, o Real Edifício de Mafra – assim classificado enquanto Património Mundial da UNESCO – é constituído pelo paço real, pela basílica, pelo convento, pelo Jardim do Cerco e pela Tapada de Mafra.
Nesta visita virtual, temos apenas (apenas…!) a oportunidade de conhecer o magistral Palácio Nacional de Mafra, que foi construído por ordem do Rei D. João V, no século XVIII. É considerado por muitos o monumento do Barroco mais importante em Portugal, tendo sido a sua construção possível através do ouro que veio do Brasil. A sua magnífica biblioteca, que conta com trinta e seis mil volumes, é, sem sombra de dúvida, a protagonista da visita e o ex-líbrisdeste complexo monumental.
Artigo revisto por Andreia Custódio
AUTORIA
Uma pessoa de muitas paixões. Por isso, licenciou-se em Informação Turística, está a terminar o Mestrado em Jornalismo e quer tirar Doutoramento em História Contemporânea. A ideia de ter uma só carreira durante a vida toda aborrece-a. A Inês gosta de escrever, de concertos, dos The Beatles, de Itália, de conduzir e dos seus cães. Sonha em visitar, pelo menos uma vez, todos os países do mundo.