“A Cadeira de Onde Saem as Notícias” foi uma das várias palestras organizadas pela ESCS MAGAZINE como comemoração do seu 7º aniversário. Dedicada aos jornalistas que não saem para o terreno, veio abordar este que é um d’Os Pecados dos Media.
Rafaela Simões, Editora-Chefe da nossa revista, esteve muito bem acompanhada, no dia 22 de abril, por Pedro Miguel Coelho, fundador do Espalha Factos, e por dois ex-escsianos: João Costa, atualmente freelancer, e Rúben Martins, jornalista no Público.
O percurso de João Costa passou por locais como a RTP, o Diário de Notícias, o Sapo e o Observador. Hoje, graças às circunstâncias da vida, decidiu trabalhar por conta própria, o que lhe garante mais espaço e uma maior liberdade. João é o oposto de um jornalista de secretária. Chega a levantar-se às cinco, seis horas da manhã para preparar peças e, posteriormente, tentar vendê-las aos meios: “Nenhum dos jornais pensou em fazer isto, vou eu fazer. Vou chegar-me à frente e pode ser que eles queiram comprar.”
Licenciado em Ciências da Comunicação pela FCSH, Pedro Miguel Coelho é hoje proprietário do Espalha Factos. Criou-o com o intuito de ser uma plataforma que catapulta as pessoas para o mundo exterior, onde podem começar a fazer os testes para, mais tarde, irem para o terreno. Começar a fazer rádio aos 14 anos ajudou-o a superar o medo e a ganhar à vontade na área da comunicação. Durante o debate, reconheceu que os jornalistas enfrentam um enorme choque de realidade quando entram para o mundo do trabalho. Por isso mesmo sublinha a importância de começar desde cedo a sair da zona de conforto. Ainda que seja intimidante, é fulcral para o desenvolvimento de um jornalista aprendiz. “É sempre benéfico complementar os trabalhos jornalísticos com entrevistas, que decorrem de levantarmos o rabo da cadeira” – esta frase, de Pedro Miguel Coelho, fez soar risadas no foyer do -1. Adepto do jornalismo proactivo, acha que os jornalistas “vão ser sempre melhores se derem a palavra a outra pessoa.”
Ruben Martins chegou a ocupar o cargo de Diretor de Informação da ESCS MAGAZINE. Hoje, depois de se licenciar em Jornalismo, frequenta o doutoramento em Ciências da Comunicação do ISCTE-IUL. A par com o estudo, trabalha no Público, onde desenvolve o recente projeto dos podcasts. Para Ruben, é fulcral que os jovens consumam jornalismo, ainda que estejam mais inclinados para o online. O jornalista reconhece que é necessário bastante esforço, rigor e precisão. É um ramo em que não se pode ser superficial, pois está cada vez mais dependente do conteúdo de agência.
Os três oradores refletiram acerca do facto de a falta de dinheiro ser muitas vezes desculpa para a monotonia do jornalismo, para o “jornalismo preguiçoso”. Muitas redações não têm os meios necessários para mandarem jornalistas para o terreno. Por isso mesmo, há um número crescente de enviados especiais, diminuindo o de correspondentes. Ainda assim, concordaram que a iniciativa própria é um must. “Hoje, é cada vez mais fácil chegar aos sítios sem se ter de ir para lá”, afirmava João Costa. O vasto leque de oportunidades oferecido pelas tecnologias (como a videoconferência) permite ultrapassar grande parte das barreiras. Tal como dizia Pedro Miguel Coelho, “há várias maneiras de estar na cadeira.”
De facto, o problema não é sentarmo-nos ocasionalmente. É, sim, não levantarmos o esqueleto das nossas cadeiras, sejam metafóricas ou literais. A cadeira simboliza o conforto, aquilo que nos impede de rumar ao desconhecido. Se houve um consenso estabelecido, foi o de que devemos, com urgência, levantar-nos. Nós, jornalistas, não podemos sucumbir ao sedentarismo, quando as melhores histórias estão fora das quatro paredes. E às vezes estão na ESCS, como foi o caso desta palestra.
Fotografia “thumbnail” tirada e editada por Carolina Galvão (número f)
Revisto por Ana Roquete