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‘O Melhor Croissant da Minha Rua’ merece o título

Nesta altura do campeonato, decerto já fitaste, na rua ou nas redes sociais, uma caixa branca e azul, toda bonita, cujo conteúdo é ainda melhor. Refiro-me às caixas que transportam ‘O Melhor Croissant da Minha Rua’. O cheiro destas delícias já emana por 11 ruas que se localizam em Sesimbra, Avenidas Novas, Setúbal, Carcavelos, Alcântara, Odivelas, Alvalade, Laranjeiras, Azeitão, Almada e Cascais. No entanto, não te preocupes: não tarda, chega à tua.

A história teve início em Sesimbra. André Cidade, o homem por detrás do negócio, recorda-se vivamente de jogar à bola dentro da fábrica dos pais: “Eles não tinham tempo para brincar comigo”,relembra. Durante o seu crescimento, não ficou indiferente aos bolos confecionados pelos progenitores. “Comecei a reparar que sobravam sempre alguns croissants”, afirma antes de esclarecer que foi a partir daqui que começou a tentar evitar este desperdício. Depois de se dedicar aos croissants, deixou de ter mãos a medir. Começaram a sair 50 todos os dias, fruto do aperfeiçoamento receita que levou anos. Além das vendas, conquistou-lhe, por parte do melhor amigo, o título de melhor croissant lá da rua. Tratava-se de uma brincadeira entre os dois, pois não havia competição próxima. Eram os únicos e chegavam. 

Legenda: As tais caixinhas brancas e azuis são ótimas para quem quer levar e comer fora.
Fotografia de Sofia Nunes

A verdade é que André não pretendia fazer do negócio da família o seu futuro. Enquanto viveu em Itália, tirou um curso de gelados artesanais. Em 2009, foi o curso de piloto de aviões comerciais. No entanto, o destino estava escrito e era uma palavra francesa. Quando a família emigrou para a República Dominicana, tomou as rédeas do projeto e, em 2014, nasceu ‘O Melhor Croissant da Minha Rua’. A primeira loja abriu dois anos depois, em 2016, a 4 de setembro, precisamente na rua onde tudo começou. E o resultado está à vista de todos: o primeiro negócio que se foca única e exclusivamente em croissants. “Mas, no final das contas, o que têm esses croissants de especial?” A melhor forma de entender é mesmo dar-lhes uma oportunidade. Por mais que tente descrever, não há nada como provar. Antes de se dirigirem a uma loja, verifiquem o seu horário de funcionamento, pois varia de estabelecimento para estabelecimento.

Os colaboradores utilizam acessórios da cor da marca e, em tempos de pandemia, todos têm uma máscara personalizada que garante que estão sempre com um sorriso na cara.
Fotografia de Sofia Nunes

Outro dos grandes diferenciadores d’O Melhor Croissant da Minha Rua é a importância que atribuem às pessoas – quer aos clientes, quer aos colaboradores. André não se revê no típico patrão e considera-se, em vez disso, um amigo. “Cada vez que abrimos uma loja, eu passo lá os primeiros cinco dias para orientar e ficar a conhecer os clientes”, assume. Além disto, é André quem entrevista a maior parte dos colaboradores, na tentativa de lhes incutir o amor à camisola e de reduzir o distanciamento comum entre chefe e chefiado. Por norma, elege os funcionários perfeitos que se tornam ‘da casa’ e que ganham um carinho especial pela marca, acabando por passá-lo aos clientes. “É muito importante formar as pessoas, fazer um acompanhamento minucioso”, acredita André, que, devido à sua boa memória, diz saber os nomes de todos os funcionários e conhecer grande parte dos clientes. O seu objetivo é acabar com a desvalorização das pessoas que trabalham na restauração. 300 funcionários depois, diria que está a cumpri-lo.

O processo de feitura dos croissants é também fora do comum. Ninguém diria que passam por 24 horas de preparação. O segredo, para André, está “na consistência, no equilíbrio e na diferenciação do produto.” Há que saber potenciá-lo e isso não é tarefa fácil. “Hoje em dia, todos têm uma opinião. Toda a gente sabe fazer tudo, mas ninguém sabe fazer nada!”, exclama André, num tom divertido. Fala-nos do quanto as novas tecnologias vieram facilitar as tentativas, as imitações; do quanto fazem o público acreditar que qualquer um consegue fazer qualquer coisa. Esta ilusão acaba por dificultar a missão de surpreender, pois há quem pense que faria melhor ou que é fácil copiar. Também por isso, n’O Melhor Croissant da Minha Rua, tentam superar-se.

