Literatura na Era Digital
O Declínio da Experiência Tradicional de Ler
Com o aumento da presença de redes sociais, jogos virtuais e serviços de streaming nas nossas vidas, parece cada vez mais que ler um livro de maneira tradicional está em decadência. Juntamente com esse mesmo crescimento, vem também o vício nas distrações proporcionadas por esses meios e nas ações repetitivas que realizamos durante essas distrações, como por exemplo fazer scroll.
Fica a questão: este vício crescente está a matar a literatura?
Durante milénios, era a literatura que continha toda a informação que o ser humano reunia, representando uma grande parte de cada cultura. No entanto, atualmente, este já não é o caso, pois consegue-se encontrar qualquer tipo de informação em poucos segundos. O mesmo acontece com o entretenimento, em diversas plataformas e dispositivos, que alcança altos níveis de criatividade de diferentes formas.
Estas plataformas vêm acompanhadas de um vício de conteúdo rápido, muitas vezes em formato de vídeo, inicialmente através do TikTok e, de seguida, dos reels no Instagram, dos Youtube shorts e do X.
Esse mesmo conteúdo revolucionou totalmente a forma como as pessoas consomem todo o tipo de informação. Entre escolher um vídeo de 15 segundos com informação bastante compactada, exagerada, chamativa e potencialmente falsa ou escolher um artigo completo de uma fonte fidedigna, a maioria das pessoas opta pelo vídeo de 15 segundos. A razão para isso pode ser o facto de que o vídeo é capaz de lhes fornecer a “mesma” informação com entretenimento e em menos tempo, apesar do enorme risco existente de ser informação falaciosa.
Como resultado, as pessoas subestimam cada vez mais a ação de ler um livro e priorizam o conteúdo rápido que lhes é apresentado no digital.
Nascer-se Digital
Como já dito nos parágrafos anteriores, o nosso mundo está cada vez mais digital. As novas tecnologias, como o GPS, a Inteligência Artificial e mesmo as redes sociais, tornam o mundo atual irreconhecível do de há 20 anos atrás.
No entanto, não é preciso ter nascido nos últimos 20 anos para se comportar como um expert da tecnologia. A população em geral está cada vez mais tempo conectada à internet – o tempo médio de um português à frente de um ecrã é maior que o tempo que passa a dormir.
Apesar de haver cada vez mais pessoas adultas viciadas na internet e nos ecrãs, o maior vício ainda se encontra nas gerações mais novas, mais especificamente a Geração Z. Esta geração cresceu durante crise após crise, quer seja económica, de segurança ou de saúde pública.
Consequentemente, enfrenta uma crise de distrações, que pode ter efeitos colaterais duradouros. Pessoas desta geração encontram dificuldades em passar um almoço com a família sem olhar para os seus telemóveis. A atenção, cada vez mais minimizada, está quase toda centrada nos seus ecrãs onde socializam, jogam e trabalham.
As grandes empresas de tecnologia já foram acusadas de implementarem, de propósito, este vício nas gerações mais novas para fins monetários. Apesar de estas empresas lucrarem com este vício, as empresas literárias viram-se obrigadas a adaptarem-se, para assim evitarem o seu declínio.
Digitalização
A tecnologia moderna criou uma evolução digital que revolucionou o setor da literatura. Apesar do dano que a tecnologia provocou na área da literatura tradicional, não podemos ignorar os benefícios que trouxe consigo. A tecnologia certificou-se de que o storytelling ficou mais dinâmico, atrativo e detalhado às preferências de cada leitor, porque permitiu aos autores explorarem a sua criatividade de diversas formas e escreverem sobre variados temas. Mesmo o processo de escrita tornou-se mais simples com as ferramentas digitais disponíveis, como processadores de texto e motores de pesquisa.
Outra forma de adaptação foi o surgimento de um género de escrita relacionado com obras pensadas especificamente para dispositivos digitais, que ficou conhecido como ‘ciberliteratura’. Dentro da ciberliteratura, há diversos subgéneros como ficção interativa, twitteratura, poesia digital e hiperficção.
E-books, blogs, podcasts e diversas outras plataformas com fontes literárias também revolucionaram a forma como os leitores consomem e interagem com a literatura. Aliás, hoje em dia é possível aceder a uma biblioteca inteira com apenas alguns toques nos nossos dispositivos.
Estas versões digitais de literatura permitem aos profissionais da área partilharem o seu trabalho globalmente de forma muito mais fácil e rápida.
Concluindo, apesar da literatura tradicional apresentar um ritmo de crescimento mais lento, a literatura digital está bastante viva nas suas diversas formas. O que está a mudar é onde e como lemos, mas não o quanto lemos. A literatura não está à porta da morte; Está sim a mudar a sua perspectiva para se adaptar de forma a que ainda a encontremos nas nossas vidas, mesmo com a digitalização que o mundo está a presenciar.
Artigo revisto por Mariana Céu
Fonte da imagem de capa: Global imi