Opinião

Metaaprendizagens

No dia 15 de janeiro, celebrou-se o “Dia do Perfil do Aluno”, cuja iniciativa principal foi um debate que decorreu na Fundação Champalimaud. Contou com uma intervenção do ministro da Educação que solicitou este perfil. Os trabalhos de elaboração do perfil foram comandados por Guilherme d’Oliveira Martins, ministro da Educação entre 1999 e 2000. O nome completo do projeto é “Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória”. Ou seja, consiste numa espécie de “receita” do aluno modelo com base numa lógica humanista e multidisciplinar, listando uma série de competências que os alunos têm de possuir após a conclusão do ensino secundário e uma série de valores pelos quais se têm de reger. As áreas de competências são dez. Para mim, as mais importantes e que, desse modo, deveriam ser prioritárias (o mais cedo possível) são as áreas do pensamento criativo e crítico, do raciocínio e resolução de problemas, do desenvolvimento pessoal e autonomia e do relacionamento interpessoal, por esta ordem. As primeiras duas são o catalisador de uma mente inteligente e de boas decisões, enquanto as outras duas permitem a aplicação desse método de questionamento e tomada de decisão dentro de um contexto de preenchimento pessoal (os nossos sonhos e projetos) e no nosso relacionamento com as pessoas que vamos encontrando pelo caminho. Com estas bases consolidadas, é escolher as áreas que nos agradam mais para que possamos dominá-las. Isso é mais uma questão de gosto: não pode e não deve ser forçado a ninguém, muito menos a putos. No entanto, convém ter um conhecimento geral das áreas mais importantes (ciências, história, línguas, etc.).

Para que isso aconteça, convém que os alunos saibam reconhecer a importância destas áreas. Devido à imaturidade que se espera de alguém que anda na escola, esse reconhecimento depende, em grande parte, da relação entre o aluno e o professor. Como se costuma dizer na gíria infanto-juvenil, quando não se gosta de um professor, caga-se para a disciplina e para aquilo que o professor ensina. Essa relação é a mais importante. Também depende da imagem que o puto em questão tem das figuras de autoridade. Por outras palavras, depende da relação que tem com os pais. Isso complica ainda mais a tarefa já ingrata de um professor, que tem de servir de pseudo-pai ou pseudo-mãe para dezenas ou até centenas de pirralhos. Aqueles que são bem sucedidos neste contexto são aqueles alunos que trabalham muito, ou aqueles que absorvem conhecimento com mais facilidade. Não se pode ter tudo, por isso, aqueles com menor capacidade de absorção de conhecimento têm de estudar e praticar mais para que consigam um nível de desempenho exemplar. Com uma ética de trabalho tão grande, o sucesso é quase sempre garantido. Aqueles com maior facilidade quase nem precisam do professor para além daquilo que ouvem durante as aulas, mesmo com dúvidas ou não. Aqueles que nem são uma coisa nem outra precisam de maior auxílio. Quando não o têm em casa, precisam de um professor. Já para não falar das ocasionais fricções na sala de aula ― escusado seja dizer que o professor tem de ser alguém composto emocionalmente, e alguém seguro de si mesmo. Transmitir insegurança é motivo para ser alvo de chacota e não ser respeitado pela maioria dos alunos.

Ou seja, o perfil do professor é algo, a meu ver, tão ou mais determinante para o sucesso dos projetos educacionais. Não é só necessário que um professor “goste” de ensinar e de putos, mas convém que seja alguém emocionalmente inteligente, paciente, honesto, firme, etc. O professor não é um pseudo-pai/mãe, mas deve ser uma extensão, na medida em que é uma figura de autoridade que providencia um conhecimento específico acerca de determinado tema, ao mesmo tempo que tem de, de uma maneira menos pronunciada do que um pai ou mãe, atenuar tensões provocadas pelos alunos mais rebeldes, e energizar aqueles mais retraídos. Esse deve ser o verdadeiro pedagogo. Podia-se começar a elaborar o perfil do professor. O perfil do aluno é, no geral, uma boa iniciativa, mas temo que não se avance muito com idealizações e expetativas que um rapaz ou rapariga de 18 anos não consegue cumprir plenamente, pois o processo de aprendizagem consiste no exercer de influência no aluno por parte dos professores e dos pais. Um professor e um pai de porcaria é o suficiente para o gosto desvanecer. Já agora, um perfil dos pais vinha mesmo a calhar. Poupava-se muito dinheiro e muita energia.