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Os Pecados dos Media: A Pressa Inimiga da Verdade

Foi com o mote d’Os Pecados dos Media que se debateu o atual estado frenético do jornalismo.

Para celebrar o seu 7º aniversário, a ESCS MAGAZINE organizou um conjunto de palestras onde se discutiu o jornalismo: da necessidade de meios independentes ao sedentarismo dos jornalistas, foram vários os temas abordados por profissionais da área.

“A pressa inimiga da verdade” foi o título da palestra moderada por David Piedade, aluno de mestrado em jornalismo. Estava acompanhado por Samuel Alemão, diretor editorial e redator d’O Corvo, jornal dedicado à cidade de Lisboa; João Paulo Vieira, d’O Polígrafo, “O primeiro jornal português de Fact-Checking”; Marta Costa, jornalista no Correio da Manhã; e Sara Antunes de Oliveira, jornalista no Observador.

Todos concordaram que a pressa é inimiga da reflexão. Durante a conversa, foi bastante referido o efeito que os avanços tecnológicos têm na disseminação informativa. Vieram facilitar o nosso acesso à informação, não há dúvida, mas esta tanto pode ser fidedigna como errónea. Para João Paulo Vieira, há que lutar contra a “quantidade maliciosa de informação com que somos bombardeados todos os dias”. Ter na ponta dos dedos todo o conhecimento que desejamos pode ser contraproducente se não desconfiarmos da veracidade de tudo, se não verificarmos aquilo que lemos na Internet.

Os quatro profissionais partilharam a realidade frenética das redações, cuja composição é cada vez menor. Nesses espaços, paira agora no ar a pressão de enviar, o mais rápido possível, as notificações para os dispositivos dos leitores. O primeiro a cortar a meta ganha, e todos querem o seu lugar no pódio. Ao deixarem passar cinco minutos que seja, vão receber um número muito menos significativo de cliques, o que prejudica os números do meio de comunicação em causa, como alertou Marta Costa. Os meios têm agora uma presença digital bastante forte e “as redações têm-se adaptado a esta realidade para garantirem que têm isto oleado”, dizia Sara Antunes de Oliveira da ponta da mesa.

Uma imagem com parede, interior, chão, pessoa

Descrição gerada automaticamente
Fotografia e Edição de Carolina Galvão

Para Sara Antunes de Oliveira, “a pior coisa que pode acontecer a um jornalista é dar uma notícia errada.” Ainda assim, acontece a muitos, porque “a corrida para dar a notícia o mais rápido possível negligencia a confirmação das fontes e a verificação dos factos, dois passos elementares para um conteúdo noticioso”, sublinhou – e bem – Marta Costa. Nestes casos, quando temos duas informações, mas apenas uma delas está confirmada, para a jornalista é preferível avançar apenas a que é verídica, guardando a dúbia. Na eventualidade de transmitir informação falsa, Sara Antunes de Oliveira acha que qualquer jornalista deve ter a capacidade de admitir que errou, pedir desculpa, e explicar e esclarecer o sucedido. É preciso ser-se metódico e disciplinado, porque, “como é tudo para o segundo a seguir”, já dizia Sara Antunes de Oliveira, é partilhada muita informação incorreta. A verdade, constata, é que “os mecanismos de verificação e a disponibilidade das pessoas para confirmarem as informações mudou.”  

É um dado adquirido que a inovação das ferramentas digitais é muitas vezes inimiga do bom jornalismo. Esta guerra entre o jornalismo e as fake news faz com que os jornalistas vivam, mais do que nunca, numa corrida contra o tempo: “é como ser malabarista – temos de tentar ser o mais rápido possível sem nunca descurar da verdade”, comparava Marta Costa. No entanto, para Sara Antunes de Oliveira, o futuro pode ser risonho, tendo em conta que a nova geração é “uma esperança para o mercado da comunicação social.” Ainda assim, sabe que, se os cidadãos “não pagarem por boa informação, ela vai desaparecer.” Felizmente, acredita que efetivamente existem pessoas dispostas a pagar por boa informação, que o fazem por saberem que disporão de um artigo redigido por especialistas, com uma qualidade que não encontrariam no Facebook.

Com semblante carregado, João Paulo Vieira sentenciou que “ainda não foi redescoberta uma forma que permita à imprensa voltar a ganhar dinheiro.” Eis uma questão que não foi possível solucionar durante a palestra. Não obstante, foi possível descodificar muitas outras no foyer do -1, no passado dia 22 de abril. Fica o agradecimento, por parte da ESCS MAGAZINE, aos quatro profissionais que brindaram os alunos com a sua presença e as suas palavras.

Fotografia “thumbnail”: capturada e editada por Carolina Galvão (número f)

Artigo revisto por Ana Rita Curtinha

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