Grande Reportagem, Informação

Por detrás da Livraria Lello

“Quem vai percorrendo a sala vê então a escada, que é uma peça de surpreendente atracção, pela aparência de leveza que encobre a audácia da sua concepção. Sente-se o desejo de subi-la e sente-se o receio de que o nosso peso a faça abater.”, podemos ler no Álbum Descritivo da Livraria Lello, à medida que os sentidos se alteram, transportando-nos para outro mundo. O olhar atento de quem procura um livro há muito desejado, o toque suave de quem tem medo de rasgar uma página, a mistura de cheiros de livros seculares com livros acabados de chegar, o barulho de rua que é sobreposto a musicalidades que vão de Debussy a The Gift e, por fim, a sede de cultura que todos os visitantes pretendem saciar.

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Quem passa pela Rua das Carmelitas, no Porto, não fica indiferente ao número 144. O edifício que outrora acolheu a Livraria Chardron é hoje a casa da Livraria Lello, fundada pelos irmãos José e António Lello. Mundialmente conhecida não só pela sua riqueza literária, como também pela sua beleza arquitetónica, a livraria atrai cada vez mais visitantes vindos de todas as partes do mundo.

Desde a sua inauguração a 13 de Janeiro de 1906 que a livraria é um local de visita obrigatória para aqueles que passam pela Invicta. A máquina fotográfica está presente nas mãos dos visitantes e é junto à icónica escadaria que se concentram os flashes e tentamos não ser emplastros nas fotografias dos outros. Sejam eles portugueses ou estrangeiros, estão todos deslumbrados com o encanto da livraria.

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“Temos muitas visitas de portugueses, mas maioritariamente de estrangeiros. Em época alta recebemos em média 3500 pessoas por dia. Em época baixa são cerca de 1500”, afirma Carla Ribeiro, diretora da livraria.

Andrea Lazaro e o namorado vêm de Madrid e estão pela primeira vez na Livraria Lello e no Porto. “Estivemos mais de duas horas dentro da livraria a folhear alguns livros e, claro, a tirar fotografias [risos]. É um espaço muito bonito e mágico. Gostamos muito e de certeza que vamos voltar”.

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“O facto de J.K. Rowling se ter inspirado na nossa livraria e de, mais tarde, o Porto ter vindo a ser um destino turístico muito procurado fez com o número de visitantes aumentasse exponencialmente”, conta Carla Ribeiro, quando lhe perguntamos o porquê de, em julho deste ano, terem sido começados a cobrar 3€ por visitante. “Voltar a ser uma livraria”, confessa-nos, “foi o principal objetivo. Antes do novo sistema de entradas, os acessos eram caóticos; entrava-se em quantidade, tiravam-se fotografias e não se consumiam livros. Agora”, conta-nos aliviada, “podemos proporcionar a todos uma melhor experiência livreira”. O valor da entrada é, no entanto, totalmente dedutível na compra de qualquer um dos livros. Com este novo sistema, Carla Ribeiro afirma ainda que, para além de os comprarem, as pessoas sentam-se e folheiam os livros, o que, segundo a mesma, “era algo muito difícil de acontecer devido ao tráfego de pessoas”.

É no piso inferior que a euforia turística mais se faz sentir. Não é só nas estantes que os grandes escritores estão presentes neste edifício que em muito se assemelha a um museu. Ao fundo da escada podem ser encontrados dois bustos em bronze de Eça de Queirós e Miguel de Cervantes, dois dos mais reconhecidos escritores da Península Ibérica. Ainda no piso inferior, podemos encontrar estantes com armários envidraçados, que resguardam os livros mais antigos da livraria, obras raras e primeiras edições.

À medida que subimos a escadaria, a euforia turística desvanece-se. Assim, o primeiro piso é inundado por uma harmonia que não se faz sentir à entrada da livraria. É, por isto, um espaço de reflexão e onde as pessoas se recostam e folheiam, atempadamente, cada página – seja num dos sofás dispostos pelo piso ou no pequeno bar.

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A insígnia decus in labore – dignidade no trabalho – pode ser encontrada desde os souvenirs ao vitral que se encontra no teto. A imponente estrutura de gesso pintado, com 8 metros de comprimento e 3,5 metros de largura, tem, enlaçada ao monograma dos “irmãos unidos” – como eram conhecidos -, a respetiva insígnia. Matilda Linberg, uma das 20 funcionárias que se encontravam na livraria no dia 20 de Novembro, explica-nos que este culminar de significados é a regra de ouro da livraria, aplicável a todos os que nela entram – sejam colaboradores ou curiosos.

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