Silêncio, que se vai ver o Fado
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado.»
Retratos de grandes nomes do fado construídos com materiais reciclados: é isto que constitui a exposição «Somos Fado, parte I». Da autoria de Pedro Guimarães, o trabalho encontra-se presente no Museu do Fado, desde o dia 19 de março até ao dia 18 de setembro.
Carlos Paredes, Alfredo Merceneiro, Camané, António Chaínho, Cuca Roseta e Carminho são apenas algumas das personalidades representadas e os suportes são vários.
Num momento inicial, o que mais chama a atenção do visitante é a peça que se encontra na entrada do Museu – Amália Rodrigues representada numa instalação de 70 guitarras portuguesas e violas de fado. «Uma instalação que é também um instrumento musical». Esta funciona como impulso para o visitante se dirigir ao piso inferior. Aqui, encontramos o conjunto de obras que constituem «Somos Fado, parte I».
Pedro Guimarães revela-se inovador no que diz respeito às técnicas utilizadas, apresentando os seus trabalhos de uma forma diferente do que é considerado normal.
Num primeiro momento, somos confrontados com a técnica 3VD (três vistas diferentes). Esta representa três imagens numa só, obrigando o observador a movimentar-se; dá-se, assim, uma interação entre quem vê e aquilo que vê – tal como pode ser visto nas imagens 2, 3 e 4, as quais apresentam Ana Moura e Marco Rodrigues.
Num segundo momento, o visitante depara-se com a presença de um retrato feito a partir de tiras de tela, que foram entrelaçadas e, posteriormente, pintadas. Ao lado desta, encontra-se uma pintura feita sobre tiras de madeira colocadas verticalmente a diferentes alturas – imagem 5, que apresenta António Chaínho e António Zambujo.
Pedro Guimarães recorre ainda às sobras da esquadria da madeira, que provêm das grades das telas que o próprio artista faz. A construção do retrato através destes materiais representa uma «ponte entre a dificuldade de concretização da obra e a descoberta de quem a observa». O protagonista escolhido para a utilização desta técnica foi Rodrigo, apresentado na imagem 6.
Mas o que mais destaque teve foi a utilização da renda, tipicamente portuguesa, no retrato de personalidades como Camané, Mariza e Carminho. A renda, relembrando os xailes utilizados pelas fadistas, pretende, neste caso, «evocar a alma fadista, conferindo uma autenticidade linguística em que a saudade espreita», revela o Museu. Na imagem 7, podemos observar o retrato de Camané.
«Somos Fado, parte I» pretende, assim, recriar o universo fadista, apresentando os protagonistas que lhe deram e dão vida. Através de contrastes cromáticos e técnicas inovadoras, Pedro Guimarães faz um apelo para que se ouça, se sinta e se visite o fado; um apelo silencioso, mas cheio de textura e cor.