Cinema e Televisão

Isto não é um filme: Quando a Sétima Arte abre portas aos escsianos

É certo e sabido que a ESCS é (re)conhecida pela multidisciplinaridade que oferece aos seus estudantes. As opções são (quase) infinitas e há mil mundos por descobrir – um deles é o mundo do cinema! Sabias que há alumni de vários cursos que enveredaram por um percurso ligado à Sétima Arte? A ESCS Magazine conversou com Jaime Lourenço e Catarina Gonçalves, que, com orgulho e alguma nostalgia à mistura, partilharam as suas respetivas experiências.

Interesso-me por Jornalismo desde que me lembro de ser pessoa. Quem o afirma é Jaime Lourenço, professor na Universidade Autónoma de Lisboa desde 2019 e investigador na mesma e no ISCTE-IUL. Nasceu em Castelo Branco, no ano de 1993. Há dez anos, em setembro de 2011, decidiu partir para Lisboa: “A ESCS foi a minha primeira opção. Já tinha assistido ao E2 quando ainda estava no ensino secundário e percebi logo que aquela era a escola que eu queria”.

Ingressou na Licenciatura em Relações Públicas e Comunicação Empresarial (RPCE), uma vez que não entrou na sua primeira opção – Jornalismo, claro –, por meras centésimas. Finalizou o curso de RPCE sem nunca largar a sua grande paixão. Durante a sua primeira etapa de formação na ESCS, continuou a colaborar com publicações de Castelo Branco e com revistas de cinema e foi, ainda, apresentador e assistente de produção e redação do programa E2, outro núcleo da ESCS. Depois, decidiu ingressar no Mestrado em Jornalismo.

A grande surpresa surgiu no final do seu ano de Licenciatura, quando Gonçalo Amorim, seu colega de RP, tomou a iniciativa de criar a ESCS Magazine e convidou Jaime Lourenço para ser editor da secção de Sétima Arte, cargo que assumiu entre 2012 e 2015. No que diz respeito a este desafio, guarda muito boas memórias. Chegou a ir a alguns festivais e fez a cobertura da 4.ª Edição dos Prémios Sophia, promovidos através da Academia Portuguesa de Cinema, no dia 2 de abril de 2015, a data em que o cineasta português Manoel de Oliveira faleceu. Uma coincidência agridoce.

Jaime Lourenço tornou-se mestre em Jornalismo, através da publicação do estudo de caso “Um Olhar sobre o Jornalismo de Cinema na Televisão Portuguesa: O Caso do Cinebox da TVI24”, depois de ali ter realizado um estágio de sete meses. O seu trabalho académico foi o primeiro, em Portugal, a ser realizado sobre jornalismo de cinema. Desde então, já foram realizadas outras pesquisas, mas que tomam a sua tese como principal referência.

Fotografia cedida por Jaime Lourenço

A par, a primeira grande investigação que está a ser conduzida na mesma área é aquela que se encontra a desenvolver no âmbito do seu Doutoramento em Ciências de Comunicação, no ISCTE-IUL, tendo uma bolsa financiada e apoiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Ao longo do seu percurso profissional, Jaime organizou, ainda enquanto discente do segundo e último ano do Mestrado em Jornalismo, a conferência “Comunicar o Cinema”, que teve lugar na ESCS, contando com vários convidados ligados à Sétima Arte, como jornalistas, professores e cineastas. Além disso, coordenou a rubrica cultural do jornal “Reconquista (Navegações), trabalhou na Warner Bros. Television Production e na RTP, nos programas “Agora Nós e “Eurovisão 2018 – Todos a Bordo. Foi membro da 4ª edição da “Academia RTPe também colaborador em várias publicações como a revista Premiere, a revista online Metropolis ou o jornal Ensino Magazine.

Outro marco interessante da sua carreira (ao ouvir esta última palavra, Jaime franze o sobrolho, admitindo que lhe faz alguma confusão) teve lugar em 2014, quando publicou o seu primeiro livro, “Jaime Lourenço – 10 Anos em Retrospetiva, tratando-se de uma coletânea de artigos publicados por si.

Fotografia cedida por Jaime Lourenço

Apesar de nunca ter abdicado completamente do jornalismo de cinema (frisa que não se deve fazer referência ao mesmo como “jornalismo cinematográfico”), Jaime, que é atualmente professor da disciplina de Televisão, nunca pensou gostar tanto da profissão de docente. O escsiano diz-se contente com o seu percurso e diz que a sua visão de vida é ir aprendendo com os desafios que lhe aparecem.

E, afinal, o que significa a ESCS para Jaime? A ESCS, para mim, é uma segunda casa. É também aprendizagem e conhecimento. Para alguém que se encontra tão ligado ao cinema, quais são as suas principais referências cinematográficas? «É muito difícil, quando gostas muito de uma coisa, escolheres os melhores. Mas… “Rei Leão”, “Moulin Rouge” e “Um Homem Singular” fazem parte do meu TOP3, por agora. Podes colocar um “disclaimer”, dizendo que a opinião vai mudando, à medida que a vida acontece», sorri o escsiano.

