O fim-de-semana mais cor-de-laranja do ano
Apesar da chuva, o fim-de-semana em Valência, no circuito Ricardo Tormo, não podia ter corrido melhor para a KTM. O mais impressionante é que a sorte esteve presente não numa, mas nas três categorias.
Sexta-feira começou cinzenta e chuvosa. No entanto, os resultados ao longo dos três dias em Valência contornaram o azar meteorológico. Que o diga a equipa de fábrica da KTM que, para além de ter subido ao pódio nas três categorias, conseguiu resultados históricos.
Antes de mais, Moto3. Os pilotos ainda não tinham arrancado e permaneciam à espera nos seus lugares na grelha de partida. A ocupar o quarto lugar estava Can Öncu (RedBull KTM Ajo). «E quem é ele?», perguntam vocês. Para esclarecer as dúvidas, fez-se ouvir no altifalante uma voz que chamava a atenção do público para o piloto em questão. Trata-se de um piloto turco, o único em competição, com apenas 15 anos, também o único em competição. Só aqui já havia novidades. Mal se imaginava o que ainda estava para vir. O jovem foi apresentado como uma “grande promessa” que estava a participar nesta prova como wildcard e que participa atualmente na RedBull Rookies Talent Cup, de onde saíram pilotos como Johann Zarco (Monster Yamaha Tech3) e Miguel Oliveira (RedBull KTM Ajo).
Mal foi dada a ordem de partida, Öncu já estava nos lugares da frente. Pouco depois, já estava em 2º lugar, atrás do espanhol Tony Arbolino (Marinelli Snipers Team). Como se não bastasse um segundo lugar para um estreante, o turco parecia ter mais truques na manga. É aí, então, que Arbolino escorrega totalmente sozinho e deixa o caminho livre para o rookie da KTM tomar a liderança. Ninguém queria acreditar naquilo que estava a acontecer – nem o próprio piloto, nem a equipa que, cada vez que passava na reta, lhe fazia sinal para ter calma e usar a cabeça. Na última volta, antes do final da prova, ainda deixou escorregar a mota, conseguindo, por sorte, controlá-la e cortar a meta num incrível primeiro lugar. Fez-se história na categoria de Moto3 com o piloto mais jovem de sempre a vencer uma corrida. Isto para além do facto de ter sido a sua estreia na categoria.
No entanto, a sorte cor-de-laranja não se ficou por aqui e na corrida de Moto2 todos os olhos estavam postos em Miguel Oliveira e Luca Marini (SKY Racing Team VR46). Ambos tinham conseguido bons tempos durante o fim-de-semana, mas Luca Marini conseguiu a pole position. Já Miguel Oliveira ficou-se pelo 10º lugar na grelha de partida. Apagam-se os semáforos e os pilotos arrancam. Logo na primeira curva, caiem o homem da pole, Joan Mir (EG 0,0 Marc VDS), e Lorenzo Baldassari (Pons HP40). Xavi Vierge (Dynavolt Intact GP) e Iker Lecuona (Swiss Innovative Investors) estavam na frente, mas não tardou muito até que Miguel passasse para segundo e, depois, para primeiro. Quem também vinha atrás era Alex Marquez (EG 0,0 Marc VDS). O piloto espanhol estava no encalce do português e não desistiu enquanto não o ultrapassou. Nesta altura, o grupo já estava bastante dividido em consequência de algumas quedas. Com Marquez na frente, o apoio fazia-se sentir nas bancadas, ou não estivéssemos nós em solo espanhol. Mas Oliveira não desistiu, como nunca faz. Sabia que tinha ritmo e boa aderência nas curvas. Marquez já começava a mostrar as suas fraquezas e Oliveira não as deixou passar despercebidas. O espanhol já tinha escorregado duas vezes e, como se costuma dizer, à terceira foi de vez e caiu mesmo. Oliveira nem teve de pedir licença e retomou a liderança. Concentrado, assim permaneceu até encontrar a bandeira de xadrez, com o segundo classificado, o valenciano Iker Lecuona, a passar a meta apenas 13 segundos depois do português. Já para não falar de Marquez que, por milagre, ainda conseguiu ir ao pódio, ficando com o terceiro lugar.
Com a vitória de Miguel Oliveira, e apesar da queda do seu colega de equipa, Brad Binder, a KTM sagrou-se pela primeira vez campeã por equipas. Mais um momento histórico para a fabricante holandesa e para o português, que fechou a época com uma vitória.
As surpresas não ficaram por aqui e, surpreendentemente, continuaram em MotoGP. Antes de mais, a corrida começou com tanta chuva que, várias quedas depois, teve de ser dada a bandeira vermelha para parar a prova, que seria recomeçada algum tempo depois. O piloto da KTM, Pol Espargaro, já tinha mostrado que se sentia particularmente confortável na mota neste circuito e principalmente com a pista molhada. Numa corrida que foi tudo menos seca, Espargaro conseguiu, depois de uma queda antes de ser mostrada a bandeira vermelha, estar sempre na luta com os pilotos mais rápidos e chegar ao terceiro posto. Quando cortou a meta nem quis acreditar. Mais um momento único na box da KTM, desta vez na classe rainha.
Este foi o primeiro pódio do espanhol em MotoGP, que nunca sequer tinha estado próximo de o conseguir. Era fácil ver a emoção no rosto do piloto da KTM, que celebrou com toda a equipa, com a família e, principalmente, com o irmão, Aleix, que também teve bons resultados em Valência, apesar da queda que o tirou de pista na corrida.
Será este um virar de página para a equipa? Em 2019 muita coisa vai mudar, nomeadamente os pilotos. Miguel Oliveira, por exemplo, será uma baixa na equipa de fábrica da KTM, em Moto2, visto que o piloto luso segue para a classe rainha, para a Tech 3.
Agora, no entanto, é altura de celebrar os títulos conquistados e começar a preparar tudo para a próxima época.
Artigo corrigido por Lurdes Pereira