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Sustentavelmente Falando

No passado dia 6 de abril, o foyer -1 na ESCS deu lugar ao “Sustentavelmente Falando”, organizado pela ESCS Mais Limpa e pela Bright Lisbon Agency. As respectivas presidentes, Mariana Alves e Mafalda Miranda, abriram o evento e deram início às talks que decorreram durante a tarde. Os temas abordados passaram pelo desperdício alimentar até à comunicação do tema da sustentabilidade.

Como parceiros deste evento, estiveram a Mercearia Frutas Legumes Bio, uma loja de produtos totalmente biológicos da margem sul, e a Junta de Freguesia de Benfica e o NewB, que disponibilizaram uma doação de fruta. O coffee break foi marcado por uma mesa composta por produtos anti-desperdício de pastelarias e também com produtos sustentáveis da mercearia.

Fonte: Instagram ESCS Mais Limpa
Fonte: ESCS Mais Limpa

Primeira Talk: No caminho para o combate do Desperdício Alimentar

A moderar a primeira talk sobre desperdício alimentar, esteve presente a Leonor Terrinca, estudante de Relações Públicas e Comunicação Empresarial, acompanhada pela Carolina Baptista, Marketing Project Manager da Too Good to Go, e ainda Hunter Halder, Presidente da Refood.

Fonte: ESCS Mais Limpa

Empresas que revolucionaram a consciência de desperdício

Carolina posiciona a Too Good to Go como muito mais do que uma aplicação que salva refeições e alimentos de qualidade de serem desperdiçados. A verdade é que a mudança não se consegue exclusivamente a dar uma ferramenta de impacto. A educação é algo que demora tempo e é preciso investimento e trabalho a longo prazo para consciencializar as pessoas.

Hunter, no contexto de reinvenção da cadeia, não existindo alternativas e com os efeitos da crise financeira mundial em 2010, criou a Refood, que resgata alimentos e refeições das mais variadas superfícies para eliminar o desperdício e alimentar os mais necessitados. Hoje, conta com mais de 7500 voluntários em 60 núcleos.

Fonte: JPN – JornalismoPortoNet
Fonte: Barlavento – SAPO

Estarão os portugueses a mudar os seus hábitos?

A situação pandémica levou muitas pessoas a refletir sobre o seu estilo de vida e hábitos de consumo. A previsões é de que o consumidor acaba por ficar mais consciente pelas informações disponíveis. A prova disso é que a aplicação Too Good To Go, que chegou a Portugal em 2019,  e já tem lá 10% dos portugueses.

Hunter mencionou que os episódios flagrantes de desperdício alimentar, aos quais há dez anos ninguém ligava, hoje são expostos nas redes sociais, mostrando a real indignação das pessoas perante este tema. Além disso, a adesão de restaurantes a este formato anti-desperdício tem sido bastante positiva.

Carolina deu ênfase ao fato de que ninguém gosta de desperdiçar comida, mas questiona se temos noção da dimensão do problema. Em três pratos de comida é mais do que um prato que vai para o lixo automaticamente. A produção em quantidade não é inteligente, pois acarreta custos para as empresas. Em último caso, estas podem não vender as Magic Boxes na To Good To Go ou a Refood pode não ter alguém para recolher. O combate ao desperdício alimentar em Portugal passa por um trabalho articulado com as marcas, pessoas e governos.

Fonte: ESCS Mais Limpa

Entender as dimensões da sustentabilidade dos alimentos

É importante incutir nas pessoas, desde tenra idade, o respeito pela comida e de todas as dimensões do sustentável, desde a sazonalidade dos produtos, à origem e a como se comportam as datas de validade. A Too Good to Go tem evoluído na parceria com marcas que investem na inserção de um selo que apela ao uso dos sentidos, além da informação da data de validade. Nos supermercados já é habitual ver os alimentos com validade inferior, em promoção. Porém, é fundamental a educação dos consumidores para uma melhor leitura dos rótulos, da validade, entre expressões como  ‘’expira a’’ ou ‘’consumir antes de’’.

