O Tesouro Emblemático da Cidade de Lisboa
No tempo em que um confinamento ainda estava longe, batia o fim de semana e os mercados e feiras que vendiam de tudo um pouco multiplicavam-se aqui e ali. As terças e sábados, por sua vez, eram dias santos em Lisboa, mais precisamente no Campo de Santa Clara.
Imortalizada num poema de Sérgio Godinho, a mais tradicional e antiga feira lisboeta remonta ao ano de 1272, quando ainda era feita no interior do castelo. Ganhou o nome “Feira da Ladra” em 1610 e, depois de ter passeado por toda a cidade, acabou confortavelmente instalada, em 1882, no Campo de Santa Clara – perto do Panteão e do Mosteiro de S. Vicente de Fora.
Numa das zonas mais autênticas e bonitas da cidade, a Feira da Ladra começava a ganhar forma por volta das 10 horas da manhã, mas a maior dica para encontrar uns ricos achados é chegar cedo e guardar tempo para poder visitar todos os espaços e barraquinhas. A variedade é muita, espalhada por tendas, bancas ou simplesmente panos estendidos no chão, onde comerciantes expõem os seus artigos na esperança de conseguir arrecadar algum dinheiro.
Uma panóplia de artigos novos e usados, passando por móveis, livros, roupa, discos ou quadros. Além de podermos encontrar objetivos diferentes, a grande maioria destas velharias tem uma história particular que os vendedores fazem questão de nos contar até ao mais ínfimo detalhe, oferecendo, assim, uma experiência única neste que é um tesouro emblemático da cidade de Lisboa. Na Feira da Ladra, portugueses e estrangeiros encontram-se para se encantarem com este tipo de comércio que oferece um ambiente único de feira.
Entre os bairros de Alfama e da Graça, a melhor forma de chegar à feira é sair na estação de Santa Apolónia e ir a pé até ao mosteiro de São Vicente de Fora. Já o melhor sítio para entrar na Feira da Ladra e deixarmo-nos envolver num ambiente de verdadeira caça ao tesouro é entrar pelo arco de São Vicente, onde o icónico elétrico 28 faz uma das paragens na viagem em câmara lenta pelo coração histórico da cidade de Lisboa.
Apesar de as raízes remontarem ao séc. XIII, este tesouro emblemático é ainda hoje um lugar imperdível. Atualmente, com a situação que vivemos, a feira encontra-se encerrada, mas brevemente poderemos voltar à busca incessante de velharias, objetos em segunda mão e artesanato.
Por outro lado, e longe do Campo de Santa Clara, começaram também a surgir Feiras da Bagageira um pouco por todo o lado. O conceito não é novo, sendo até bastante conhecido no Reino Unido, mas essencialmente consiste num mercado semelhante às vendas de garagem norte-americanas – a diferença é que aqui a venda é feita num parque de estacionamento. Fazer do carro uma banca de vendas é fácil, mas, se há quem abra a mala do carro, há também quem vá só para encontrar artigos em segunda mão de qualidade e a um preço acessível. E tu? Qual é o teu lado da força?
A vender ou a comprar, esperamos que brevemente as feiras e mercados voltem à agenda da cidade de Lisboa. Nada como absorver o ambiente típico de uma feirinha típica de fim de semana ou, no caso da Feira da Ladra, uma feirinha de terça-feira.
Artigo revisto por Maria Ponce Madeira
Fonte da capa: @zapiski_ksiazkowe
AUTORIA
A Ana caiu no curso de jornalismo de para-quedas e encontrou nele uma paixão desconhecida por descobrir as histórias que ainda faltam contar. Adora passear pela cidade de Lisboa, mas também gosta imenso de ficar no seu cantinho a ver as suas séries de conforto. Tem a certeza de que o seu futuro passará pela comunicação e espera dar frutos na área da rádio.