O (não tão) fantástico mundo das bloggers
Tudo pelos “likes”; nada contra os “likes”!
Anda tudo a falar de Essena O’Neill, uma australiana de 18 anos que é “famosa” no Instagram. Ou, se calhar, era. Essena tinha cerca de 750 mil seguidores na rede social e era paga por cada publicação que partilhava lá. Uma simples fotografia a usar determinada peça de roupa podia valer-lhe largas centenas de euros. Essena parecia ter uma vida quase perfeita: parecia é a palavra-chave.
A rapariga cansou-se de fingir ser algo que, afinal, não era e começou eliminar algumas fotografias e editar as legendas das restantes, mostrando a realidade associada a cada uma das partilhas. Numa delas, por exemplo, escreveu: “ISTO NÃO É REAL. Foi preciso tirar 100 fotos iguais para o meu estômago ficar bem. Quase nem comi neste dia. Quase gritei com a minha irmã mais nova para continuar a tirar fotos até ter, de certa forma, orgulho nisto”. Em muitas outras fez o mesmo. Depois, apagou todas as contas que tinha em redes sociais e criou um blogue onde tentou explicar o motivo da sua decisão.
Eu não estou aqui para falar da Essena, mas estou aqui a escrever isto por causa da Essena. Não é o primeiro — nem será o último — caso de alguém que vive uma vida online diferente da sua vida real. Há uns quantos casos portugueses de pessoas que admitem publicamente fazer tudo por um “like”. Quando digo tudo… é mesmo tudo. Não há limites.
No mundo dos blogues (que está fortemente associado às redes sociais), no qual me insiro, é cada vez mais comum haver parcerias entre bloggers e marcas. Conheço muitas bloggers que recebem produtos em troca de publicidade. Umas recebem só os produtos, outras recebem-nos e são pagas para falar deles. Acho que é uma coisa natural: receber algo, falar desse produto e ser-se pago por ter falado. Não vejo qualquer problema nisso.
No entanto, nunca conseguirei perceber as pessoas que fazem tudinho por um “like” ou por uma visita. Quando as visitas e os “likes” são mais importantes do que o conteúdo algo está muito errado. Eu tive um blogue durante mais de seis anos. Quando decidi encerrá-lo tinha mais de 418 mil visitas, 10 vezes mais seguidores do que aquilo que tenho agora, e estava farta dele. Houve alturas, nesses seis anos, em que me interessava muito pelo número de visitas. Agora, eu quero é escrever. Claro que é bom ter visitas, claro que sim. Mas há diferenças entre querer visitas como resposta a um bom conteúdo e entre querer visitas como resposta a conteúdo — seja bom, mau… ou péssimo.
Imagem: youtuber Jina Kim
O problema dos blogues e das redes sociais é que só mostram uma parte (a boa) da vida. Mas será que deviam mostrar mais? Não acho que seja errado escolher partilhar apenas coisas boas. Para quê encher as redes sociais de queixumes? Há tempos li algo sobre as bloggers se mostrarem nos blogues com roupa e maquilhagem perfeita e estarem a preparar essas publicações de pijama, sem qualquer produto na cara, sem qualquer vestígio do “glamour” que aparentam nas redes.
Para mim é normal haver uma edição e um filtro. Claro que eu não vou mostrar a minha vida tal como ela é nas redes sociais. As pessoas não precisam de saber tudo o que se passa na minha vida e, por isso, eu só partilho aquilo que sei que toda a gente pode saber. Claro que vou escolher a melhor fotografia. Por que raio escolheria uma fotografia má se tenho uma muito melhor e que merece ser partilhada?
A verdade é mesmo essa: eu posso estar a publicar fotografias bonitas e que aparentam uma vida perfeita enquanto estou em casa de pijama, a comer os restos da semana passada e a sentir-me miserável. Mas se eu escolho partilhar algo melhor, algo positivo, é porque sinto que é mais importante partilhar algo bom do que encher as redes sociais de ainda mais ódio e negatividade. Mas isso sou eu.
Esta questão dos blogues continuará a ser tratada na próxima semana… fiquem atentos!
AUTORIA
Sofia Costa Lima nasceu em Trancoso, em 1994. Estuda Jornalismo e é
apaixonada por escrita. Tem um blog pessoal desde 2009 e publicou dois livros — em 2013 e 2014. Colabora com a Associação Juvenil de Trancoso desde 2013, fazendo parte da equipa responsável pelo Jornal Escrever Trancoso.