Literatura

Lançamento do livro “Mixórdia de Temáticas: Série Miranda”

Meia hora antes, a sala de apresentações já começa a encher. As pessoas falam entusiasmadas e tiram incessantemente os livros do expositor. Folheiam-se os livros, tiram-se selfies. A expectativa sente-se no ar. Um técnico vem testar o som do microfone e o burburinho suspende-se por um pouco. “É agora? É agora que ele vem?” é a pergunta que baila entre a audiência. Mas ainda se espera mais um pouco. De cada vez que a música pára, os olhares viram-se automaticamente para a porta disfarçada no palco, mesmo ainda não estando na hora. Não por essa porta, mas pela principal, Ricardo Araújo Pereira, autor do livro, chega finalmente.

rap1

Ricardo vem acompanhado por uma representante da editora Tinta da China. Visivelmente pouco à-vontade, alargando o colarinho da camisa, saúda os espectadores, faz uma curta introdução e pede que comecem as perguntas: “Tenho a certeza de que na plateia há pelo menos um ou dois malucos. Esses, por favor, fiquem calados. Os outros: vamos lá!”

Várias pessoas o inquirem sobre o seu processo de trabalho. “Tira uma hora específica para trabalhar? O que faz se não tiver ideias?”, perguntam. RAP responde que tem a sorte de conseguir passar duas horas a pensar em coisas insignificantes, como sacos de plástico, o que mais ninguém faz. Além disso, tenta olhar para as coisas e perguntar “E se?”, transformando-as em algo absurdo. Quando as coisas já são absurdas (e dá o exemplo de Portugal, em que se pensar no oposto obtém algo normal”), tenta justificá-las.

Perguntam-lhe também se já começou a escrever com o intuito de fazer rir as pessoas ou se isso só aconteceu mais tarde. O comediante responde que já tinha essa finalidade e que gosta de “ver o que acontece a uma pessoa quando se ri. Ninguém é feio a rir-se. Bem, algumas pessoas são”, acrescenta em tom de brincadeira. Conta que, em criança, adorava fazer rir a avó, uma idosa viúva e “carrancuda”, que depois duma breve gargalhada afirmava: “Não tens piada nenhuma”.

Araújo Pereira diz também, em relação ao humor negro, que não se pode preocupar com o facto de poder ofender alguém, pois sabe que o simples facto de existir ofende pessoas. Sabe que se fizer uma piada sobre religião vai receber cartas, afirmando também já ter recebido cartas a dizer “Ei, não se goza com a Floribella”. Considera ainda que todo o humor é negro: “O facto de uma pessoa se rir é macabro, porque somos os únicos, digamos, animais que sabem que vão patinar”.

Comentou ainda a sua “inimizade” com Miguel Sousa Tavares, declarando que este fez com que um texto de Zé Diogo Quintela para A Bola fosse cortado sem este ser avisado. Deu também exemplo de algumas das incongruências do escritor e que lhe basta ir ao Google para “as descobrir”.

No final, quatro voluntários (entre eles, Carlos Vaz Marques, do Governo de Sombra) subiram ao palco e encenaram duas mixórdias, «Vicky» e «Fernando e o evolucionismo», às quais se seguiram a sessão de autógrafos e as fotografias.

rap2

 

Fotografias por João Pereira.

AUTORIA

+ artigos

A Inês Rebelo tem 19 anos e está no primeiro ano de Jornalismo.
Começou a ler com 4 anos e a escrever as suas criações com 9, sendo que foi sempre esta a sua grande paixão. Fez teatro durante oito anos, gosta de ler e, embora não interesse a ninguém, tem três tartarugas. Também gosta de cantar, mas para isso não tem muito jeito. Na ESCS MAGAZINE integra as equipas de Correcção Linguística e de Literatura, e escreve com o Antigo Acordo Ortográfico.