Editorias, Opinião

Se as mulheres mandassem…

Com a nova entrada de mulheres no governo, o reincidente debate sobre o papel (quase inexistente) do sexo feminino no poder reacende-se a todo o vapor. Apesar da maior recorrência destas situações, continuam a ser fenómenos demasiado esporádicos e que mostram o ainda machismo patente na cultura portuguesa e mundial. Houve evolução, isso é inegável, mas há preconceitos profundamente enraizados, não só na nossa sociedade, como nas próprias normas legais que a regem.

Ofereço apenas o seguinte exemplo: se for retirada toda e qualquer emoção ao casamento e nos restringirmos aos factos puramente racionais, este ato nada mais é senão um registo de propriedade. A mulher deixa de ser ela para ser ela + ele. Aceita por via legal ficar com o nome do homem de forma vinculativa, passando a ser chamada por senhora “homem” em vez da sua própria identidade. Que razão poderá haver senão uma dominação ativa do homem sobre a mulher?

A mulher é, na generalidade, mais esperta, muito menos violenta e possui uma capacidade intrínseca de executar mais do que uma tarefa em simultâneo, sendo ideal para os cargos de alta gestão. A minha pergunta é: para quando as mulheres no poder? Há alguma dúvida de que 90% destas guerras nojentas, em que não há nações inocentes, não existiriam sequer?

Eu não sou feminista, sou ultrafeminista! Já foi provado vezes e vezes sem conta que as mulheres fazem um trabalho igual e muitas vezes superior ao nosso quando lhes é permitida essa possibilidade. Portanto, para quando?

Muito se fala nas questões de igualdade: eu concordo com o caminho trilhado até então, mas discordo por completo com a premissa. Igualdade? Nós não somos iguais, vocês são claramente mais evoluídas! E é na igualdade que se encontram diferenças óbvias, usadas e abusadas na retórica oca de (muitas) pessoas. Quando se dá exemplos de que o homem é simplesmente mais rápido ou mais forte que as mulheres. Por essa linha de pensamento, então o urso polar estaria no comando hierárquico natural.

A igualdade é um passo necessário, o processo é ridiculamente lento para permitir saltos lógicos maiores do que um passo de uma formiga mas se calhar é mesmo disso que estão necessitadas.

Algumas das grandes transformações no mundo foram repentinas, logo ninguém pode cometer a ousadia de matar esta ideia antes mesmo de existir. Perdoem-me o extremismo, sou normalmente o primeiro critico do mesmo, seja em que circunstância da vida. Infelizmente, a constante e imutável imbecilidade do homem não tem limites.

Vivi a maior parte da minha vida (e toda a minha memória) no século XXI, crescendo com a crença que o decorrer de milhares de anos tinha permitido, à espécie humana, uma evolução, tornando-a mais sábia, reduzindo a guerra e projetando uma paz duradoura e final para o futuro. Como era ingénuo. Nasci no século mais sangrento da História, e, à medida que a borracha do tempo nos faz esquecer, mais um século negro se apresenta no horizonte. Às vezes tenho vergonha, outras somente pena do potencial que mandamos literalmente para os esgotos, transformando-se em…

Pretendo concluir com uma mensagem de esperança e, já que na vida o importante não é como se começa mas como se acaba, apelo a todas as mulheres: lutem pelos vossos direitos e ambicionem mais do que a igualdade, pois é o mundo inteiro que precisa desesperadamente dessa mudança!

Um homem desiludido.

(O João Garrido escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico)