Cinema e Televisão

The Substance – respeita o equilíbrio

Já sonhaste com uma melhor versão de ti próprio? Se já, o filme The Substance é perfeito para ti. Produzido por Coralie Fargeat e interpretado por Demi Moore e Margaret Qualley, o filme entrega um espetáculo cinematográfico nunca antes visto.

Fonte: YouTube

O drama acompanha Elisabeth Sparkle (Moore), uma estrela de Hollywood em declínio que, desesperada por rejuvenescer a sua carreira e imagem, recorre a uma “substância” que irá criar uma nova versão de si. Essa versão, Sue (Qualley), mostra ser a idealização de Elisabeth – mais bonita, mais jovem – quase recém-nascida. Contudo, ambas as versões precisam de coexistir entre si, sendo elas até a “mesma pessoa”, apenas em corpos diferentes. À medida que o filme avança, as tensões entre ser Elisabeth e Sue tomam conta de cada uma, revelando a fome da busca pela perfeição que ambas procuram. 

Demi Moore entrega uma performance fenomenal, caracterizada pelos seus momentos de fragilidade, raiva e angústia. A identidade de Elisabeth foi construída à volta de «ser bonita e atraente», sendo agora ameaçada com o envelhecimento. Já Margaret Qualley entrega um ícone, a “cara” da perfeição, que, na verdade, também se prende às expectativas e ideais de Elisabeth. A dinâmica entre as personagens acaba por espelhar o problema que muitos sofrem hoje em dia.

Fonte: Variety

Visualmente, The Substance toma rédeas mais radicais, fazendo recurso a cores mais saturadas, ângulos que nos passam um sentimento de claustrofobia e uma edição que cria um ambiente perturbador, e a banda sonora (marcada, também, pela canção Pump It Up) enfatiza ainda mais o desconforto que o espetador já está a sentir. O uso do body horror denota o filme em todas as medidas, especialmente os 30 minutos finais, onde a transformação de Elisabeth atinge novos patamares.

Fonte: Collider

The Substance é, obviamente, uma crítica aos padrões de beleza e às expectativas que são impostas hoje em dia. O filme, que, neste caso, retrata a perspetiva de duas mulheres, revela as preocupações que Elisabeth e Sue têm que tomar: por um lado, Elisabeth, que perde o trabalho por já estar mais velha e não ser considerada «bonita» o suficiente, sente a necessidade de renascer; por outro, Sue faz todos os possíveis para não ser o que Elisabeth alguma vez foi. 

O filme denuncia ainda o culto à perfeição e as armadilhas do idadismo, destacando como a sociedade utiliza a aparência como moeda social. A crítica de Coralie Fargeat não se limita ao mundo das celebridades; atinge todos os que são seduzidos por esta promessa de juventude eterna, seja ela por meio de tecnologia, cosmética ou cirurgias. 

Fonte: Marie Clarie

The Substance, classificado como um filme de terror e ficção científica, vai muito para além disso: é um lembrete que nos faz pensar sobre a nossa própria identidade. Coralie Fargeat obriga-nos a confrontar o desconforto de nossa própria cumplicidade neste ciclo. E, assim, venceu o prémio de Melhor Guião no Festival de Cannes, criando uma obra necessária para quem queira uma experiência intensa que nos faça refletir.

Fonte da capa: Heaven of Horror

Artigo revisto por Mariana Céu

AUTORIA

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O Miguel tem 18 anos, é de Lisboa, e é um rapaz criativo, alegre e empenhado. É um grande amante de moda, música e cinema. Foi uma viagem a Nova Iorque que sedimentou o que queria fazer no ensino superior. Está no primeiro ano da licenciatura de Jornalismo, e, sendo honesto, escrever nunca foi um dos seus grandes hobbies, mas vê a ESCS Magazine como uma oportunidade de crescer, e de se sentir próximo ao que mais lhe interessa em termos de futuro: trabalhar na revista Vogue.