Pensar Fora da Caixa
Há muitos lugares-comuns. Em todo o lado nos dizem que é preciso “pensar fora da caixa”, o que, de certa forma, não deixa de ter uma certa ironia. Apelam-nos a que sejamos diferentes da mesma forma que todos os outros o fazem. Dizem-nos que temos de fazer a diferença, não acrescentando sequer uma vírgula ao discurso de todos os outros. O “pensar fora da caixa” está bem dentro da caixa e nada é mais do que um exercício de travestismo linguístico que eu gosto de acompanhar e aprecio até (o único travestismo que acompanho e aprecio, diga-se). É dito desta forma como se fosse uma ideia nova, mas a ideia é a mesma: pensar diferente; ser diferente; fazer a diferença.
Eu pus-me a imaginar como deve ser uma conversa de elevador nos dias de hoje:
“ – Já viu este tempo? Tão depressa faz sol como chove”.
“ – Antigamente não era assim…”
“ – Quando eu era miúdo, em Março já fazia calor”.
“ – Outros tempos. Agora é tudo mais difícil…”
“ – Só para alguns. Eles nem os impostos pagam!”
“ – Isto ia lá era com um novo 25 de Abril…”
“ – Ou com um Salazar. Até a esse lhe acabaram com o ouro”.
“ – Bandidos!”
(breves momentos de silêncio até o elevador estar quase a chegar ao destino)
“ – Está difícil, está”.
“ – É preciso pensar fora da caixa para levar isto para a frente”
“ – Não há outra hipótese… Bem, tenha um bom dia”.
“- Bom dia”.
Ainda há quem diga em inglês. “Think outside of the box”. Deixa de ser um lugar-comum para passar a ser um “common-place”. Ou então um slogan para uma publicidade da NOS aos seus pacotes televisivos.
“Pensar fora da caixa” não é suficiente. Uma pessoa deixar de bater com um cinto no filho para passar a bater com o filho no cinto é “pensar fora da caixa”, mas não vai melhorar nada. É mais importante pensar de forma diferente do que pensar em coisas diferentes. Não se pode exigir que todas as pessoas encontrem coisas de que os outros precisam e ainda não foram inventadas, mas deve-se pedir que sejam únicas. As pessoas são todas diferentes e os lugares-comuns apenas são um esforço individual para tentar ser igual aos demais. Não é por aí o caminho.
AUTORIA
O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.
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