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Manifestação dos taxistas contra a Uber e a Cabify para Lisboa

Milhares taxistas de todo o país deslocaram-se hoje a Lisboa numa luta comum contra os serviços da Uber e da Cabify.

Com o objetivo de impedirem a Uber e a Cabify de operarem em Portugal, ou de pelo menos operarem com as devidas licenças e pagando certas taxas, juntaram-se hoje em Lisboa milhares de taxistas de norte a sul do país. Vindos do ponto mais a norte do Minho até ao extremo do Algarve, os cerca de seis mil carros que andaram em marcha lenta pela capital perturbaram o trânsito e geraram conflitos com a PSP.

Esta, que foi considerada a maior manifestação de táxis de sempre, trouxe o caos para a cidade de Lisboa. A concentração começou por volta das 7h da manhã, mesmo em hora de ponta, junto à Pousada da Juventude no Parque das Nações, originando congestionamentos nos transportes públicos e nas estradas lisboetas. Já as partidas da cidade do Porto decorreram por partes entre a 1h e as 5h30 da manhã, parando em várias cidades para irem ao encontro de outros colegas. Este deslocamento levou a que muitos dos taxistas tivessem ido para a capital “de direta” e gastado bastante dinheiro em portagens, combustível e, claro, num dia de trabalho perdido. Ao Observador, um taxista explicou o porquê da sua revolta: “Eu se tiver um barco não posso ir para o terminal fluvial do Cais do Sodré apanhar passageiros e transportá-los”.

Também alguns taxistas espanhóis vindos de Madrid juntaram-se à manifestação. Ángel Julio Mejía, representante da Federação Espanhola de Táxis e do Grémio de Táxis de Madrid, afirma que têm o mesmo problema e que a legalização de plataformas com a Uber e a Cabify não faz sentido porque estas “não geram riqueza para o país”.

Durante o dia foram constantes as acusações e os ataques feitos por Florêncio de Almeida, presidente da Associação Nacional de Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros, a figurantes políticas e à comunicação social. Apelou à demissão do secretário de Estado do Ambiente, José Mendes, e acusou Helder Amaral e Tiago Graça, marido de Assunção Cristas, de estarem ligados à Uber.

Já o primeiro-ministro português, António Costa, que se encontra neste momento na China, afirma que “O que estamos a fazer é regular o mercado”. Declarando esta manifestação como legítima e como um ato de liberdade afirma, porém, que “só os taxistas (…) terão direito a ter praça de táxis, só eles poderão ter direito a apanhar um passageiro no meio da rua que estenda o dedo, enquanto outros só poderão prestar serviço a partir de uma plataforma”. Aproveitou também para fazer uma comparação deste processo com o que aconteceu nos anos 80 relativamente à emergência de novas rádios locais (por vezes “piratas”) que competiam com a Antena 1; comparou este diferendo com o processo relativo à legalização das rádios locais na década de 1980. “Foi também isso que se passou com a abertura do mercado às rádios piratas, que depois deixaram de ser piratas, ficando reguladas e em concorrência com as restantes. Não foi por isso que a Antena 1 deixou de existir, mas passaram a existir outras ofertas, que o público também desejava”, referiu.

À medida que o dia ia avançando, várias figuras da política foram dando a sua opinião sobre esta manifestação e tudo o que a incentiva. Bruno Dias, deputado do PCP, mostra-se solidário com esta luta, afirmando que estas multinacionais “não podem estar acima da lei”, sendo que “tem de haver regras iguais para todos”. Já Marcelo Rebelo de Sousa apelou à “serenidade e espírito cívico”, apenas acrescentando que espera que a “manifestação decorra pacificamente”.

Ainda durante a manhã, os taxistas que seguiam no protesto avistaram um carro da empresa Uber numa bomba de gasolina junto ao aeroporto, o que levou à exaltação dos ânimos e ao ataque da viatura com ovos. A polícia foi, então, obrigada a intervir. Houve também incidentes, pedradas maioritariamente, na Rotunda do Relógio entre taxistas e elementos da polícia, tendo estes últimos lançado gás pimenta sobre os manifestantes. No final do dia a polícia confirmou a detenção de quatro taxistas.

Depois de reuniões com o Ministro do Ambiente, os taxistas revelaram a existência de uma “divergência profunda” entre o governo e os manifestantes. Prometeram, então, continuar esta manifestação nem que seja por mais “15, cinquenta dias”, afirma Florêncio de Almeida, um dos líderes dos protestos.

Desde a saída do aeroporto, à Rotunda do Relógio e acabando na Assembleia da República esta manifestação durou toda a manhã e continuou pela tarde. O dia foi então marcado por desacatos com a política, comentários machistas de taxistas a mulheres que se revoltavam com a situação e por um homem que se atirou do viaduto junto à Rotunda do Relógio, obrigando a intervenção do INEM. Irónico, foi, no dia marcado por este protesto, a Uber ter sido a app gratuita mais instalada da App Store.