Música e Comunicação: Canções de Intervenção
Tal como o Inglês, a música é uma língua universal. Mesmo que cantada em Francês, Italiano ou Português, todos nós sabemos dizer se ela é triste ou alegre. E, sendo uma língua universal, a música serve também de meio de comunicação, através do qual transmitimos o que nos vai na alma.
O quarto mês do ano chegou e, como tal, não podia deixar de juntar o útil ao agradável: a música ao mês de Abril. Acho que estão a perceber onde quero chegar. Se a música serve para comunicar, também serve para denunciar e, portanto, chegou a altura de falar da música enquanto voz, enquanto música de intervenção.
Foi nas décadas de 60 e 70 que a música de intervenção começou a ganhar vida. Feita para alertar quem a ouvia para o que se passava, rapidamente conquistou um lugar privilegiado no cancioneiro português. Hoje, cantores como José Carlos Afonso, José Mario Branco, Fausto e Sérgio Godinho fazem parte daquela que é história do nosso país, e a eles juntam-se outros, mais actuais, que mesmo não sendo considerados “cantores de intervenção”, fazem música que retrata a actualidade em Portugal.
Um dos temas mais emblemáticos deste género musical é o tema “Grândola, Vila Morena”, uma das senhas do golpe militar de 25 de Abril, que ainda tem presença assídua nas manifestações dos dias de hoje. Símbolo de revolução e do início da democracia, a ela juntam-se outros temas bem conhecidos (e, na época, censurados) de Zeca Afonso, como “A Morte Saiu à Rua”, “Menina dos Olhos Tristes” e “Venham Mais Cinco”.
Mas não só de Zeca Afonso se fez a música portuguesa dos anos 60-70. “A Tourada”, de Fernando Tordo, “Primeiro Dia”, de Sérgio Godinho, e “FMI”, de José Mario Branco também constam na lista dos mais conhecidos temas de intervenção. Sem esquecer, claro, o poeta Ary dos Santos, responsável pela letra de muitas destas canções de que vos falo.
Ainda que menos presente nos dias que correm, a música de intervenção continua a figurar, de certo modo, no panorama musical em Portugal, ainda que mais discretamente. Exemplos disto são temas como “Eu Esperei” e “Eu Não Quero Pagar”, de Tiago Bettencourt, “Febril”, dos Linda Martini ou até mesmo o êxito de Boss AC, “Sexta-feira”. Antigas ou novas, é bom termos presente a importância destas canções. Foi música como esta que falou por nós quando não o podíamos fazer.
As canções de intervenção não só foram a voz de uma geração, como são também o retrato do que se viveu e do que se passou em Portugal. Mas, no fundo, gosto de pensar na música de intervenção como algo intemporal, que não deve ser posto de lado, até porque afinal a música é um dos métodos mais eficazes de passar uma mensagem, seja ela boa ou má.
AUTORIA
Mariana Monteiro não faz telenovelas, mas escreve de vez em quando. Gosta de música, como todos os comuns mortais, e canta sempre que pode. Nos tempos livres, gosta de comer chocolate.
No parágrafo do texto que refere os cantoures e canções recentes de intervenção, considero uma falha grave (desconhecimento, talvez) não referir algumas canções dos UHF (banda claramente de natureza política) nomeadamente o tema de 2013 “Vernáculo (para um homem Comum)”. Recordo que esta canção foi censurada pela rádio, em pleno sec.XXI.