O mediatismo e o insólito acima do conteúdo político
Vivemos num momento em que o conteúdo das propostas políticas perdeu importância. Curiosamente, antes as pessoas saíam da política e iam para a televisão. Agora, é o inverso.
O mediatismo passou a ser critério na escolha de candidatos políticos. Vimos isso nos casos de Nuno Graciano, candidato do Chega a Lisboa, e de Suzana Garcia, candidata do PSD à Amadora.
Há aqui uma opção por candidatos que vão gerar muita atenção mediática, muitos cliques, muitas peças televisivas, mas cujo pensamento político é pouco trabalhado. Isto deve fazer-nos refletir sobre a forma como a política está a usar o insólito que é indiscutivelmente um valor-notícia, para manobrar os media. Os media veem-se neste momento reféns destas estratégias.
Há como contornar o insólito que é a candidatura de Suzana Garcia à Amadora por um partido histórico em Portugal? Não. Até porque surge no contexto da aproximação do PSD ao Chega.
Mas, daqui em diante, e levando em conta as duras aprendizagens que os media têm vindo a fazer na forma de lidar com o crescimento do populismo, cabe-lhes gerir com pinças a atenção mediática que vão dar à candidatura de Suzana Garcia. Porque a candidata do PSD não é mais que os outros e porque não é bom incentivar a que o espaço político se continue a subverter desta forma.
Uma boa reflexão seria pensar sobre a duração excessiva dos nossos telejornais. Será que mais tempo significa maior aprofundamento ou significa que se perde o foco do que é essencial?
Com telejornais mais curtos, se calhar não veríamos tanta coisa que tem espaço em Portugal para ser normalizada. Este poderia ser um passo para combater a desproporção que há entre a atenção mediática que é dada a certas propostas políticas e a representação parlamentar de quem as concebe.
É que levantam-se aqui questões pertinentes. Os media aproveitam-se do insólito para ter audiência ou têm de falar do insólito, porque o insólito é um valor-notícia? Só que na questão dos telejornais a resposta pode ser mais simples. Onde é que há telejornais tão prolongados como os nossos…? Aí não há dúvidas de que a intenção é chamar a audiência e, portanto, o conteúdo merece especial escrutínio.
A televisão hoje em dia obedece às redes sociais. Ora, o digital teve uma interferência nas nossas vidas. Veio acelerar a nossa necessidade de que algo de insólito ou inesperado aconteça. Já não estamos bem se tal não irromper igualmente pelos telejornais adentro. O sentido crítico esfuma-se. Torna-se mais difícil perceber o que é normal e o que não é.
Fonte da imagem de destaque: depositphotos
Artigo revisto por Inês Pinto
AUTORIA
É amante do futebol e da paixão pelo desporto desde muito cedo. Tem enorme brio naquilo que faz, no conhecimento que procura sobre esta área. Sonha ser jornalista desportivo e marcar pela diferença, por trazer o futebol jogado para a discussão.