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“Sou muito feliz a fazer o que faço e isso é uma grande sorte” – Nuno Reis

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“A voz”
Sabem aquela voz que aparece naquelas publicidades de televisão? Sim, aquela inconfundível e extremamente familiar. É de um apaixonado por música cujo habitat natural é a rádio. Com mais de 20 anos de trabalho, Nuno Reis já ganhou o seu lugar ao sol. Para ele esse lugar foi ter conquistado a credibilidade e confiança dos seus ouvintes. Um lugar ao sol para ele caracteriza-se também por ter sempre feito aquilo que mais o apaixona.

Ainda na sua adolescência, “a voz” da RTP, como é muitas vezes chamado, começou por conhecer o frenesim e a adrenalina de uma rádio como a TSF. Foi este ano e meio na TSF que mais o marcou e moldou na rádio: “Acho que foi a rádio onde aprendi mais”.

Alguns dos exemplos que segue enquanto profissional da rádio são: António Sérgio, Ricardo Saló, Rui Morrison, Henrique Amaro e Nuno Santos – “Se tivesse de nomear um seria António Sérgio.

Teve oportunidade de estar em diferentes rádios: da TSF saltou para a XFM, depois foi para a Comercial. Atualmente está na RTP e é diretor da Antena 3, cargo que aceitou de bom grado por sentir que tinha carta-branca para fazer mudanças que sentia que eram necessárias. “Foi-nos dada muita carta-branca e isso é estimulante”. Sempre teve muitas ideias e poder pegar num projeto e poder fazê-lo crescer – “é um grande prazer”.

Marcas como a BMW, Nurofen, Continental, Cin, Benfica e Continente são apenas algumas das que utilizam a voz de Nuno Reis nas suas publicidades. Hoje é a voz da RTP, no passado foi a voz da SIC.

A Antena 3
Para Nuno Reis, o dia-a-dia na Antena 3, que tem tido alterações, é a descobrir música, um bocadinho de todo o mundo. É para ele um dia-a-dia de muitas conversas, de preocupações e de grandes ideias que se querem pôr em prática. O diretor da Antena 3 referiu que também o site da rádio vai sofrer algumas alterações.

A Caixa de Ritmos acompanha Nuno desde o início e sempre cumpriu a missão de divulgar boas músicas. “É um programa que para mim é muito querido. Já o faço há muitos anos. Tenho um cuidado semanal de arranjar novidades e boas músicas.” Para ele o apoio que sente do público que é fiel ao seu programa é algo que o motiva a fazer mais e melhor – “Sentir que tenho um backup de seguidores é muito estimulante”.

Nuno Reis por vezes sente que não dá conta do recado, isto porque a evolução da indústria musical torna complicado estar a par de todas as músicas e de todos os projetos. É uma “cascata de música tão difícil de acompanhar”. Por isso, quando está a acabar o ano, o radialista faz sempre um balanço com os temas que escaparam à Caixa de Ritmos, “é uma espécie de mea culpa

O seu ponto de vista
“A voz” não tem qualquer problema em admitir os seus erros. Ninguém é perfeito segundo ele e quando vê pessoas que nunca falham faz-lhe um bocadinho de confusão.

A rádio tem vindo a evoluir e passou-se de telefonemas a um contacto entre locutores e ouvintes muito mais próximo. Tudo devido à internet. Essa proximidade, uma quase humanização, é algo que Nuno Reis aprecia muito.

O lado multimédia é cada vez mais importante na rádio” – No caso da Antena 3, Nuno Reis contou-nos que se está a apostar cada vez mais nesta vertente.

Tal pai, tal filho
Nuno tem um filho pequeno e diz que acha engraçado explicar ao filho de sete anos que ganha a vida a passar a música, é algo meio estranho de se explicar e de se entender para o locutor. “A voz” não quer que o filho lhe siga as pisadas mas sim que escolha algo que o faça feliz. No entanto, Nuno diz: “Eu acho que ele já tem uma voz grossa como eu”, e por isso se ele vier para a rádio, voz já tem.

