Mindhunter: a série que traçou um perfil comportamental de serial killers
Decapitação, violência sexual, desmembramento, bestialismo e até fetiche por sapatos. São alguns dos temas que funcionam como mote para a série original da Netflix, Mindhunter, que pretende traçar o perfil de alguns criminosos acusados de crimes brutais.
Baseada no livro “Mindhunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit” de John E. Douglas e Mark Olshaker, é uma série original da Netflix de 2017, que tenta traçar o perfil comportamental de serial killers.Mindhunter tornou-se num êxito no que diz respeito a séries de policiais. No entanto, acho que ainda não recebeu toda a atenção merecida. Produzida por David Fincher, produtor do filme “Seven” e por Charlize Theron, atriz do filme “Monster”, a série decorre nos anos 70, mais especificamente em 1977. Ao longo dos episódios, vemos algumas dessas características específicas da época – o principal foco vai para as tecnologias, ainda antigas, que eram utilizadas para traçar o perfil dos assassinos.
Um dos principais focos da série é perceber as motivações de cada assassino: o que os faz tomar certas decisões, os traços de psicopatia que os levam a cometer os crimes e as obsessões que possam ter em comum.
Elogiada até por Stephen King, Mindhunter é o trabalho de análise de personagens mais profundo até agora da Netflix, que liga os detetives que estão a traçar os perfis aos próprios criminosos. Ao longo da série, vamos percebendo que, apesar do papel profissional que demonstram, tanto os detetives como os assassinos começam a construir ligações uns com os outros.
Holder Ford e Bill Tench são os dois detetives do FBI que mereceram destaque na série. Não só pela importância do papel que tinham, mas também pela representação impressionante que fizeram desse mesmo papel. De um lado temos Holder Ford (Jonathan Groff), que é mais velho e experiente e, por isso, por vezes mostra-se mais cauteloso. Do outro, temos Bill Tench (Holt McCallany), um detetive mais jovem, impulsivo e que faz de tudo para obter as informações que quer.
Ambas as personagens foram baseadas em detetives reais do FBI, John E. Douglas e Robert K. Resseler, respetivamente, que tiveram um papel importante nos perfis psicológicos de criminosos perigosos. A juntar-se aos dois detetives que estudam Ciência Comportamental surge uma psicóloga mais experiente, Wendy Carr, que ajuda os dois elementos do FBI num nível mais académico para a construção dos perfis.
Para traçar os perfis, os detetives viajaram por grande parte dos Estados Unidos da América para realizarem entrevistas a criminosos culpados de assassinatos brutais. A intenção era fazer com que a sociedade e o próprio departamento policial americano compreendessem que os crimes não eram apenas circunstanciais – havia sempre alguma motivação que os levava a fazer o que fizeram.
Mindhunter acaba por ser dividido em duas partes: montar uma identidade para os assassinatos e tentar definir um padrão; e desenvolver o talento e a relação da dupla do FBI, uma vez que era baseada em agentes reais e que tiveram um papel muito importante nos perfis. Aliás, foi nos anos 70 que o termo serial killer começou a ser abordado.
Se procuras uma série em que tudo se passa de forma muito rápida, então Mindhunter não é a série ideal para ti. O realizador queria dar tempo às personagens. O importante era perceber quem eram e o que as levou a tomar certas decisões que traçaram o seu destino.
Os diálogos nas entrevistas são extensos, mas fazem-nos entrar de tal forma na entrevista que é impossível descolar do ecrã. Os nossos olhos e ouvidos estão sempre alerta a tentar perceber e analisar o próprio assassino. Tentamos fazer nós próprios o papel de caçador de mentes. Os diálogos extensos tornam-se análises muito profundas da vida e das intenções dos entrevistados.
Não há exageros. Não há sangue. Não há violência. O realizador não precisou de usar imagens chocantes para atrair o público. Os diálogos, as descrições demasiado pormenorizadas e até a própria representação dos atores fizeram com que a série agarrasse o espetador sem qualquer esforço. Também os planos e os cenários mórbidos deram mais intensidade a tudo o que estava a acontecer.
Esta é uma série que afeta o nosso psicológico e isso foi também passado para os detetives. Depois das entrevistas que faziam, eles próprios começavam a ter os pensamentos dos criminosos. O “horror” vinha daí. Vinha das falas e das descrições frias e sem sentimento ou remorso que os assassinos faziam dos crimes que tinham cometido.
Não se procura arranjar culpados ou descobrir algum mistério. O importante é realmente traçar os perfis comportamentais e perceber o psicológico das personagens.
Mindhunter conta apenas com uma temporada com dez episódios. Quando damos por nós, estamos tão envolvidos na história e no que vai acontecer a seguir que queremos sempre ver mais. É uma série que agarra do princípio ao fim, principalmente no final, que deixou tudo um bocado em aberto. Seria de esperar uma segunda temporada, certo? Claro que sim!
A produtora ouviu as preces e anunciou uma segunda temporada, que em princípio vai estrear em agosto de 2019. Portanto, se não viste a primeira temporada, ainda vais a tempo. Prepara-te para te tornares no próximo caçador de mentes.
Fonte da thumbnail: Netflix
Revisto por Catarina Santos