Música

João Pereira – uma promessa da música portuguesa

João Pedro Pereira tem 24 anos e nasceu em Albufeira, no Algarve. Entrou no mundo da música ainda bastante novo, no âmbito de projetos escolares. Hoje, já mais velho e experiente, dedicou-se à música a solo, escrevendo, em colaboração, as próprias músicas.

 

Quando começaste a cantar?

No ensino básico. Quinto, sexto ano, por aí. Tínhamos a disciplina de música e fui quase que empurrado para isso. Os colegas voluntariavam-se para determinados instrumentos, viram que eu tinha algum talento para cantar.

E foi aí que tudo começou?

Sim, foi aí que comecei a fazer versões de músicas em conjunto com o professor e a atuar nos arraiais finais, no encerramento dos anos letivos.

E nunca tinhas demonstrado interesse pelo canto antes disso?

Já tinha demonstrado mas acho que nós muitas vezes tentamos fugir disso. Não é que achemos que seja errado mas guardamos muito para nós, já faz parte do dia-a-dia, isto é, cantar – mas achamos que é algo muito distante e eu sempre soube isso, sempre tive consciência.

Mas ao chegares ao básico é que surgiu o dito bichinho pela música?

Sim. Depois, o professor conhecia outro professor, ela era produtor musical em Albufeira, e graças a isso entrei num projeto musical no qual eu não escrevia, apenas dava a minha voz e as letras eram do professor. Na altura gostava de o fazer mas se calhar não tinha a maturidade para interpretar temas musicais de uma pessoa de quarenta e tal anos quando na altura tinha os meus dezanove. Entretanto esse projeto musical acabou mas editámos dois CDs, atuámos nas FNACs do Algarve. Acabei o 12º ano e comecei a trabalhar nos meus originais em português. Desses originais só lancei um , o Sentir Encontrado que está no meu canal no Youtube. Vim estudar para Lisboa, vivi uma época de transição e esse projeto foi perdendo força e eu tive muito tempo parado, tanto que só no último ano é que comecei a trabalhar nos  mais recentes originais.

Que género de música cantavas na altura e como veio diferir do que cantas agora?

Na altura cantava músicas que se aproximavam das do João Pedro Pais. Agora canto mais na onda do Indie Pop. Não sai dos moldes pop mas tem umas nuances mais alternativas. A primeira metade do EP é um bocado mais experimental. Depois vai afunilando e os instrumentos vão ganhando força: ouve-se bateria, ouve-se guitarra.

Contaste com a colaboração de alguém para escrever as músicas?

Com uma amiga de longa dada escrevi Someone, Just a Boy e Yours.  Colaborei também com o José Ribeiro Brandão, que me ajudou mais na onda pop. Colaborei com outro amigo meu, o Ruben, que fotografou a capa do EP e escreveu as duas músicas portuguesas comigo. É um projeto mesmo em colaboração. Eu quis dar os primeiros passos na escrita mas contar, ao mesmo tempo, com a participação e visão de outras pessoas. Conseguimos uma vibe bastante sexual , bastante pop, o que vem sublinhar o meu cunho pessoal, pois as minhas influências também partem daí. A nível instrumental e de produção, contei com o produtor Gualter Sal.

Com que música do teu EP mais te identificas?

Todas as músicas demonstram uma certa fragilidade mas aquela com quem mais me identifico é a Someone. Foi uma música escrita num momento vulnerável. Mesmo em palco, quando a canto, tenho de me concentrar bastante, pois esta canção leva-me a viajar.

Tocaste na Futurália. Como surgiu essa oportunidade e como descreverias a experiência?

