Porque é que sou jornalista
O pensamento crítico é uma força motriz na compreensão do mundo. A dúvida o propulsor de todas as coisas. É função primária do Homem, pelo menos desde Descartes, questionar todas as coisas ad nauseam. Neste universo da dúvida quase paranoica, não há fruto mais apetecível do que o da interpelação aos poderes vigentes. Por poderes vigentes não podemos exclusivamente englobar o poder político-executivo e o judicial. Acima desses está o 4º poder: a capacidade do controlo da informação – o artifício de retransmitir conhecimento mascarando-o e permeando-o com ideias profundamente orientadas para uma crença não neutra. Os media têm esta jurisdição; o império de naturalizar certas ideias (a repetição ad infinitum de um pensamento que o leva a metamorfosear-se em verdade na nossa cabeça – um exemplo atual seria a mastigação nauseante da direita política que afirma categoricamente que “a austeridade é a única solução para a atual crise económica”) e de implantar certas ideologias, muitas vezes não intencionalmente (consequência do estado democrático onde vivemos), no suposto espelho da realidade que é o jornalismo.
Infelizmente, uma dúvida mais metódica aplicada ao discurso em geral, e ao discurso jornalístico em particular, era quase impossível, pelo menos até à chegada de Teun Van Dijk, Norman Fairclough e Michel Foucault, entre outros. Estes autores forneceram-nos as ferramentas para a dissolução do monopólio informativo e para uma nova definição transparente da comunicação de massas: os media são espelhos distorcidos; meros atores dentro de uma realidade social, reprodutores da hegemonia e do discurso natural. Mas como “onde há poder, há resistência”, é função da análise crítica e é obrigação do leitor atacar as hegemonias e desconstruir as realidades. Analisar o discurso serve de processo dinâmico para estabelecer uma mudança, para quebrar com as ideologias de topo. Este desfiar serve, em última instância, para eliminar a dependência exclusiva de informação altamente filtrada por parte de um público que é sub-repticiamente “manipulado”.
Sinto que é este o meu dever. Ser cão. Não o pastor alemão que defende a casa dos corporativistas e que gane sempre que pisa a poça. Quero ser pitbull, um cão de ataque, que mantém a classe política e financeira em trela curta. O jornalista deve servir as pessoas. Deve servir o santo graal da objetividade. O problema é que o fervor do poder e o medo das represálias permite que o “verde” se deposite nos grupos de comunicação. É esta a psicologia da corrupção. Aqui enfrentamos um problema: eu, individuo, por mais força de vontade que tenha, não consigo alterar o topo da cadeia, ou seja, sou impotente face aos interesses dos CEO’s e diretores do grupo a que pertenço.
Se não podemos confiar nos media mainstream, permeados de influência e ideologia política, que solução temos?
Só os grupos independentes. Aí está a chave para limpar a informação, objetivar as notícias, apresentar os números e não esconder opinião pura atrás de motifs como “Fair and Balanced” (o infâmio slogan do canal americano Fox News, que nada mais é do que propaganda para o partido republicano). Deixamos de ter um leilão informativo e passamos a ter a verdade.
Christopher Hitchens disse-o, sucintamente, da seguinte forma: “Eu tornei-me um jornalista, porque não queria ter de confiar nos jornais como a minha fonte de informação.”
AUTORIA
João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.