Caos é o quinto álbum de estúdio da cantora e compositora portuguesa Carolina Deslandes e saiu a 10 de março de 2023.  

Este álbum chama-se CAOS, porque aborda os aspetos mais tristes e caóticos da vida. Sobre o processo de criação, Carolina Deslandes disse o seguinte: “Tive medo da linguagem musical mais bruta, tive medo da linguagem visual mais bruta também, mas fazer canções é, por si só, um ato de coragem. Aprendi a vestir este disco sombrio, como em tempos vesti discos de amor.“

Raiva

Raiva é a primeira e, para mim, a pior canção do álbum. Não foi a melhor escolha como intro porque não representa o resto do projeto. 

O instrumental é eletrónico, o que contribui para o insucesso da canção, pois, a meu ver, fazer música sem instrumentos é meio caminho andado para se fazer má música. A melodia mantém-se praticamente igual do início ao fim e a mensagem da letra também não é clara. 

Raiva parece ter sido inspirada na canção Telemóveis de Conan Osiris, pois tem algumas parecenças e foi a primeira memória que esta canção me trouxe. Raiva é um verdadeiro caos e não no bom sentido.

Paz

Na segunda canção, Carolina compensa-nos e eleva a qualidade musical. Paz é o primeiro single, com vídeo e com promoção do álbum. Foi a primeira canção que o público pôde ouvir e foi uma ótima escolha como teaser do álbum. 

O instrumental é feito com uma viola, violino e violoncelo brilhantemente tocados pelos músicos Ana Pereira, José Pereira, Joana Cipriano e Marco Pereira. A letra é simples e bonita. Sobre o significado de Paz, Carolina disse: “A paz fala de uma separação e do medo do futuro, embora seja uma canção consciente da urgência de seguir em frente. Fala do lado mais sombrio e difícil do amor, sem deixar de ter rasgos e frechas de esperança.”

A Saia da Carolina

A Saia da Carolina foi lançada, no Youtube, no Dia Internacional das Mulheres. A cantora escolheu esta data para o lançamento porque a canção e o vídeo têm uma mensagem de empoderamento feminino. 

Esta canção é uma adaptação da música tradicional A saia da Carolina, que faz parte de uma tradição comum galego-portuguesa. Não se sabe ao certo onde surgiu ou quando; pensa-se que nasceu algures na Galiza ou pelo Norte de Portugal – é de origem anónima e de procedência desconhecida como a maioria das cantigas populares, mas a versão mais conhecida na Galiza é a da banda Fuxan os ventos.

Carolina Deslandes conseguiu melhorar uma canção que é cantada em Portugal há várias gerações, o que não é fácil. A cantiga original fala de uma menina chamada Carolina que quando baila mexe o lagarto que leva na sua saia e que namora com o(s) seu(s) amor(es). Tal como muitas canções tradicionais galego-portuguesas, tem sentido duplo que faz dela uma cantiga atrevida e pitoresca. Por exemplo, o rabo do lagarto faria referência à excitação do homem. A cantora alterou a letra da canção, transformando uma canção machista numa canção feminista. Desafia a ideia de que a rapariga que dança e usa saia tem de ter cuidado com a reação e a excitação dos homens. Transformou os versos “Tem cuidado, ó, Carolina não fique a saia rasgada/tem cautela, ó, Carolina não te caia a saia ao chão/ tem cuidado, ó, Carolina não lhes deixes pôr a mão” em “Cuidado com a Carolina/Que vem de punho cerrado/A saia da Carolina ardeu no meio do mato/A história da Carolina é que ela agora veste fato”.

Precipícios ft. Carlão

 A oitava faixa do disco é Precipícios, um tema pop/rock sobre separação e dor. É um registo completamente diferente das baladas pop a que a Carolina Deslandes nos habitou. Foi uma agradável surpresa e a artista devia explorar este estilo mais vezes.  

Trauma de Abandono

Na minha opinião, Trauma de Abandono é a melhor canção do álbum e a música portuguesa que mais me comoveu até hoje. A letra é claramente muito pessoal para a cantora, pois faz referências muito específicas que só podem ser inspiradas em vivências reais. O poema toca em temas como abandono, distúrbios alimentares, relações tóxicas, fé e inseguranças –  assuntos comuns a muita gente com que os ouvintes se poderão relacionar.

Vai Lá

Esta canção tem uma composição impecável e segue as fórmulas corretas desta ciência que é a música. Vai lá é daquelas canções que nos viciam na primeira vez que a ouvimos. Queremos clicar no replay para poder ouvir a melodia outra vez. 

A letra fala sobre relacionamentos abusivos, gasligthing e sobre a inteligência emocional das mulheres ser muitas vezes confundida com loucura. 

A Vida Toda pt.2

A Vida Toda Pt.2 é a segunda parte d’A Vida Toda, canção lançada por Carolina Deslandes em 2017. A Vida Toda foi o maior sucesso da artista e como ela própria já disse em entrevistas “o ponto de viragem da sua carreira.” 

Se A Vida Toda é a canção dos casamentos, A Vida Toda Pt.2 é a canção dos divórcios. É uma representação precisa de uma separação, da desilusão e da tristeza de abandonar um projeto de vida, que um dia julgámos ser para sempre. 

O poema foi escrito pela Carolina Deslandes e a música composta por Diogo Clemente, ex-companheiro da cantora. O detalhe de terem composto em conjunto a parte 2 confirma a mensagem da música – é possível haver respeito e amor mesmo depois do fim de uma relação.

Este álbum inclui também as canções Coisas no Silêncio, Odeia-me, Supermercado, ECO- A colours show, Conta-me, Terapia e Amei-te. 

O disco é de grande qualidade musical e lírica. É impossível ouvir este álbum e dizer que em Portugal não se faz boa música pop. 

Fonte da capa: Spotify

Artigo revisto por Catarina Policarpo