Todos os croissants são recheados na hora.
Fotografia de Sofia Nunes

O produto nunca está mais do que três horas na montra – aliás, dificilmente está mais do que uns minutos, dado o escoamento rápido que testemunhamos em loja. É também realizada uma avaliação para perceber o estado dos croissants que são confecionados às 6 horas da manhã. Em loja, antes de serem servidos, voltam ao forno para cozerem e são recheados no momento da aquisição. O método é mais trabalhoso, mas vale a pena. Nos melhores dias, são vendidos 1500 croissants por loja. Por semana, isso representa cerca de 70 mil croissants. Esta realidade ultrapassa os clientes que estão longe de imaginar a quantidade de produto movimentado, bem como todo o processo por detrás de um “simples” croissant.

Os preços variam entre 1,20€ e 3,80€ e há croissants para todos os gostos. Preferes um bom salgado? Podes escolher o típico croissant misto ou o de requeijão, doce de abóbora e nozes. Se procuras um almoço rápido, vai pelo croissant de frango com salsa, pelo de atum ou até pelo de salmão, queijo Philadelphia e cebolinho. O de presunto e queijo seco e o de queijo fresco, tomate e orégãos também podem ser a alternativa a uma refeição mais pesada. Se, como eu, preferes os doces, o difícil é escolher entre doce de morango, Nutella, chocolate negro, doce de ovo ou Kinder Bueno e avelãs. Demasiada escolha? Podes sempre optar pelo simples. Este, o misto, o de doce de ovo e o de Nutella são os best-sellers. Em termos de preferência do chefe, ganha o de doce de ovo, que, segundo André, “é o que combina melhor com o nosso croissant” e, ainda por cima, é caseiro. Em adição, todos os meses existe um “croissant especial do mês”, que, se for um sucesso, passa a integrar o menu a tempo inteiro. Em outubro, apostaram no croissant de compota de figo com queijo de seia e nozes. A fotógrafa provou este mesmo e eu deliciei-me com o de Nutella.

As fotografias não fazem jus ao aspeto e sabor dos croissants.
Fotografia de Sofia Nunes

Com a pandemia, fecharam as lojas durante apenas uma semana. Como seria de esperar, os números desceram, também resultado da diminuição das mesas devido às medidas de segurança. No entanto, o take-away aumentou, bem como as encomendas. Durante esta altura, reabriram com pão, uma estratégia para garantir que os clientes continuavam a procurá-los. Hoje, descontinuaram o produto, pois pretendem focar-se no seu nicho. Além dos croissants, servem ainda sumos naturais, sopas e toda a variedade de cafetaria. Para já, não têm croissants sem glúten.            

Quanto a planos para o futuro, nem o céu parece ser o limite. Para além de tencionarem ter, pelo menos, duas zonas de preparação dos croissants, querem expandir o negócio. Não só em termos de aumento das áreas das lojas, como em número. Ainda este ano, inaugurarão uma loja na Alameda dos Oceanos, na Expo. No ano que vem chegam ao Norte, começando pelo Porto.

Entre outros lugares, é na Avenida da Igreja que se formam filas pelos melhores croissants
Fotografia de Sofia Nunes

Como se não bastasse conquistarem Portugal, planeiam expandir internacionalmente. A receberem cinco pedidos de franchising por dia, não admira. A loja de Alvalade, que visitámos, é um franchising. Joana Antunes é uma das sócias-gerentes e começou como cliente. Ficou rendida após visitar o espaço em Sesimbra e fez-se luz. Alvalade revelou-se o sítio perfeito, pois é rico em comércio e vida local. As obras começaram no final de março, pelo que abriram com restrições e não conhecem, até agora, outra realidade. No entanto, o negócio tem corrido bem e sente que estão em “contraciclo”. As filas à porta que formam ziguezagues e a quantidade de fornadas de croissants que saem durante a entrevista não deixam margem para dúvida.

Com todos os projetos futuros, é bem possível que “O Melhor Croissant da Minha Rua” apareça na sua
Fotografia de Sofia Nunes

Há 25 anos a virar frangos – neste caso, croissants –, André parece ter descoberto o segredo para o sucesso. Foi aos 14 que pôs a mão na massa pela primeira vez. Descobriu no croissant o produto mais internacional de todos, um potencial escondido. Pessoalmente, depois de provar estes croissants, posso afirmar que merecem o título. Nunca havia experimentado um croissant tão macio, com uma cozedura, a meu ver, no ponto. Não poupam no recheio, pelo que não ficamos a desejar apenas a parte central. As lojas estão decoradas de acordo com a imagem da marca, têm wi-fi e permitem levarmos o resto do croissant numa caixinha, caso não o terminemos. Os preços são super acessíveis e justificáveis. Resta-me desejar que o melhor croissant chegue à minha rua.

Artigo revisto por Maria Madeira

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