Grande Entrevista e Reportagem

Propagandarte, Tudo Pela Arte

Ah, o poder da arte… A sua capacidade de mudar vidas, transformar padrões e revolucionar gerações parece tão evidente – afinal, a arte representa a sociedade e permite que a História se eternize -, porém ainda vemos muitos artistas que não têm o merecido reconhecimento… Não obstante, ainda há quem faça questão de observar o crescimento de inovadores e de participar de forma ativa no desenvolvimento do mundo cultural em Portugal.

Joana Féteiro é uma dessas pessoas. Tem 18 anos e é natural de Loures. Atualmente, estuda na Escola Superior de Educação. Contudo, a sua ligação com a arte foi intensificada graças ao seu percurso na Escola Artística António Arroio, onde teve o gosto de conhecer e de apoiar os projetos dos seus colegas, dando origem à vontade de criar algo especificamente para apoiar todos os artistas.

Joana Féteiro, foto cedida.

Atualmente, gere um projeto online chamado Propagandarte, sendo o Instagram a principal plataforma onde partilha os projetos: @propagandarte. Iniciado em 2020, a partir da rede social Instagram, o projeto de Joana tem como principal foco o reconhecimento de artistas que, na sua perspetiva, deviam ter uma maior visibilidade. O seu objetivo é criar um “espaço virtual”, a partir de uma das redes sociais mais utilizadas mundialmente, no qual estejam expostos o máximo de artistas e de trabalhos artísticos, para que toda gente – qualquer pessoa, de qualquer área – possa apreciar, explorar e conhecer o que vê, bem como o seu artista.

Já está a chegar ao “Propagandarte #10” (número de publicações) e já contou com a participação de artistas de música, de streetart, tatuagem, design gráfico e fotografia. 

Como frequentou o curso artístico especializado em Design de Comunicação, conseguiu arrecadar bases e cultura visual para tratar da imagem. No entanto, ainda está no processo de criação de uma identidade visual para o projeto, sendo que vai sempre experimentando designs novos nas publicações, para perceber qual atrai mais o público e qual melhor representa a mensagem que pretende passar.  

Instagram do Propagandarte

Em entrevista à ESCSMagazine, Joana diz que desde o seu ensino secundário teve o privilégio de ter amigos e conhecidos nas diversas áreas artísticas e, à medida que surgiam conversas sobre os seus trabalhos, a curiosidade sobre como é ser artista em cada uma destas áreas foi aumentando.

Como surgiu a ideia para iniciar o Propagandarte? 
“Em 2019 já tinha tido a ideia de criar um podcast, no qual entrevistaria os artistas, mas nunca tive meios ou coragem para o fazer.
No entanto, quando começou o primeiro confinamento comecei a fazer lives com conhecidos meus, entrevistando-os. Seguidamente, passei às publicações, partilhando trabalhos de outras pessoas. Contudo, concluí que, ao fazê-lo no meu perfil pessoal, não lhes ia proporcionar o destaque merecido, pois as pessoas não conseguiam distinguir as publicações do projeto das minhas publicações pessoais.
Sendo assim, dois meses depois, criei o perfil do Propagandarte, onde comecei a fazer estas publicações.”

O que te motivou a iniciar e a investir neste projeto?
“Os meus amigos e conhecidos. Felizmente, e infelizmente, não confio assim tanto no meu instinto, então, antes de publicar seja o que for, converso sempre com os meus amigos e mostro-lhes o que pretendo fazer, para que me dêem as suas opiniões. Não enquanto meus amigos, mas como se fossem seguidores do projeto. Creio que quantas mais opiniões conseguir, mais fácil será prever a adesão do público. Ou seja, o facto de eles terem gostado das minhas ideias e de me terem dito mesmo para avançar com elas, deu-me uma motivação extra para começar. Depois, quando comecei, gostei tanto do que estava a fazer que só pensava em continuar e em investir neste projeto.”

Porquê o Instagram?
“As três redes sociais mais presentes no nosso quotidiano têm sido o Instagram, o Twitter e o Facebook. O Facebook tem sido cada vez menos usado pelos jovens e o Twitter não é uma plataforma onde seja possível publicar textos mais longos, com várias imagens. Quanto ao YouTube, teria de ter equipamento para fazer vídeos e conseguir entrevistar os artistas fisicamente.
Assim sendo, o Instagram acabou por ser a plataforma onde havia mais possibilidades e menos limites para fazer o que eu queria, para além de ser a que eu uso mais.”

Como pretendes desenvolver o projeto, em termos de plataformas digitais?
“Pretendo criar um site que contenha as entrevistas todas, por escrito, porque, apesar de o Instagram ter um menor limite de texto, não chega para eu fazer sequer metade das perguntas que gostaria de fazer aos artistas. Também gostava de ter um podcast, onde pudessem ser gravadas conversas com os artistas, mas de uma forma mais informal. Ou um canal de YouTube, no qual as entrevistas fossem gravadas em vídeo.”

