«Os Despojos do Dia»
Se os despojos provêm do homem, se é ele quem os cria, é necessário mostrá-los – aos olhos do homem e para o homem -, numa imagem quase idealista num espaço quase perfeito, mas que nada mais é senão a Natureza. É a partir deste mote que surge «Os Despojos do Dia», uma exposição de fotografia da autoria de Rui Dias Monteiro. Esta pôde ser visitada entre o dia 21 de janeiro e o dia 5 de março na Galeria 50, na Rua do Alecrim, em Lisboa.
«Os Despojos do Dia» é uma série de imagens de Cabo Verde que Monteiro eternizou através da sua máquina fotográfica e da sua sensibilidade quase imediata para a perceção daquilo que se evidencia num espaço natural.
O autor pretende manter a fotografia tão simples e natural quanto a própria paisagem que a rodeia; como tal, não faz quaisquer retoques nas imagens em termos de edição, apenas algumas correções de luz.
já são terra à deriva
onde ondas
como desertos ao vento
se misturam entre nós
e roem à costa»
O objetivo é considerar os «despojos» como sendo mais do que lixo, mais do que objetos ignorados pelas pessoas no seu quotidiano. Aqui, a ideia não é criticar a presença desses mesmos objetos na natureza devido à ação humana, mas tentar observá-los de outra forma: traços singulares de uma paisagem única.
E um aspeto importante: nada foi colocado com o propósito de ficar bem e de ser fotografado; os objetos já estavam nos locais onde foram vistos por Rui Dias Monteiro.
Por fim, o que mais chama a atenção é a conjugação de fotos numa linha cromática inteligente, com contrastes óbvios como o apresentado na imagem 3.
Rui Dias Monteiro apresenta-nos, assim, uma outra imagem do real; uma imagem que vai além do óbvio, do que é considerado aceitável; e consegue-o apenas com três coisas: a máquina fotográfica, o desperdício e a Natureza.