One More Time With Feeling
Sempre sofri e sempre sofrerei de uma melomania moderada (que se inclina para o exacerbada) e, portanto, defendo que o ritmo, a melodia, a harmonia e, obviamente, a personalidade e o talento de quem nos transmite esses elementos exercem influência nos seres humanos.
Neste artigo não pretendo contar-vos uma história da carochinha em que digo que a 1ª Arte (consoante a numeração “em vigor”) é extremamente poderosa porque assim e assado e pronto. Decidi basear-me em factos científicos e noutros de cariz emocional, na medida em que uma coisa é certa: odeio ouvir frases estranhas como “oiço música quando calha” ou “só oiço aquilo que passa na rádio”, porque todos nós possuímos uma identidade musical, que, muito sinteticamente, se baseia na música que nos faz sentir bem devido a vários fatores, como aquela que os nossos pais ouviam e, consequentemente, nos influenciou, ou até a que espelha melhor os nossos sentimentos. Até é possível separar os indivíduos por duas categorias: aqueles que se ligam mais aos instrumentos e possuem uma identidade musical instrumental, e aqueles que preferem ouvir a música e têm uma de géneros musicais. E não inventei isto, meus caros e minhas caras. Foi o Dr. David Hargreaves, especializado na psicologia da música, que realizou os mais variados estudos para chegar a estas conclusões.
Se tivermos em conta a relação que se estabelece entre a música e o desenvolvimento humano, percebemos à partida que o cérebro compreende a primeira como uma forma de linguagem. A forma como os vários hemisférios percecionam as componentes musicais já foi estudada: o lado esquerdo processa elementos como o ritmo e os intervalos musicais, enquanto o direito já está mais ligado à métrica e à melodia. Na prática, podemos recorrer à nossa memória musical. Quantas vezes associamos um excerto de uma música dos anos 90, por exemplo, a uma atual? E quando uma determinada letra nos faz recordar de imediato acontecimentos marcantes em que a mesma podia estar a tocar?
Os psicólogos, musicólogos, musicoterapeutas, etc. dividem a música em dois estilos – sedativa e estimulante – sendo que a primeira corresponde àquela que engloba andamentos lentos e harmonias básicas, e a segunda aumenta o ritmo cardíaco e a pressão arterial, podendo até apelar à realização de atividade física.
Agora, terei definitivamente de vos dar um exemplo concreto: uma das minhas bandas preferidas é os The Script, cujo repertório é composto por temas que provocam uma sensação de relaxamento, o que propicia a reflexão, como Breakeven ou The Man Who Can’t Be Moved, mas também por outros como Paint The Town Green ou Rock The World que nos levam, no mínimo, a mexer os pés freneticamente, e, no máximo… Talvez a saltar para o palco (depende dos limites de cada um, claro!).
A relação ‘banda/cantor(a) – fãs’ tem vindo a mudar drasticamente. Hoje em dia, se formos a um concerto, gravamos um direto para o Instagram, tiramos umas fotos para o Twitter, escrevemos em 140 caracteres aquilo que sentimos ao ouvir a nossa música preferida e, na pior das hipóteses, conversamos com membros interessantes da fandom em que estamos inseridos (sim, porque a melhor corresponde a receber um follow back ou até a uma direct message de quem tanto gostamos).
Como jovigirl e scriptette dedicada (para os leigos: fã dos Bon Jovi e dos The Script), admito que tanto passei por muito como recebi, igualmente, muito em troca: desde enviar uma carta para a Austrália e conseguir uma resposta via Twitter dos The Script (tendo em conta que esta possibilidade era remota), até tweetar numa tarde para a conta dos Bon Jovi e receber um follow porque o John me respondeu “ask and you shall receive”. Sou testemunha da alteração do panorama de relacionamento entre quem cria a obra e quem a admira.
Como gosto de me certificar de que não direi disparates, li um artigo intitulado The Psychology of Queuing e consolidei uma ideia que tinha: se entrevistarmos alguém no aeroporto que se encontra à espera da sua bagagem, a resposta que se ouve com regularidade é “não aguento mais”, todavia, se nos colocarmos estrategicamente à porta do MEO Arena, às 8h, em dia de concerto, poderemos ver olheiras, ouvir bocejos, quiçá observar sapatos e casacos a voar após algumas horas de sol/chuva e desespero, mas descontentamento? Nunca. E isto porquê?
Quem estudou o comportamento das pessoas enquanto esperam por algo percebeu que, se estivermos ocupados, sentimos que o tempo passa rapidamente – por exemplo, antes de um evento musical travamos conhecimentos, cimentamos amizades, tentamos ser reconhecidos pelos nossos ídolos…
A incerteza é um flagelo para quem espera, mas na música isso só existe quando tentamos adivinhar o tema de abertura ou arranjar um estratagema para nos infiltrarmos no Meet & Greet fantástico que decorrerá.
Por fim, a solidão destrói quem aguarda. Porém, estar só é quase impossível se estivermos cinco, seis, sete… menos ou mais horas numa fila para um concerto. Quando tocamos na mochila de alguém, pedimos desculpa, e a pessoa pergunta-nos se gostámos do último álbum; quando o suor nos escorre pela cara e nos sentamos no chão escaldante, três ou quatro pessoas juntam-se a nós – elas podem ser do Algarve e nós do Porto -, e ali surgem risos, aspetos em comum, promessas de combinar encontros no futuro; quando fazemos parte do clube de fãs, passamos o dia a pintar faixas, a preparar os presentes de agradecimento, a cantar e a dançar e a fazer o diabo a sete.
Por isto e muito mais, sou apologista de uma vida repleta de música. Chorei demasiado quando o Richie Sambora (mais conhecido por King Of Swing) abandonou os Bon Jovi, jurei a pés juntos que teria um ataque cardíaco caso visse os The Script – e isso não aconteceu (estive só perto de desmaiar) -, perdi o telemóvel a meio de um concerto dos Rolling Stones, gravei o Salvador Sobral no CCB em nome da MAGAZINE – e correu mal porque uma segurança claramente percebeu que era uma journalist wannabe… Mas no fim de tudo, afirmo com convicção: “Não faz mal. Que venha o próximo concerto e que eles cantem e toquem sempre mais e mais, e com sentimento!”.
AUTORIA
Se virem uma rapariga com o cabelo despenteado, fones nos ouvidos e um livro nas mãos, essa pessoa é a Maria. Normalmente, podem encontrá-la na redação, entusiasmada com as suas mais recentes descobertas “AVIDeanas”, a requisitar gravadores, tripés, câmaras, microfones e o diabo a sete no armazém ou a escrever um post para o seu blogue, o “Estranha Forma de Ser Jornalista”… Ah, e vai às aulas (tem de ser)! Descobriu que o jornalismo é sua minha paixão quando, aos quatro anos, acompanhou a transmissão do 11 de setembro e pensou: “Quero falar sobre as coisas que acontecem!”. A sua visão pueril transformou-se no desejo de se tornar jornalista de investigação. Outras coisas que devem saber sobre ela: fica stressada se se esquecer da agenda em casa, enlouquece quando vai a concertos e escreve sempre demasiado, excedendo o limite de caracteres ou páginas pedidos nos trabalhos das unidades curriculares. Na gala do 5º aniversário da ESCS MAGAZINE, revista que já considera ser a sua pequena bebé, ganhou o prémio “A Que Vai a Todas” e, se calhar, isso justifica-se, porque a noite nunca deixa de ser uma criança e há sempre tempo para fazer uma reportagem aqui e uma entrevista acolá…!