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LEFFEST – A volta ao mundo em mil conceções do socialismo

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Jean-Luc Godard nunca deixou de constituir uma surpresa no universo cinematográfico. Nem mesmo em 2010, quando dividiu o socialismo em três cenários, fazendo-o navegar pelo Egito, por Israel, Odessa, pela Grécia, por Nápoles e até mesmo por Barcelona. O que é certo é que, por esse périplo tão grande, pode julgar-se que a sua essência se perdeu… Por sorte, esse mito foi desmistificado no Lisbon & Estoril Film Festival com a exibição do Film Socialisme.

No geral, existe um acordo naquilo que concerne à definição da palavra socialismo: é uma doutrina política e económica, que data do século XVIII e que se caracteriza pela ideia de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada da riqueza e das propriedades, com o objetivo de diminuir a discrepância entre os mais ricos e os mais pobres.
No entanto, nem todas as pessoas pensaram do mesmo modo. Karl Marx defendia a luta de classes (entre o proletariado e a burguesia) e a abolição das classes sociais e da propriedade privada. Já Robert Owen, Saint-Simon ou Charles Fourier pensavam utopicamente, imaginando uma sociedade ideal, baseada na boa vontade da burguesia e na mudança do panorama social por meios pacíficos. Engels tendia para o socialismo de cariz científico, ou seja, aquele que analisava crítica e cientificamente o capitalismo.
Mas Godard não se deixou levar por essas ideias pré-concebidas. Foi mais longe e, conjugando-as, formou uma nova perceção bastante própria, criando três cenários que nos permitem entendê-la.

“As coisas assim” (“Des choses comme ça”) decorre num cruzeiro, onde o telespectador se depara com conversas, passageiros e até uma breve aparição de Patti Smith. É interessante reparar no facto de que, numa imensidão de água clara e bela, as pessoas se encontram focadas nos seus telemóveis e computadores ou divertem-se no casino ou na piscina – portanto, Godard traça um retrato do consumismo.

“A nossa Europa” (Notre Europe) acontece numa bomba de gasolina, cujos proprietários têm dois filhos e são discutidos temas como a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Neste segmento, sente-se que todos os pormenores foram estudados até ao mais ínfimo detalhe e que nada é inocente. Desde a rapariga a ler Illusions Perdues, de Balzac, até à insistência na inutilização do verbo “ter”.

“A nossa humanidade” (Nos humanités”) – aí sentimos que os nossos olhos correspondem realmente à objetiva da câmara e viajamos pelo mundo. Também são utilizados excertos de “Histoire(s) du Cinéma” e, por último, surge, a letras garrafais: “No comment”.
Sim, talvez Godard se sinta incapaz de tecer quaisquer comentários acerca da sociedade consumista, capitalista, fruto da globalização que existe. Contudo, Film Socialisme est plein des commentaires é absolutamente indicado para a esquerda e para a direita!

AUTORIA

Se virem uma rapariga com o cabelo despenteado, fones nos ouvidos e um livro nas mãos, essa pessoa é a Maria. Normalmente, podem encontrá-la na redação, entusiasmada com as suas mais recentes descobertas “AVIDeanas”, a requisitar gravadores, tripés, câmaras, microfones e o diabo a sete no armazém ou a escrever um post para o seu blogue, o “Estranha Forma de Ser Jornalista”… Ah, e vai às aulas (tem de ser)! Descobriu que o jornalismo é sua minha paixão quando, aos quatro anos, acompanhou a transmissão do 11 de setembro e pensou: “Quero falar sobre as coisas que acontecem!”. A sua visão pueril transformou-se no desejo de se tornar jornalista de investigação. Outras coisas que devem saber sobre ela: fica stressada se se esquecer da agenda em casa, enlouquece quando vai a concertos e escreve sempre demasiado, excedendo o limite de caracteres ou páginas pedidos nos trabalhos das unidades curriculares. Na gala do 5º aniversário da ESCS MAGAZINE, revista que já considera ser a sua pequena bebé, ganhou o prémio “A Que Vai a Todas” e, se calhar, isso justifica-se, porque a noite nunca deixa de ser uma criança e há sempre tempo para fazer uma reportagem aqui e uma entrevista acolá…!