Papillon (1973)
Nos anos 30, os mais perigosos condenados franceses eram enviados para a Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, a fim de cumprir as suas sentenças. Numa nova horda de condenados estão Henri “Papillon” Charrière (interpretado por Steve McQueen), um homem injustamente condenado a prisão perpétua, e o falsário Louis Dega (Dustin Hoffman).
A história de Papillon (“papillon” significa borboleta em francês e era a tatuagem que Charrière tinha no peito) é uma história verídica e foi inicialmente publicada num livro homónimo em 1969, tendo sido adaptada ao cinema quatro anos depois. Ainda assim existem rumores de que Charrière se apropriou da história do verdadeiro autor, René Belbenoît, homem que terá realmente vivido e escrito sobre esta experiência… Fica a dúvida.
Mas regressemos ao grande ecrã. O filme mostra-nos o decurso da sentença de Papillon, a partir do momento em que embarca rumo à Guiana Francesa. No navio conhece Dega, um falsário condenado a cinquenta anos de prisão por fraude e contrafação. Imediatamente os dois homens travam improvável amizade e Papillon aceita dar proteção a Dega em troca da sua ajuda nas tentativas de fuga. Ao chegarem à prisão é-lhes dito que é impossível fugir. Como consequência, a primeira tentativa de evasão equivale a dois anos na solitária, a segunda dá direito a cinco anos enclausurado e assim sucessivamente (quantas mais fugas, mais tempo na solitária).
Mas nada disto demove Papillon, que clama pela sua inocência e vai fazer de tudo para escapar àquele terrível sistema penal. A amizade entre Papillon e Dega vai crescendo e é graças a ela que, apesar das terríveis condições em que vivem, ambos vão sobrevivendo. No filme, Papillon tenta escapar por duas vezes, mas sem êxito. As cenas em que o vemos na solitária espelham as condições degradantes e deploráveis em que os reclusos viviam, mas ao longo do filme vemos também os trabalhos penosos e humilhantes aos quais os presidiários eram sujeitos e forma como eram tratados. Mas, mesmo quando tudo parece mais sombrio, existe sempre uma chama, por mais pequena que seja. E essa chama foi a amizade entre Papillon e Dega, que nunca esmoreceu e se manteve acesa até ao fim.
O filme desenrola-se de uma forma lenta, extensa e profunda e é apenas nos momentos de euforia, de uma sensação de liberdade iminente, que o ritmo narrativo se altera. Ainda assim, o espectador vai sendo confrontado com o sentimento de solidão, desespero e eupatia do exílio daqueles homens. Destaque também para as distintas interpretações de Steve McQueen e Dustin Hoffman, que conseguiram transpor de forma notável para o grande ecrã toda a emoção das personagens, muito graças às transformações físicas e mentais a que Papillon e Dega vão sendo sujeitos ao longo da história.
Mais do que uma grande história de aventura, este é um verdadeiro hino à luta pela sobrevivência, provando que muitos dos problemas que assolavam a sociedade e o Homem, naquela época, permaneceram até aos dias de hoje.