‘Obri Brigadeiros’: o doce (com) sabor a casa
Era o dia da criança em 2019. Nasce a Obri Brigadeiros, motivada pela “paixão unida à necessidade”. Tal como o nome e a fotografia de capa indicam, o produto principal da Obri é o brigadeiro, “seja ele em bolinha, em recheio ou em cobertura”, porque, explica a fundadora, “mesmo havendo outros doces no menu, todos eles possuem brigadeiro de alguma forma.”
Mariana Machado, 25, é quem está por detrás da Obri. Formada em Publicidade e Propaganda, deixou Porto Alegre, no Brasil, acompanhada pelo seu namorado, para tirar o mestrado em Marketing Digital, em Lisboa. Foi cá que se deparou com a paixão pela confeitaria: “Não tenho nenhuma formação em gastronomia nem em confeitaria, mas sempre gostei de fazer doces em casa para a família, e hoje posso levar amor e carinho até à casa das outras pessoas.” Chegou em março de 2019, mas, com “toda a burocracia e documentação” necessária para permanecer em Portugal, não estava a conseguir emprego nem “manter as contas em dia”.
Foi assim que, em maio deste ano, teve a ideia de fazer doces para vender. Começou a planear o desenvolvimento de toda a marca e, em junho, lançou a Obri. Curiosamente, logo após o lançamento, conseguiu arranjar emprego na área, mas desistir dos doces não estava nos seus planos. Geriu os dois projetos durante um ano e meio, com a ajuda do namorado. Hoje, Mariana trabalha apenas com a Obri e tem a certeza de que foi a melhor escolha que fez. Explica-nos que, no Brasil, existe o costume de abreviar as palavras. Assim, nas conversas informais, um “obrigado” passa a ser “obri”. É uma palavra muito dita pela jovem “para agradecer as coisas boas da vida.” Para além desta importância, “obri” também pode ser considerado “o brigadeiro”.
Mariana garante que, mesmo antes da pandemia, a produção já era feita com todos os cuidados de higiene. Assim, esses cuidados apenas foram reforçados e realizados com “ainda mais atenção para que todos fiquem seguros.” Aliás, a criadora da Obri considera a pandemia uma oportunidade e sente que a mesma, para além de fazer com que trabalhasse ainda mais, também fez com que o seu negócio crescesse: “As pessoas estão em casa isoladas e um docinho é a melhor prenda para trazer amor e conforto para os corações.”
Segundo Mariana, o negócio está a correr “muito bem, cada vez melhor e com mais procura”, sendo que a resposta aos brigadeiros tem sido “incrível” desde o início. O número de encomendas excedeu as suas expectativas, principalmente tendo em conta que, à data, acabara de chegar a Portugal e não tinha muitos amigos para a ajudarem na divulgação. Porém, para si, é fácil definir quem mais procura: “A grande maioria dos meus clientes são brasileiros e eles sempre falam que os meus doces diminuem um pouquinho a saudade que eles têm do Brasil, com um sabor doce e caseiro, e isso me enche de orgulho do que faço.”
A Obri ainda não possui uma loja física, mas a mesma está nos planos para, o mais tardar, 2022 (em Lisboa). Até lá, as encomendas podem ser levantadas nas Olaias, à porta da casa de Mariana, onde são produzidos os doces. Se preferirem a entrega, serão enviados pela Bolt. Deste modo, o pagamento tem de ser feito antes do ato da entrega por MBWay, transferência bancária ou por Paypal. Chegam a nossa casa num saco personalizado, bem como as caixas. Também podemos contar com um cartão de visita e um lacinho.
Os pedidos são feitos através do Facebook, Instagram ou Whatsapp, ficando ao critério do cliente a rede social pela qual prefere entrar em contacto. As tortas, por necessitarem de uma produção mais elaborada, precisam de ser encomendadas com pelo menos 48 horas de antecedência. Por sua vez, os bolinhos e brigadeiros apenas precisam de ser encomendados com 24 horas de antecedência.