Catarina Gonçalves é natural de Cascais, no concelho de Lisboa. Tem 29 anos e uma página na IMDb. Frequentou a Licenciatura em Audiovisual e Multimédia (AM) entre 2010 e 2013, depois de um ano em Engenharia Informática: “Queria algo mais virado para o cinema e para a criatividade. A informática, apesar de ter um lado técnico, não era minimamente criativa”. As suas pesquisas por um novo curso levaram-na até AM, a sua única opção, pois era mesmo aquilo que queria e de que andava à procura. Ainda tem um brilho nos olhos e o sorriso de quem sabe que tomou a decisão certa.

Catarina vive em Londres desde 2014, onde partilha casa com uma das suas antigas colegas de AM. Mistura algumas palavras ‘inglesadas’ no seu discurso em português, o que é perfeitamente normal para quem já emigrou há tantos anos. Mas como é que foi lá parar? A partir do momento em que percebeu que os efeitos especiais constituíam uma área do cinema na qual era possível trabalhar, decidiu lutar pelo seu sonho. Na altura, tinha algumas disciplinas opcionais direcionadas para aquele setor e até fazia a cenografia virtual nos ecrãs verdes do E2: “Foi aí que percebi que é isso que eu gosto de fazer: olhar para o ecrã verde e ver mais coisas. Sabia que queria fazer efeitos especiais.”

Fotografia cedida por Catarina Gonçalves

Uns meses depois de terminar a Licenciatura em AM, voou até ao Reino Unido com as suas poupanças, o seu talento e o apoio da mãe, com o objetivo de completar uma pós-graduação de seis meses: “Advanced Compositing for Visual Effects Course”. O plano inicial era investir na sua formação e voltar para o país. No entanto, depois de ter tido a oportunidade, no fim daquele curso, de fazer uma ronda por algumas empresas britânicas e de mostrar alguns dos seus trabalhos, o telefone tocou: era a Double Negative, uma grande empresa de efeitos especiais com escritórios em todo o mundo, à qual se atribuem filmes como “Inception”, “Ex Machina” e “Interstellar”. Não havia como dizer que não.

Catarina Gonçalves foi, então, contratada como runner: “Tratava das facilities da empresa, ou seja, se alguém precisasse de cafés numa reunião, eu levava-os. Se alguém fosse trabalhar durante o almoço, eu ia comprar a sua refeição. Enquanto eu estava a fazer aquilo, fazia networking e conhecia outras pessoas”. Foi progredindo na carreira até chegar à posição de compositor: “Consiste em fazer com que elementos que não são reais pareçam que foram filmados pela câmara, como explosões, personagens que não existem, alguém a voar… É fazer com que tudo aquilo pareça que aconteceu mesmo durante as filmagens!

A escsiana já fez magia em películas conhecidas pelo grande público, tais como os dois filmes do “Fantastic Beasts”,Hobbs & Shaw”, “Bohemian Rhapsody”, “Venom”, “Avengers: Infinity Wars”, “Inferno”, “Star Trek Beyond”, “Wonder Woman. Neste último, trabalhou durante nove meses e o seu nome não apareceu nos créditos finais. Explica que, apesar de o espetador não o saber, os nomes de todos os colaboradores nem sempre aparecem na fase final de uma película, por uma questão de espaço e devido à própria extensão dos créditos. Por essa razão, quando “Cat Gonçalves” (devido ao facto de o nome “Catarina” ser de difícil pronúncia para os britânicos) aparece no grande ecrã, a sensação é surreal – Eu estou ali!.

Há dois anos, decidiu sair da Double Negative e juntou-se à One Of Us, enquanto compositor. Catarina Gonçalves reconhece que as empresas britânicas gostam muito do seu trabalho por ser rápida a mudar de estratégia e a arranjar soluções: “Uma das coisas que aprendi em AM é que, se não funciona, não vale a pena insistir. Vamos perder mais tempo a tentar fazer com que isto resulte do que a começar de novo e fazer corretamente, aprendendo com os erros”.

Por enquanto, planeia ficar por Londres. Quanto ao tempo que passou na ESCS, mostra-se muito agradecida a todas as pessoas com quem se cruzou. Foi lá que fez amigos para toda a vida e reconhece o prestígio da instituição, dos professores e dos vários núcleos: “A ESCS dá-nos não só as ferramentas, mas também o tempo e o espaço para treinarmos e podermos fazer os erros que faríamos no mercado de trabalho, mas num ambiente controlado.

E porque tanto Jaime como Catarina são jovens escsianos que têm largos anos de carreira pela frente, o seu percurso é… To Be Continued.

Artigo redigido por Inês Sousa Martins

Artigo revisto por Beatriz Campos

Fonte da imagem de destaque: https://targetcareers.co.uk/career-sectors/arts-and-creative/1031799-how-i-started-a-career-in-filmmaking

AUTORIA

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Uma pessoa de muitas paixões. Por isso, licenciou-se em Informação Turística, está a terminar o Mestrado em Jornalismo e quer tirar Doutoramento em História Contemporânea. A ideia de ter uma só carreira durante a vida toda aborrece-a. A Inês gosta de escrever, de concertos, dos The Beatles, de Itália, de conduzir e dos seus cães. Sonha em visitar, pelo menos uma vez, todos os países do mundo.