Cinema e Televisão

Leviatã, Um Novo Gigante do Cinema Russo

IMG 1 O clássico Leviatã, de Thomas Hobbes, baseado na criatura mitológica que assombra os mares da Idade Média, serve de referência para o mais recente filme de Andrei Zvyaginstev. A obra de Hobbes é uma das mais influentes do pensamento político, incidindo sobre as implicações da renúncia de alguma liberdade natural a um estado soberano, em prol de uma sociedade pacífica e ordeira. Este é o ponto-chave para o entendimento intrínseco do vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira, sendo ainda a primeira vitória russa desde 1969. IMG 2 Kolya (Alexei Serebryakov), dono de uma oficina de reparações numa pequena aldeia russa, está prestes a perder a sua casa devido a um projeto de construção que beneficiará Vadim (Roman Madyanov), o corrupto presidente do município.  Entretanto, a sua família está num estado de confusão causado pelo descontentamento de Roma (Sergey Pokhodaev), filho deliquente do seu primeiro casamento, e Lilia (Elena Lyadova), sua mulher. Com o intuito de salvar a sua propriedade, Kolya conta com a ajuda de Dmitri (Vladimir Vdovichenkov), um antigo camarada do exército que se tornou um mordaz advogado em Moscovo. IMG 3 Contudo, não só a chegada de Dmitri parece não ser suficiente para salvar a propriedade de Kolya, como também vem agravar a sua situação familiar, imergindo-o num sentimento de impotência, infortúnio e sofrimento. IMG 4 IMG 5   Através de uma passada lenta e intercalada por momentos de tensão, somos confrontados com a verdadeira realidade dos acontecimentos. É possível estabelecer um paralelo entre o desenvolvimento do protagonista e Job, a personagem bíblica associada à justiça de Deus face ao sofrimento humano, levantando a questão: Porque é que os justos sofrem?, muito presente no filme. É interessante ver como Zvyaginstev utiliza a religião num contexto claro de crítica à hipocrisia e à profunda corrupção. Apesar de algumas críticas quanto à estereotipação dos hábitos russos, um assunto muito aberto a discussão, há uma excepcional coesão narrativa e atenção ao detalhe, culminando num filme corajoso, honesto e verdadeiramente substancial.

 All power comes from God. As long as it suits Him, fear not.

 

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