A rádio tem um papel fundamental na vida de Nuno e fez dele o homem que é hoje. Já faz parte de si, é algo que lhe é inato e o moldou por completo.

Já pensou noutros caminhos, aliás, o seu novo cargo passa por um caminho diferente. No entanto, nunca deixa de ter uma ligação à rádio.

A rádio não deixa de ser alguém sentado ao microfone, a passar músicas”, e é com isso que Nuno se identifica. Não é tanto o comunicar na rádio mas sim a vertente musical que mais o apaixona.

Um dos programas que mais gostava de ouvir era o “Morrison Hotel”, na Comercial, porque Rui Morrison só falava no início e final do programa e pouco mais. Quando falava dizia o que era preciso e isso sempre apaixonou Nuno Reis.

O lado humano da rádio é absolutamente fundamental. É isso que segura a rádio”. Este é o ponto de vista do radialista e uma das razões pelas quais ouve rádio. Também tem o seu iPod com as suas músicas, mas saber que há alguém atrás do microfone e que está a passar música para nós diferencia e valoriza a rádio.

E será que as músicas que Nuno Reis passa no seu programa vão ao encontro do seu gosto pessoal? “Não”, também vão mas nem todas agradam ao radialista. O programa que tem, “Seleção Natural”, é uma recolha de várias sugestões dos animadores da Antena, “é uma espécie de nações unidas da música”. Por isso, é natural que haja uma música ou outra que não aprecie tanto. Não são escolhas só suas, é um trabalho de equipa.

O que mais o apaixona é viver, mas diz: “Gosto muito de não pensar muito nisso”. Ouvir música, viajar, entre outras coisas, também o apaixonam, porém, está sempre tudo ligado à rádio.

Nos seus dias menos bons, “a voz” pensa na sorte que tem por ter feito sempre aquilo que quis fazer. A vida tem-lhe corrido bem e as coisas foram surgindo. Já esteve no arranque de vários projetos e isso é, para si, motivo de orgulho.

No futuro, ambiciona fazer o mestrado em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. Lá, tem professores de quem ficou amigo – até joga ténis com eles de vez em quando – e espera ter tempo para isso brevemente.

Sente que os próximos passos da rádio serão de mãos dadas com a televisão. Ou seja, programas de rádio que possam ser transformados em programas de televisão e vice-versa. Uma parceria que pode acrescentar muito aos dois meios de comunicação, na opinião do diretor.

A imagem e o grafismo estão a faltar à rádio e são componentes muito importantes. Para Nuno Reis este é o futuro.

Numa empresa como a RTP, as barreiras entre a televisão e rádio cada vez vão sendo mais diluídas. Deixa de haver pessoas da rádio e pessoas da televisão para passar a haver produtores de conteúdo.

É preciso tentar ser diferente, tentar arriscar e é isso que os mais novos trazem à rádio. O intercâmbio de experiências entre os mais novos e os mais velhos traz novas ideias e inovação, Nuno Reis acha isso ótimo.

Teve um percurso, para ele, estimulante, variado e recheado de desafios.

O que mais o orgulha na sua profissão é o respeito que sente que os ouvintes da Antena 3 já nutrem por si, essa credibilidade que conquistou. Não sente medo de que a sua credibilidade seja afetada porque se falhar só tem de admitir o erro e seguir em frente, não é nada do outro mundo.

No fim do dia, estamos só a falar de música”, é assim que Nuno Reis encara o que faz, com simplicidade e descontração.

Sonha um dia ir à Namíbia devido aos contrastes que este país tem.

Um conselho à próxima geração de radialistas é: ouvir, ouvir muita rádio, mas também conhecer as pessoas, a rádio, e saber muito sobre esta área. É preciso perceber a rádio acima do fascínio que se possa ter por ela.

“Não sou tudo o que quis ser, isso era limitador. Mas em termos profissionais, sim, preencho-me muito. Sou muito feliz a fazer o que que faço e isso é uma grande sorte.” (sic)