Literatura

O (des)encanto da poesia

   Estará a poesia, de facto, morta e enterrada? Talvez um pouco esquecida. E é urgente relembrá-la!

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Fonte: https://reportercoragem.com.br/destaque/dia-do-poeta-20-de-outubro/

Desde a sociedade pré-histórica que várias obras eram compostas em forma poética, de maneira a facilitar a sua memorização e transmissão oral. A primeira manifestação poética registada derivava de inscrições hieroglíficas egípcias, datadas do ano de 2600 a.C. Mas a verdade é que os tempos de glória da poesia já lá vão.

   A palavra poesia vem do termo latino poesis, que, por sua vez, deriva do conceito grego poiesis. Este último termo remete para o princípio pelo qual se dava o ato criador, no sentido em que, ao criar, o homem fazia o mesmo a si próprio.

   Desde a Grécia Antiga até à Sociedade Contemporânea, passando pela Idade Média e pelo Renascentismo, a poesia sofreu uma imensa (r)evolução. O género lírico pode ser dividido em três subgéneros: a poesia épica, sob a forma de narrativa que exalta os feitos do Homem; a poesia lírica, apresentada na forma de composições literárias com temas como o amor, a saudade e a morte; e a poesia dramática, que, com o passar do tempo, passou a ser representada no teatro.

   A partir da Idade Média, os sentimentos vão ganhando um lugar de destaque na arte poética, através da bem conhecida poesia trovadoresca. Já na época renascentista, com o aperfeiçoamento da escrita e o desenvolvimento de uma mentalidade crítica, a poesia era utilizada para melhor expressar os ideais das diferentes gerações, indo ao encontro dos pensamentos da época.

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Fonte: https://patchworkdasideias.blogspot.com/2018/01/o-poema-muda-o-sentido-do-caminho.html

Posteriormente, a poesia será também associada ao culto religioso, representando a dúvida e a incerteza face ao oculto e ao divino. Neste sentido, o uso de figuras como a metáfora, a antítese e a alegoria acentua-se, chegando até a ser exagerado.

    No fim do século XVIII dá-se a origem do Romantismo, marcado pela rutura com o pensamento clássico e pelo regresso aos modelos da Idade Média. A construção poética centra-se no Homem e vira-se, novamente, para a imaginação, o subjetivismo e os sentimentos.

“A poesia não é uma questão de sentimentos, é uma questão de linguagem. É linguagem que cria sentimentos.”

Umberto Eco

   Com as novas tendências sociais e filosóficas do fim do século XIX, nascem dois novos estilos literários: o Realismo e o Naturalismo, ambos centrados na crítica social e na análise dos problemas inerentes à realidade. O século XX é um ponto de viragem: surgem novos poetas, que aliam a evolução tecnológica à sua produção poética.

“A poesia é um modo de ler o mundo e escrever nele um outro mundo.”

Mia Couto

    Nos dias de hoje, a história já é bem diferente. Este género literário tem vindo a perder o interesse por parte dos leitores, sobretudo do público mais jovem. Para muitos, o estudo de obras de poetas como Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Florbela Espanca, António Gedeão e Miguel Torga – que deram um contributo enorme à poesia portuguesa -, é visto quase como uma obrigatoriedade escolar, sem qualquer utilidade.

   A narrativa é, geralmente, o género mais apreciado. A sua ação centra-se em acontecimentos, que constituem uma história – capaz de prender o leitor do início ao fim. O que acontece é que, cada vez mais, os leitores deixam-se ficar pelo lado “anedótico” da obra e não procuram refletir sobre a visão que o autor apresenta.

   Esta ausência de reflexão e de criatividade, motivada por um mundo mediático e automatizado, faz com que o leitor não se predisponha ao texto poético. A alegria das rimas, do ritmo e da musicalidade foi-se perdendo. No entanto, este não é o único motivo que explica o desencanto pela poesia.

    É urgente que a poesia acompanhe a inovação das novas gerações, se não quiser ficar para trás. A poesia no mundo atual deve ser utilizada para representar a realidade, para dar voz àqueles que não a têm, para enfrentar a tirania e a injustiça, para revolucionar. Mas também é necessário educar os leitores neste sentido. É preciso dar uma nova oportunidade à poesia!

“A poesia é, ao mesmo tempo, um esconderijo e um altifalante.”

Nadime Gordimer

Artigo revisto por Vitória Monteiro

AUTORIA

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Ana Cardoso é uma aprendiz de jornalista. Desde cedo que a leitura e a escrita se tornaram duas das suas grandes paixões. As palavras alimentam a sua alma. Mas desde que ingressou no curso de Jornalismo na ESCS descobriu que tem 3 amores: a televisão, a rádio e a imprensa escrita. Só ainda não decidiu de qual deles gosta mais.