Fui eu que me propus a tocar na Futurália. Vi o cartaz e reparei que um conhecido meu ia lá atuar. Enviei um e-mail para a organização, gostaram do projeto e acabaram por aceitar. Relativamente ao concerto senti que algumas pessoas estavam a gostar mas que preciso de chamar a atenção de outra forma, pelo que estou agora a trabalhar em covers. Acho que é importante mostrar a versatilidade. Penso que não sou ninguém para introduzir rapidamente as minhas canções originais. Ainda ninguém me conhece. Penso que é isso que poderia ter corrido melhor no concerto. Levei só um cover e devia ter levado mais. Apesar de as pessoas terem gostado, um concerto só com guitarra, como eu o realizei, muito acústico, muito cru, não foi o mais indicado para o público presente: era um público principalmente constituído por miúdos que não estão naturalmente tão habituados a escutar, preferem interagir. Porém, as pessoas vieram-me dar os parabéns no final, portanto foi muito bom.  Uma rapariga até me veio dar um abraço e disse que o concerto foi muito especial.

Fui atrevido porque me auto-propus, mas, indo sozinho, aprendo a falar com a organizadora, com o técnico do som. Aprendo a fazer os meus próprios contactos.

Vais agora tocar no palco do Lx Factory, em Alcântara.

Sim, vou abrir o concerto do meu produtor. Eu vou cantar umas três ou quatro músicas do meu EP. Gosto bastante do espaço e tenho expectativas bastante positivas. O facto de tocar num palco dá-me confiança e faz com que divulgue o projeto de forma mais constante.

Os palcos da Futurália e do LX Factory são relativamente pequenos. Sonhas com algum maior?

Sim. Adorava tocar no MEO ARENA, mas adoraria também tocar nos Coliseus, no Teatro das Figuras em Faro, que é lindíssimo. Gosto de ambientes mais calmos, porque se adequam à minha música.

Sentes que a tua música fala para quem?

Acho que este projeto em concreto fala de mim mas tive feedback de algumas pessoas que afirmam identificar-se com as músicas. São letras que chegam facilmente ao público em geral: falam de amor, de colocar um ponto final numa relação. Por essa razão eu não posso classificar este projeto como alternativo. Acho que é um projeto pop com umas pequenas nuances.  Sinto que o meu projeto chega a ambos os sexos, a variadas faixas etárias, porque apesar de o EP ser pessoal, não quis abrir logo o jogo para que depois tenha mais algo para contar. Até porque algumas letras não contam a minha história, contam a de pessoas que colaboraram comigo ou que conheço.

Que banda, ou artista, indicarias como a tua principal inspiração?

A nível de artistas estrangeiros indicaria Jeff Buckley e Lana Del Rey. São os dois que mais me inspiram. A nível de artistas portugueses oiço muito Tiago Bettencourt, o Noisef. No albúm fiz questão de introduzir música portuguesa que é algo de que gosto e com que não queria perder contacto, até porque demonstra versatilidade.

É um sonho para ti conseguir fazer a vida só da música?

Sim, acho que é o sonho de quem gosta e se dedica realmente à música. Até porque eu e a minha família financiámos o meu próprio projeto. À parte do meu curso, Artes do Espetáculo, a música é a minha verdadeira paixão. Agora estou a apostar na minha música, a enviar e-mails para toda a gente, e acho que tem de ser assim. Por exemplo, o Diogo Piçarra, que é um artista de quem gosto bastante, deu agora uma entrevista para o Alta Definição e disse que começou a carreira a tocar em bares, tendo mesmo chegado a atuar à porta de uma casa de banho. Ele disse que era desrespeitado, que as pessoas não ouviam o que ele cantava e identifico-me bastante com ele. A fase inicial da carreira é bastante dura. É também por isso que estou a disparar em vários sentidos.

Falaste do Diogo Piçarra que participou no Ídolos. Já pensaste em participar num concurso televisivo para teres maior projeção?

Eu já participei no The Voice, mas tive de desistir por causa da minha tese. Foi uma situação um bocado ingrata. Passei a primeira e a segunda fases mas tive de optar entre o curso e o concurso. É de facto uma boa rampa de lançamento.

 

 

Quais são os teus planos para o futuro?

Quero continuar em contexto de concerto. Quero difundir as minhas músicas mesmo sabendo que não é fácil, até porque não tenho editora. Quero também adicionar pessoas ao projeto, quero começar uma banda. Aqui há dias falei com uma colega do meu curso e ela vai começar a fazer back vocals.