Páscoa, amigos e Alentejo
Sou um alentejano orgulhoso. Espero nunca me esquecer de tudo o que o Alentejo me ensinou. Apenas tenho pena de já só ter sotaque quando falo com os meus conterrâneos. No entanto, no meio de expressões, cozinhados e hábitos há algo que eu prezo ainda mais. Talvez não seja algo tipicamente alentejano mas é algo que existe muito em terras pequenas como as que abundam nesta vasta região.
As amizades no Alentejo são diferentes. Para quem já viveu nos dois mundos as diferenças são fáceis de identificar. Estas são amizades que duram desde sempre e são para a vida. Daquelas que nunca perdem força independentemente do tempo que passa. Tu sabes que, mesmo após 10 anos sem se falarem, podes aparecer ao pé dessa pessoa e ela não te deixará pendurado. Não acontece com todos, obviamente, mas são amizades com a mesma idade do que nós.
Eu tenho amigos que conheço literalmente desde que nasci. Amigos que nasceram na cama ao lado da minha. Claro que não é isso que forma a amizade. Este facto apenas a reforça. Aquilo que faz com que a amizade seja tão intensa e duradoura é que a viagem é sempre feita em conjunto. Quando há apenas um infantário, uma pré-primária, uma escola primária, uma básica e uma secundária não é difícil o grupo manter-se unido.
Na cidade até podem começar juntos mas raramente chegam à faculdade sem se separarem. Ou nunca mais se vêem ou então lá se vão juntando e separando pelo caminho. Foi com estas pessoas que cresci e com quem passei todos os meus dias. Para mim são como irmãos. Depois somos poucos, o que só aumenta os sentimentos. Somos apenas estes. Poucos mas bons. Temos que nos ajudar e não podemos virar as costas uns aos outros ou então corremos o risco de acabar sozinhos.
Estas são amizades que nunca vais querer perder ao mesmo tempo que sabes que tal nunca vai acontecer. A Páscoa é tempo de família, no entanto, este ano abdiquei desse tempo para reviver as amizades de que aqui falei. A malta de 1995 juntou-se em minha casa para continuar tal como começámos. Alguns vejo com mais frequência do que outros mas nada disso me retirou a sensação de ter estado com todos no dia anterior.
É uma boa sensação ter a certeza de que vou ter amigos para a vida. Amigos que, no fundo, são família. Por isso, até acabei por manter a tradição familiar nesta Páscoa.
Soluções da crónica anterior:
AUTORIA
O Pedro acha-se muito esperto mas quem for ver percebe que no fundo é apenas parvo, mas já morreu uma vez e esteve para morrer outras duas, por isso tem desculpa.