Selo anti-desperdício da Too Good to Go
Fonte: NiT

Segunda Talk: Desafios ao comunicar a sustentabilidade

A segunda talk, com o tema da comunicação em sustentabilidade, foi moderada por Ana Rita de Matos, estudante de Publicidade e Marketing, que esteve acompanhada pela Catarina Barreiros, Influenciadora Digital e fundadora da loja Do Zero, Inês Pereira, Communications Officer na Associação ZERO, e pelo Professor de Jornalismo Francisco Sena Santos.

Fonte: ESCS Mais Limpa

Dar tempo de antena à sustentabilidade

Na opinião de Francisco Sena Santos é necessário dar uma atenção sistemática ao quadrilátero da sustentabilidade, ambiente, clima e energia. Hoje, o jornalismo está muito afunilado, há um retrocesso. Há dois anos, era difícil escapar de notícias sobre a pandemia; agora, tudo é guerra. Ou seja, estamos cercados por uma “notícia única”, que nos tira perspetiva do mundo. Os temas da sustentabilidade passam quase despercebidos em rodapé de noticiários. Falta diversidade – a questão ambiental está a ser negligenciada.

Os media deveriam criar uma consciência de sustentabilidade, chamar a atenção para os problemas da qualidade de vida associados ao planeta. As catástrofes ambientais estão à vista de todos. Em época de crise, na Europa Central, já se fala em transição energética. É necessário haver tempo de antena para estes assuntos. A crise climática está aí e a desinformação é o pior inimigo, afirma Catarina.

Os maiores desafios de comunicar a sustentabilidade

Na era da cancel culture, Catarina afirmou que, enquanto comunicadores, não temos acesso à informação toda, nem 100% de certeza a todo o tempo. Quando assumimos que podemos falhar, somos mais corretos na maneira como comunicamos. Existe a necessidade de nos rodearmos de pessoas diferentes de nós e de estudar muito sobre todos os temas. Afinal, o que é que sabemos comparando com cientistas que estão há 10 anos a estudar temas muito específicos, como o óleo de palma?

Como profissionais de comunicação temos de recorrer a fontes credíveis para conseguir passar uma mensagem de um tema tão complexo como a sustentabilidade. A sustentabilidade abrange biodiversidade, clima, direitos, economia, a vertente social. Se tudo é sustentabilidade, então, é muito complicado comunicar este tema. O exercício a ser feito é abordar assuntos focados, concretos e dar as fontes.

Fonte: DoBem

Alargar o interesse e chegar a um público mais abrangente

Segundo Inês, um dos grandes desafios da ZERO tem sido promover este debate de uma forma mais transversal e chegar ao português comum. O apoio mediático é fulcral para pôr o tema da sustentabilidade na agenda. Abrir o espectro e passar para a faixa a seguir, não limitando a comunicação apenas aos ativistas do clima.

Sena Santos revelou que as redes sociais têm tentado suprir as carências do jornalismo, tratando do tema da sustentabilidade com mais primazia, através de podcasts, como o da Associação ZERO ou de criadores de conteúdo, como a Catarina. Inês relatou que o Podcast da ZERO, Zona ZERO, é um espaço dedicado a desconstruir os mitos e a ajudar a compreender os factos sobre a sustentabilidade. Atualmente, é dinamizado pela “prata da casa”, mas pretende ser alargado a um conjunto de convidados mais amplo.

Fonte: LinkedIn

As fake news e a sustentabilidade

O jornalismo deve combater a desinformação, mas peca na virtude da credibilidade. Os relatórios do clima que chegam às redações são transformados em manchetes sensacionalistas, como: ”Só temos mais 13 anos de qualidade de vida”. Há interpretações distorcidas da realidade, a informação é complexa e há que dar tempo para a desmontar e analisar bem os dados recebidos para comunicar melhor. Inês afirmou que é essencial dar voz às histórias para ganhar credibilidade e a transformação chegar a mais pessoas, assim como já acontece nas redes sociais.

Catarina reforçou que o consumidor é cada vez mais exigente e quer estar informado em relação aos produtos e serviços, para fazer as melhores escolhas. Por outro lado, este tem menos tempo. As marcas devem ser mais transparentes, expondo a sua pegada de carbono e hídrica, assim como o seu impacto social. Contrariamente, não estaremos a respeitar os limites do planeta.

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Continua a #SerMudança.

Redigido por Ana Sofia Silvério (ESCS + Limpa)

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

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