Cinema e Televisão

LEFFEST – a retrospetiva de Alain Tanner

No passado dia 24 de novembro, a ESCS MAGAZINE voltou a marcar presença no Lisbon & Sintra Film Festival. Optando novamente por uma via mais alternativa, fomos assistir à sessão que visava fazer uma retrospetiva de Alain Tanner, sessão essa que contava com dois títulos: Les hommes du port e Paul s’en va, ambos apresentando uma visão muito pessoal do realizador em relação ao mundo

Les hommes du port retrata a vida dos estivadores e a subcultura que lhes está associada. Enquanto descobrimos um pouco da história do próprio realizador como estivador, ele relata-nos, assumindo um tom mais crítico, como a profissão, e até a própria cidade onde trabalhava (Génova), tem vindo a transformar-se. Considera que é uma “arte”, tão desconhecida para a população em geral, bastante complexa, com uma linguagem e organização própria, e um exemplo para o mundo do trabalho. Representados por um sindicato único, os trabalhadores falam em liberdade de expressão, solidariedade e auto-gestão. Práticas que pedem para manter mesmo nesta altura de crise pois acreditam que uma profissão não deve ser uma condição de serventia, mas sim uma relação de respeito entre pessoas que trabalham para o mesmo objetivo. É uma história bastante interessante, que recomendo sobretudo aos mais curiosos, pois, para além de ser uma visão diferente sobre um tema nunca antes explorado, é um documentário com pessoas reais que em vez de seguirem o padrão normal da sociedade decidiram por eles próprios criar uma forma única de pensar. Por outro lado, Alain Tanner consegue transmitir-nos a sua paixão e admiração pelo mar e por quem dele faz parte, tal como nos disse a filha do realizador, Cecili Tanner, o seu pai pretendia apenas “transmitir a humanidade de quem filma”.

Em Paul s’en va encontramos 17 histórias que acabam por convergir numa só. Uma turma de aspirantes a atores que vê, de repente, desaparecer o seu professor. Perante tal acontecimento, os alunos decidem investigar as circunstâncias da sua ausência e acabam por descobrir uma série de cartas. Todas elas representam uma missão para cada um dos estudantes e uma nova forma de estes explorarem e compreenderem o mundo. Na apresentação do filme, Cecile Tanner diz que “todas as personagens do filme são, na verdade, pequenas frações do realizador”. Mais uma vez Alain Tanner traz para cima da mesa temáticas controversas e críticas à sociedade contemporânea, com o intuito de alertar para questões que talvez não tenham tido ainda a relevância que lhes é devida.

Alain Tanner trata-se na realidade de um realizador empenhado em conduzir o público à reflexão e à tomada de uma outra perspectiva sobre a vida e sobre o mundo. Contudo o desenrolar da história é por vezes confuso. Os atores foram bem escolhidos e dão realidade à história, mas existem partes que, apesar de entendermos que transmitem a forma de pensar do realizador, parecem um pouco fora de contexto. Não o recomendaria para um público em geral, mas sim para aqueles que têm um particular interesse nas questões controversas do mundo, pois aqui vão encontrar toda uma nova forma de as representar.