Opinião

Culpa tua ou da vida?

Muito se discute sobre o peso que o trabalho e as circunstâncias da vida têm no destino das pessoas. De um lado temos os oradores motivacionais que defendem que “tudo se consegue com esforço”, do outro os compreensivos que acreditam que tudo é uma questão de sorte. Os dois discursos são prejudiciais e falaciosos, o ideal seria um equilíbrio entre os dois, pois a verdade é que tanto o empenho do indivíduo como o seu contexto ditarão o seu futuro.

É crescente a popularidade das palestras e livros de auto-ajuda que não ajudam ninguém. O discurso “Se quiseres muito consegues” é enganoso porque a vida não é ideal. Às vezes nós queremos muito, trabalhamos muito e mesmo assim não conseguimos. Estes sermões dizem às pessoas que elas são as culpadas por não conseguirem atingir os seus objetivos, o que não é necessariamente verdade.

Este tipo de pregação ignora uma série de fatores e circunstâncias que também ditam o desfecho das coisas. O clássico conselho “Não acredite em nada que o limite” é péssimo porque, ao fingir que um obstáculo real não existe, perde-se a oportunidade de perceber como contorná-lo. A longo prazo isto não motiva, só causa frustração e abate, pois a força de vontade não basta quando se ignoram as circunstâncias.

Contudo, o raciocínio oposto não é melhor, a ideia de que quase nada está nas nossas mãos também é falaciosa. Apesar de o nosso esforço não ser garantia do nosso sucesso, aproxima-nos mais dele. As circunstâncias podem facilitar ou dificultar o nosso caminho mas chegar ao destino não é impossível para ninguém. Nós podemos decidir insistir, respirar fundo no meio do caos e seguir.

O discurso que divide as pessoas entre as privilegiadas que conseguem e as outras não produzem nada de positivo. Convencer as pessoas de que são oprimidas e que nada podem fazer além de se revoltarem e de se sentirem zangadas é dizer-lhes que estão condenadas a serem infelizes.

O destino não está escrito, nem está definido o lugar onde acabamos; este  é um resultado de escolhas e acasos. O melhor é assumirmos responsabilidade quando é devido mas percebermos que nem sempre é nossa, porque a culpa é tanto nossa quanto da vida.

Fonte da capa: unsplash

Artigo revisto por Mariana Saião

AUTORIA

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A Catarina tem uma paixão enorme pela escrita e pela criação, estando a licenciar-se em jornalismo na ESCS. Gosta de juntar palavras para contar histórias e estima ver as suas ideias em tinta e papel. Juntou-se à ESCS Magazine para fazer o que mais ama.