Vi que tens o dia do Partilharte. Com isso, como organizas o projeto?
“Os dias de Partilharte são muito mais frequentes do que as publicações de apenas um artista. Isto porque nos dias de Partilharte apenas são partilhados os trabalhos artísticos, não tendo informações específicas de cada artista. As publicações sobre cada artista são menos frequentes, apenas devido ao tempo que requer para fazer as perguntas certas. Por exemplo, para um artista de música, tenho de explorar todos os seus trabalhos e, a partir daí, basear-me neles para elaborar as perguntas.”

E tens tempo para tudo?
“Eu tive de fazer uma grande pausa neste projeto, porque comecei a ter demasiados trabalhos académicos que me consumiam bastante tempo. Quando tinha tempo livre era praticamente para me distrair ou até apenas para dormir (bem, vida de universitário). Agora que já tudo acalmou e também voltamos ao confinamento, já estou a tentar voltar ao ritmo certo, fazendo uma publicação e um dia de Partilharte por semana.”

Instagram do Propagandarte

Como foi a adesão das pessoas ao teu projeto?
“Como já era esperado, muitos mais artistas aderiram ao projeto do que pessoas fora da área, o que não é algo que eu considere negativo, porque o projeto também é um sítio para os novos artistas irem conhecendo outros, bem como os seus processos, etc. No início, houve muita gente a aderir e a apoiar, mas, ao longo do tempo, foi-se perdendo mais esse apoio, principalmente devido à pausa que fiz no projeto. Contudo, se tiver um ritmo estável, acho que consigo cativar mais os seguidores e atrair novos.”
Procuras por artistas ou eles é que iniciam a conversação?
“Para as publicações individuais tive de ser eu a procurar os artistas e “puxar” a conversa. Mas, nos dias de Partilharte, já tem havido mais artistas a quererem partilhar os seus trabalhos, apesar de mais frequentemente ter de ser eu a procurar e a perguntar se realmente querem partilhar ou não.”

De todos, qual foi o que mais te gratificou fazer?
“Não tenho um em específico, mas fico bastante feliz quando consigo ter a participação de um artista de uma área que ainda não tenha sido mencionada no projeto, por conseguir a diversidade que tanto quero. Também me gratifica imenso quando os artistas que eu já entrevistei continuam a acompanhar o projeto e a mostrar o seu apoio e interesse.”

Qual a importância de publicitar os artistas?
“A perspetiva que eu tenho é de que ser artista a tempo inteiro não é algo fácil, isto porque é preciso algo que os sustente, economicamente e não só, para realmente conseguirem investir o seu tempo todo à sua arte – sendo que a maioria não consegue esse sustento. A visibilidade e o reconhecimento dos artistas pode não resolver isso, mas considero bastante importante.
O facto de nós sabermos que há pessoas interessadas e que valorizam o nosso trabalho dá-nos mais vontade e motivação para continuar. O meu objetivo é esse. Ao publicitá-los, posso angariar mais reconhecimento para os artistas, de forma a que estes não percam essa vontade e motivação. Além disso, uma maior visibilidade também pode trazer diversas oportunidades, inclusive de trabalho.”

Tens alguma ideia para projetos futuros?
“Por enquanto quero manter este projeto como está e fazê-lo chegar às outras plataformas, como referi anteriormente. Mas tenho um sonho: eventos no âmbito do Propagandarte, nos quais fosse possível realizar convívios entre os artistas, atuações e entrevistas ao vivo a artistas já reconhecidos, com o objetivo de mostrar e falar sobre o seu percurso e carreira, para que todos pudessem ver.”

Tens alguma mensagem que queiras deixar ao público sobre o que pretendes demonstrar com o Propagandarte?

A arte tem uma diversidade que a Joana não ignora. Não desvaloriza qualquer forma de arte, desde que seja uma verdadeira representação do artista na sua forma mais genuína. Com isto, Joana tem um sonho: de que todos tenham o merecido reconhecimento e de que sejam valorizados pelas suas criações. Apela à importância em dar uma voz e oportunidade aos artistas da nossa geração. Deste modo, podemos afirmar que o Propagandarte é uma forma de publicidade moderna e um espaço aberto que recebe todas as formas de arte, para que os seus autores sejam motivados a nunca desistirem.

Artigo escrito por Patrícia Pinto

Artigo revisto por Beatriz Campos

AUTORIA

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Patrícia tem 19 anos e veio do Norte. Criada numa aldeia, desenvolveu um amor pela natureza e animais. Estuda Publicidade e Marketing e pretende trabalhar junto de organizações humanitárias. Mudou-se para Lisboa, mas nunca se esquece do seu Porto. Adora dançar, ler e ouvir clássicos de música. Sempre que pode, anda pelas ruas pronta para explorar algo novo e tirar fotos a cada detalhe artístico.