Poster Mostra – pelas ruas de Marvila
Portugal parece estar a encher-se de iniciativas artísticas, parece que a cultura começou a importar, de alguma forma, e se tornou passível de ser gratuita, acessível às massas. Ainda está por determinar se fazer de Portugal uma referência no que toca a street art é algo “para inglês ver” ou se algures dentro do ministério da cultura borbulhou um desejo de dinamizar a esfera artística portuguesa e de tornar as formas de expressão cultural em algo não apenas aberto a membros da classe média alta. Independentemente do que as motiva, as iniciativas são boas e há em todo o lado, espalhadas pelas zonas metropolitanas. O que nem sempre quer dizer que resultem.
Marvila, uma zona recôndita da cidade, parece ser elegível para este tipo de arrojo – há uns anos estava em decadência, mas agora parece ser a preferida para jovens lançarem negócios de restauração, para empreendedores instaurarem lounges de música ao vivo e para projetos que aliam o poder da palavra à força da imagem – o Poster Mostra.
A ideia por detrás desta iniciativa é interessante e inteligente, baseada no cariz comercial e bélico que os posters desempenharam ao longo dos séculos, não tivessem sido os cartazes os percursores da mobilização de massas, quer fosse para a compra de detergentes, quer fosse para a adesão a um ideal político mais ou menos subversivo.
Os 20 artistas que tiveram a oportunidade, ou o desejo, de colocar as próprias palavras e imagens em pedaços de lona fizeram-no de forma a vender o seu próprio peixe – não fosse o objetivo captar a essência propagandista do cartaz –, mas espelhando a atualidade, os problemas, os dilemas, os lugares comuns da sociedade contemporânea ocidental.
As mensagens passadas, as letras gigantes, as cores vibrantes dos cartazes que encheram as ruas (apenas duas ou três, para dizer a verdade) desta zona citadina, contrastam com o degredo que ainda a caracteriza, com o cheiro a esgoto do Tejo, com as sombras frias provocadas pela sobrelotação das calçadas por edifícios. A própria escolha desta zona de Lisboa para fazer uma mostra artística grita arte, diferença, mudança, com muitos dos cartazes a disfarçarem buracos nas paredes – a arte a preencher lacunas.
Porém, se o objetivo deste projeto era atrair agregados familiares ou de turistas para Marvila não foi bem conseguido. A mostra não foi publicitada de forma abrangente, as zonas escolhidas para a disposição da galeria não são atrativas a nenhum nível – quer estético, quer comercial –, o que pareceu restringir este empreendimento a uma elite instruída. O acesso à instrução visual continuou a ser limitada, desta vez, não pelo preço, mas pelo acesso e conhecimento de determinados círculos.
Fotografia: Carina Albino