O brigadeiro best-seller é o tradicional, de leite. Mesmo sendo o mais simples, é o clássico “que não dececiona ninguém”, garante Mariana: “Por mais que o cliente queira pedir brigadeiros de sabores diferentes, o tradicional está sempre presente nas suas caixinhas.” Em segundo lugar está o brigadeiro de ninho com Nutella. Já no ranking de Mariana, os favoritos são o tradicional, de leite, e o de coco queimado com ovos: “são dois sabores incríveis e que lembram muito a minha casa”, explica, assegurando que nunca se enjoa deles! Fora os brigadeiros, também os bolos no pote e as tortas têm muita saída, sendo o primeiro para o consumo diário e o segundo para festas e aniversários.
Depois de provar o tradicional (da fotografia acima), entendo o porquê de ser o best-seller, pois também foi o meu preferido. De seguida, no meu pódio, coloco o de leite ninho com Nutella, seguido do brigadeiro de churros com doce de leite e, por último, o de Ferrero (avelãs com Nutella). O clássico não leva as habituais raspinhas de chocolate, mas não se dá pela falta delas. O de leite ninho sabe, de facto, a leite, sendo comparável, talvez, à parte branca do chocolate Kinder. O de churros também é fiel ao nome, pois parece que estamos a deliciar-nos com um, e o de Ferrero fica no final da tabela classificativa, porque não sou a maior fã de frutos secos e penso que acabam, neste caso, por anular o sabor que deveria ser predominante: o do chocolate.
Ainda assim, no geral, os ingredientes estão bem equilibrados. Os brigadeiros são sóbrios e têm a consistência no ponto. Contudo, o menu está sempre a sofrer alterações. Mariana pensa em produtos que gostaria de adicionar à carta e planeia a época ideal para o lançamento. Antes de começar a divulgação, vai fazendo testes para ver se resulta: “Já tive produtos que inseri no menu e que não tiveram muita saída e outros que estão desde o início fazendo sucesso”. É assim que, ao analisar o feedback dos clientes, vai montando o menu “até ficar perfeito.”
O processo de seleção dos ingredientes “foi com certeza a etapa mais trabalhosa no planeamento da Obri.” Para começar, tanto os ingredientes como as marcas diferem de Portugal para o Brasil. Isto levou a que Mariana tivesse de “comprar várias marcas do mesmo produto e ir testando até perceber os defeitos e qualidades de cada um.” Além disto, a exigência da criadora da Obri também veio dificultar o processo: “Sou bastante crítica com doces; não gosto de doces sem açúcar nem doces demais, não gosto de doces açucarados e duros e, para mim, eles precisam de estar sempre novos e cremosos e os ingredientes fazem toda a diferença nesse processo.”
Mas a produção não acaba aqui. Também o embalamento merece especial atenção para que os doces “cheguem perfeitos ao consumidor”. O mesmo difere consoante as necessidades e é tendo isso em conta que Mariana desenha as embalagens e dá as indicações às empresas que as produzem: “Penso sempre na experiência do consumidor ao receber o produto: como vai ver os doces? Como vai transportar? Como vai retirar o doce da embalagem? Se sobrar doce e precisar de guardar novamente, como vai fazer isso?” O doce segue numa caixa personalizada com carimbos da marca, que, por sua vez, vai dentro de um saco para o transporte. Inclui ainda uma fita por motivos estéticos, bem como “para garantir que a caixa não vai se abrir”.
Os clientes voltam a comprar na Obri pela cremosidade e pela frescura dos produtos, sendo que todos os doces são feitos algumas horas antes da entrega. Além disso, também regressam pelo cuidado no atendimento: “Cada encomenda na Obri é uma conversa onde eu e o cliente tentamos chegar no doce perfeito para o momento perfeito.” E, claro, pela aparência dos produtos: “Recebo muitos elogios de que os doces e as embalagens são lindas, perfeitas para presentear alguém ou para uma festa”. Para Mariana, é a qualidade dos produtos e o amor em cada um deles que fazem com que a Obri “seja desejada, admirada e recomendada”.
Fotografias da autoria de Mariana Coelho
Artigo revisto por Miguel Bravo Morais
AUTORIA
Depois de integrar a maioria das secções da revista, a Mariana ficou encarregue de incumbir esta paixão aos restantes membros. O gosto pela escrita esteve desde sempre presente no seu percurso e a licenciatura em Jornalismo veio exacerbar isso mesmo. Enquanto descobre aquilo que quer para o futuro, vai experimentando de tudo um pouco.