Moda e Lifestyle

Laços, Laçinhos e Laçarotes – o retorno à infância no mundo da moda

Nos tempos que correm, uma fita de tecido é um elemento essencial no guarda-roupa de qualquer um. Brincos, colares, sapatos, casacos, não existe acessório ou peça de roupa que não tenha sido elevada por um laço, isto quando o pedaço de tecido em questão não se torna na peça de roupa em si.

A prova do retorno efetivo deste delicado detalhe foi a coleção SS24 de Sandy Liang, apresentada na NYFW, no passado mês de outubro. 

Fonte: DNAMAG

A sua coleção, intitulada de The Virgin Suicides, é uma referência ao filme com o mesmo nome, criado por Sofia Coppola em 1999. O filme, apesar de não ser a única influência, revela-se como uma forte fonte para os elementos incorporados nas peças. A feminilidade e delicadeza de jovens adolescentes tornam-se o principal foco de interesse da história que nos é contada.

Momentos depois, esta coleção tornou-se tema de conversa, fosse no mundo mais restrito da moda ou em plataformas online, como o TikTok, no qual podíamos encontrar tutoriais de como nos vestirmos como uma modelo de Sandy Liang. Rapidamente, a utilização de laços se massificou. Contudo, apesar de a coleção poder ter colocado um maior ênfase na utilização de tal pormenor, a verdade é que esta trend já há muito que estava a ganhar forma. Trends com a utilização do termo “girl”, o retorno dos folhos, silhuetas menos definidas, rendas e roupas mais reminiscentes de uma época escolar já se faziam acompanhar por um pequeno laço. 

Cocquetes, blokettes, balletcore e outros faziam-se nascer das cinzas dos seus antecessores, mas poucos faziam referência às vivências de uma mulher adulta e, com isto, uma questão levanta-se: Porque é que nos estamos todos a vestir como meninas?

Estando a geração Z no início da sua vida adulta, onde estão as trends que acompanham as suas experiências?

Fonte: Pinterest

O que é roupa de “meninas”?

Como é óbvio, é um pouco redundante definir certas peças de roupa como sendo adultas ou infantis. Porém, a utilização de laços e outros elementos em tendências de hoje é efetivamente referente a uma infância não muito longínqua. A própria coleção acima referida utiliza um filme sobre jovens como a sua inspiração.

Fonte: Picryl

Existiram tempos nos quais a distinção entre os dois estilos foi menos óbvia. No século XVII, as crianças vestiam roupas semelhantes às dos adultos. Nesta época, existia uma crença de que as crianças eram animalescas e não tinham sido feitas para viver, daí surgia uma necessidade de as “adultificar” através da roupa. Eventualmente, no século XVIII, Rousseau e as suas observações demonstraram que talvez as crianças não fossem malignas e, portanto, deveriam utilizar folhos e roupas nas quais se pudessem movimentar.

A distinção entre a roupa de uma mulher adulta e a de uma jovem seria algo delineado de forma muito ténue até meados do século XX, quando nos começaríamos a questionar relativamente a quão correta seria esta ténue distinção.

Fonte: Livro “The Commodification of Childhood” por Daniel Thomas Cook

Numa perspetiva de distinguir tais categorizações, as problemáticas levantadas entre infantis e adultos provinham sempre de questões como as silhuetas ou o comprimento das saias. Apesar de tudo, existem certas características mais “bonecas” que, de uma forma inconsciente, associamos a uma ideia de inocência muito característica da infância, como por exemplo os famosos laços.

Mas…porque é que nos infantilizamos, então?

Antes de mais, é importante referir que a moda não é delimitada por uma faixa etária e deve ser sempre utilizada como uma meio para a expressão do nosso “eu”, quer este tenha elementos mais tipicamente “infantis” ou mais “adultos”. Todavia, existe, de facto, um desejo social de nos infantilizarmos.

Fonte: Pinterest
Fonte: Pinterest

Numa entrevista com a revista DAZED, Josh Cohen, um psicanalista americano, refere que o atual clima económico tem vindo a impedir a antiga “adultificação” do jovem moderno. Enquanto que muitos dos nossos pais e avós tinham casas, um trabalho fixo e família por volta dos 20, os jovens de hoje em dia vêem-se muitas vezes ainda condicionados às casas dos seus pais, sendo que muitos ainda não ganham o suficiente para a sua total independência. Este “atraso” tem surtido uma conexão emocional à infância e cria uma maior emoção de impotência face ao mundo exterior.

Numa perspetiva mais isolada, a emancipação feminina permitiu um prolongamento de uma narrativa muitas vezes associada apenas ao termo “girl”. Na composição de 2016, What Does It Mean When We Call Women Girls?, Robin Wassermen menciona que a história de uma menina termina quando esta se torna a mulher de alguém, ganhando o título de “mulher”. Este período de menina é normalmente descrito como o pico da descoberta do “eu”, sendo por isso uma possível razão para uma expressão visual mais opulenta. A mulher moderna ganhou uma fase de menina muito mais longa que as suas antepassadas, e, com isto, ganhou a escolha de usar um lacinho ou laçarote de cores variadas. 

Este movimento revela também ser uma resposta ao minimalismo que observámos em anos passados. Existe um maior desejo por detalhes e cores berrantes. Um maior desejo de definir um “eu” visual.

Fonte da capa: NiT

Artigo revisto por Matilde Gil

AUTORIA

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A Mariana está no último ano da licenciatura de publicidade e marketing, mas o seu “bichinho” da escrita parece não a querer abandonar. Abençoada por vários hobbies e interesses, ocupa o seu tempo na ESCS Magazine com um pequeno aprofundamento de “factos interessantes” que os amigos já estão fartos de a ouvir contar.